Estudo identifica proteína que ajuda o vírus da COVID-19 a fugir do sistema – Jornal Estado de Minas

Estudo identifica proteína que ajuda o vírus da COVID-19 a fugir do sistema – Jornal Estado de Minas



Ricardo Muniz | Agência FAPESP – A investigação da estratégia utilizada pelo SARS-CoV-2 para escapar da imunidade citotóxica – mediada por células conhecidas como linfócitos – levou um grupo de investigadores a identificar uma proteína importante neste mecanismo, a ORF6, descreve o artigo. Publicados na revista célula.z

O trabalho, liderado por Wilfredo Garcia-Beltran e Julie Boucau, do Ragon Institute of Mass General, MIT e Harvard (Estados Unidos), foi de autoria inicial de Marcella Cardoso, pesquisadora brasileira de pós-doutorado na Harvard Medical School – Massachusetts General Hospital, em conjunto com Jordan Hartmann, da mesma instituição. Também participaram cientistas de instituições do Brasil e da Alemanha.

“Descobrimos que o SARS-CoV-2 pode evitar a detecção pelo sistema imunológico quando reduz os vestígios que apontam para a presença do vírus no interior das células. Esse processo é realizado pela ação do vírus, que rompe certas proteínas da superfície das células infectadas e reduz a interação dos linfócitos com elas”, explica Cardoso.

As células de defesa conhecidas como assassinos naturais (NK ou natural killers) são essenciais para detectar e combater vírus e fazem parte da resposta imune inata – a primeira barreira contra infecções. O NKG2D reconhece ligantes de estresse – como o MIC-A/B – liberados pela infecção e esse reconhecimento é essencial para que as células contaminadas sejam removidas do corpo.

Ao analisar sistematicamente as proteínas do SARS-CoV-2, a pesquisa identificou que o ORF6 – único e conservado entre os sarbecovírus de mamíferos (subgênero da família Coronaviridae à qual pertence o vírus COVID-19) – participa ativamente da remoção desses importantes sinais das células infectadas , facilitando a permanência do vírus.

Para confirmar este mecanismo de evasão, quando os receptores MIC-A/B foram protegidos usando um “escudo” (um anticorpo chamado 7C6), as células NK tiveram muito mais sucesso em encontrar e destruir células infectadas.

O estudo inclui outros quatro pesquisadores brasileiros: a doutoranda Maria Cecília Ramiro e professores Fernanda Orsi, Lício Velloso Isso é Érico de Paulapela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp).

De Paula destaca que a participação da Unicamp no estudo é um desdobramento dos projetos financiados pela FAPESP durante a pandemia.

“Nosso grupo colaborou discutindo estratégias e compartilhando uma coorte clínica que foi utilizada para validar os dados”, diz Paula, coordenadora do projeto “Avaliação dos mecanismos de ativação da hemostasia na COVID-19 e sua modulação por inibidores de bradicinina”.

Velloso, por sua vez, ficou encarregado da assistência”Ensaio clínico de inibição da bradicinina em adultos hospitalizados com COVID-19 grave”, de onde foi obtida parte dos dados clínicos e amostras.

“Estudos sobre a resposta imunológica em pacientes que desenvolveram a forma grave da COVID-19 revelaram que essa eliminação de proteínas também ocorreu. Os dados coletados dos pacientes durante a internação foram essenciais para esta pesquisa internacional e mostram a importância do papel da pesquisa em conjunto com os hospitais na contenção de pandemias em tempo real”, destaca Cardoso.

Os pesquisadores afirmam que as amostras coletadas no Hospital de Clínicas da Unicamp apresentaram maior diversidade de desfechos clínicos devido à ação de diferentes cepas do vírus. “Paralelamente também trabalhamos com todos em vitrorealizando experimentos em que infectamos células do tecido pulmonar com o vírus vivo”, diz Cardoso.

Anticorpo monoclonal e novas frentes de pesquisa

Com base em recentes estudos oncológicos pré-clínicos que demonstram que o anticorpo monoclonal 7C6 é capaz de impedir a eliminação do MIC-A/B – aquele que alerta a infecção –, o artigo avaliou se também poderia ser eficaz na contenção da estratégia de evasão imunológica do coronavírus .

“Na nossa opinião, esta abordagem não só estimularia a eliminação de células infectadas, mas também aumentaria a co-estimulação de linfócitos do sistema imunitário adaptativo [T CD8+], acionando tanto o sistema imunológico inato quanto o adaptativo”, diz Cardoso. A partir daí, desenvolveram uma série de experimentos e testes em vitro para provar as hipóteses.

“Compreender como o SARS-CoV-2 e outros coronavírus afetam essas proteínas e como isso influencia a resposta imunológica nos ajuda a entender melhor como o vírus interage com o corpo. Também ajuda a identificar possíveis alvos para novos tratamentos, fortalecendo o sistema imunológico e combatendo infecções virais”, afirma Cardoso.

A pesquisa abre novas frentes de investigação no campo das terapias antivirais dirigidas ao hospedeiro, pois a descoberta do papel do anticorpo 7C6 na capacidade de eliminar células infectadas pelo SARS-CoV-2 é também uma revelação que lança luz sobre possíveis soluções inovadoras. estratégias terapêuticas. “Com base nos resultados obtidos, a possibilidade de testar na Vivo, em modelos animais transgênicos, que permitem avaliar a aplicabilidade clínica da estratégia”, diz Cardoso. “Embora ainda sejam necessárias mais etapas de pesquisa, os resultados são potencialmente muito promissores”, conclui.

ler aqui o artigo Evasão da imunidade citotóxica mediada por NKG2D por sarbecovírus pode ser lido



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