Impasse político na Líbia é agravado por interesses externos, diz enviado da ONU

O representante especial do secretário-geral na Líbia, Abdoulaye Bathily, disse em entrevista à ONU News que não será possível chegar a uma solução no país enquanto “houver monopolização do processo político”.

O representante da ONU, que está a terminar o seu mandato, alertou que os líderes de transição do último período continuaram a competir e não estavam realmente interessados ​​na estabilidade do país.

Tentativas de diálogo

A nação rica em petróleo tem enfrentado múltiplos desafios desde a derrubada do Presidente Muammar Gaddafi em 2011. O adiamento das eleições nacionais, originalmente planeadas para Dezembro de 2021, aprofundou ainda mais a crise.

Em Novembro passado, o representante especial convidou os líderes das cinco principais instituições da Líbia para diálogos para superar o impasse. Participaram o Governo de Unidade Nacional, a Câmara dos Representantes, o Alto Conselho de Estado, o Exército Nacional da Líbia e o Conselho da Presidência.

Na entrevista à ONU News, Bathily observou que estas figuras-chave na Líbia “ainda não estão dispostas a participar num processo de negociação abrangente ou num acordo de paz”.

Apelou aos actuais líderes para “terem consciência da história e pensarem no futuro do país”, pedindo-lhes que assumam responsabilidade moral.

Interesses geopolíticos de potências regionais e internacionais

O representante especial alertou que há um interesse renovado na posição geopolítica da Líbia por parte de uma série de potências regionais e internacionais. Ele disse que isto é o resultado de uma série de crises internacionais e regionais, incluindo a guerra na Ucrânia, o agravamento das crises em países como o Mali e o Burkina Faso, e o afluxo de refugiados ao Chade.

Bathily sublinhou que enquanto os principais partidos na Líbia forem apoiados de uma forma ou de outra por partidos externos, “não será possível ter uma solução”.

O chefe da Missão das Nações Unidas na Líbia disse que a situação de segurança se tornou mais preocupante para os cidadãos à medida que diferentes grupos competem por “mais poder e mais controlo sobre a riqueza do país”.

Espaço democrático “encolhendo cada vez mais”

Acrescentou que “os líbios aspiravam à democracia e à liberdade, mas com as rivalidades entre líderes, as tensões crescentes e a competição entre grupos armados”, o espaço democrático está “cada vez mais a encolher”.

Na avaliação do representante da ONU, “a Líbia retrocedeu”, pois há mais pobreza, insegurança e menos democracia.

Bathily, que já apresentou a sua demissão ao Secretário-Geral da ONU e se prepara para renunciar em breve, desejou sucesso ao povo líbio, “que merece paz, prosperidade e progresso”.

Entre outras questões urgentes na Líbia está a questão da migração, como explicou o alto funcionário da ONU. Ele afirmou que o país se tornou cada vez mais “um estado mafioso dominado por uma série de grupos envolvidos em muitas operações de contrabando, incluindo o tráfico de seres humanos e minerais, como ouro, e o contrabando de drogas”.

o procurador do Tribunal Penal Internacional, TPI, Karim Khan

Progresso nas investigações do TPI

Por outro lado, o procurador do Tribunal Penal Internacional, TPI, Karim Khan, relatou “fortes progressos” nos últimos meses em relação às investigações conduzidas pelo seu gabinete na Líbia.

Numa reunião do Conselho de Segurança esta terça-feira, disse que a Equipa Unificada das Nações Unidas na Líbia realizou 18 missões em 3 regiões e recolheu mais de 800 provas, incluindo materiais visuais e sonoros, bem como mais de 30 declarações e testemunhos através de de entrevistas.

As investigações estão relacionadas com alegados crimes cometidos em centros de detenção entre 2014 e 2020, e foram estabelecidas com base na Resolução 1970 do Conselho de Segurança.