Níveis elevados de glicose e triglicerídeos no sangue, bem como baixos níveis de HDL (colesterol bom), podem afetar o cérebro e, portanto, a saúde mental. Um estudo publicado em abril na revista acadêmica Jama Network Open reforça que existe uma associação entre a saúde metabólica e o risco de desenvolver doenças como depressão e ansiedade.
Já havia evidências dessa relação, mas ainda era inconsistente. Para tentar fornecer mais dados sobre o tema, pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, acompanharam cerca de 200 mil pacientes ao longo de 21 anos. Todos fizeram parte de um estudo denominado Amoris (Apoliprotein-Related Mortality Risk Cohort), que incluiu a monitorização dos níveis de lípidos, hidratos de carbono e apoliproteínas (proteínas que se ligam aos lípidos) no sangue. Em seguida, os autores cruzaram essas informações com diagnósticos de depressão, ansiedade e transtornos de estresse desses voluntários.
Ao final do acompanhamento, níveis elevados de glicemia e triglicerídeos foram associados a maior risco de desenvolver doenças como depressão, ansiedade e transtornos de estresse, enquanto níveis elevados de HDL foram relacionados à sua diminuição. Além disso, pacientes que desenvolveram transtornos mentais apresentaram taxas mais elevadas desses marcadores duas décadas antes do diagnóstico.
Sabe-se que as doenças mentais são multifatoriais e não é possível apontar uma única causa, nem uma única forma de preveni-las. “Mas a relação entre níveis elevados de glicemia e triglicerídeos e HDL baixo e o risco de desenvolver essas doenças pode ser explicada por uma combinação de fatores biológicos e comportamentais”, afirma o psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Esses biomarcadores estão associados ao aumento da inflamação sistêmica, que, se prolongada, é um conhecido fator de risco para diversos problemas de saúde mental. Além disso, a resistência à insulina, o estresse oxidativo e as alterações microvasculares resultantes de uma pior saúde metabólica podem levar a danos neuronais e à desregulação de neurotransmissores”, explica Elton. Segundo o especialista, a associação desses diferentes fatores pode influenciar o humor e a cognição e, em última análise, aumentar a possibilidade de doenças mentais.
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Por outro lado, os autores também especulam que esses transtornos predispõem as pessoas a hábitos pouco saudáveis, como dieta rica em alimentos ultraprocessados e doces, além do sedentarismo. “O estilo de vida desempenha um papel importante no desenvolvimento e prevenção de transtornos mentais. Sabe-se que dietas ricas em açúcar e gorduras saturadas, por exemplo, estão associadas a maior risco de depressão e ansiedade. A atividade física, além de liberar endorfinas, melhora a circulação cerebral e reduz os níveis de substâncias pró-inflamatórias”, observa Elton.
Porém, uma vez ocorrido o distúrbio, deve-se procurar avaliação médica. Em alguns casos, é possível tratar com mudanças no estilo de vida e psicoterapia. Em casos mais persistentes, moderados e graves, é aconselhável uma combinação de medicamentos e medidas não farmacológicas.
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