Em meio a relatos de que 100 mil palestinos foram instruídos a deixar a cidade de Rafah antes de uma operação militar israelense, autoridades humanitárias da ONU reforçaram na segunda-feira que não têm intenção de abandonar o local.
A Agência de Assistência e Obras das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos, Unrwa, afirmou que “uma ofensiva israelita em Rafah significaria mais sofrimento e mortes de civis”, acrescentando que as consequências seriam devastadoras para 1,4 milhões de pessoas.
Um acordo para “acabar com o sofrimento”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, reiterou o seu apelo urgente ao governo israelita e aos líderes do Hamas para que façam “um esforço extra para chegar a um acordo e acabar com o sofrimento”.
Guterres disse estar profundamente preocupado com as indicações de que uma operação militar em grande escala em Rafah era iminente.
Segundo agências de notícias, o líder supremo do Hamas, Ismail Haniyeh, confirmou a aceitação do grupo aos termos do cessar-fogo de Israel, num processo mediado pelo Qatar e pelo Egipto.
No entanto, notícias da imprensa indicam que a liderança de Israel sinalizou que a proposta do Hamas fica muito aquém das suas exigências. O país declarou que pretende continuar as negociações de cessar-fogo, mas que também continuará com a operação em Rafah.
Corredores de evacuação minados
A Unrwa afirmou que não evacuará o seu pessoal e “manterá presença em Rafah durante o maior tempo possível” para continuar a prestar serviços de resgate e ajuda às pessoas.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, alertou que “um cerco militar e uma incursão terrestre em Rafah representaria riscos catastróficos para as 600 mil crianças” abrigadas na cidade mais meridional de Gaza.
Muitos deles “são altamente vulneráveis e estão no limite da sobrevivência”, afirmou a agência da ONU num comunicado, destacando o aumento da violência em Rafah e o facto de potenciais corredores de evacuação estarem “provavelmente minados ou repletos de munições não detonadas”. .
A Unicef acrescentou que qualquer movimento militar em Rafah resultará num número muito elevado de vítimas civis e, ao mesmo tempo, destruirá “os poucos serviços básicos e infra-estruturas restantes” de que as pessoas precisam para sobreviver.
Intimidação e ameaças contra profissionais da ONU
A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, disse que muitas crianças foram “deslocadas diversas vezes e perderam casas, pais e entes queridos”. Ela disse que milhares de crianças estão “feridas, doentes, desnutridas, traumatizadas ou vivendo com deficiências”.
No domingo, a Diretora Executiva do Programa Alimentar Mundial da ONU, Cindy McCain, destacou preocupações sobre as restrições de ajuda e atrasos impostos por Israel.
O Comissário Geral da Unrwa, Philippe Lazzarini, disse que “as autoridades israelenses continuam a negar o acesso humanitário às Nações Unidas”.
Explicou que nas últimas duas semanas foram registados 10 incidentes envolvendo disparos contra comboios, detenções de funcionários da ONU, incluindo intimidação, despojamento, ameaças com armas e longos atrasos nos postos de controle. Estes acontecimentos obrigaram os comboios de ajuda a deslocarem-se durante a noite ou a abortarem as missões.
O chefe da Unrwa também condenou os ataques com foguetes na passagem de Kerem Shalom, que supostamente mataram três soldados israelenses, levando ao seu fechamento. A travessia é um importante ponto de entrada para a ajuda humanitária.
“Al Mawasi não é seguro”
De acordo com relatos de agências de notícias, panfletos lançados pelos militares israelenses acima do leste de Rafah aconselhavam as comunidades a se mudarem para a chamada zona segura de Al Mawasi, a oeste de Rafah, ao longo do Mar Mediterrâneo.
Os profissionais humanitários da ONU rejeitaram anteriormente iniciativas de evacuação semelhantes levadas a cabo pelos militares israelitas, dizendo que equivaliam a uma deslocação forçada.
A representante de comunicações da Unrwa em Gaza, Louise Wateridge, disse que “em “Al Mawasi, há uma grave falta de infra-estruturas suficientes, incluindo água”.
Mais de 400 mil pessoas já estão abrigadas na região costeira, de acordo com a última avaliação da agência da ONU, que relatou um afluxo de pessoas deslocadas da cidade vizinha de Khan Younis.
Para apoiar esta população, a Unrwa tem dois centros de saúde temporários em Al Mawasi, juntamente com outros pontos médicos recém-criados na área.
A porta-voz da Unrwa, Juliette Touma, disse que Al Mawasi “está longe de ser seguro, porque nenhum lugar é seguro em Gaza”.
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