O diretor de Instituto ButantanO infectologista Esper Kallás apresentou aos secretários municipais de saúde de São Paulo nesta quinta-feira, 23, informações sobre o vacina contra dengue desenvolvido pela instituição que está sendo avaliada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e explicou que, mesmo que seja aprovado este ano, o combate à doença causada pelo mosquito Aedes aegypti ainda dependerá das medidas tradicionais, porque as doses não serão suficientes para toda a população.
No mês passado, o instituto protocolou o pedido de registro da sua candidata a vacina contra dengue para a agência. Se ocorrer aprovação, o instituto poderá entregar 1 milhão de doses do Butantan-DV em 2025 e outros 100 milhões estarão à disposição do Ministério da Saúde em 2026 e 2027.
Segundo a Anvisa, o instituto entregou três pacotes de dados relativos ao imunizante e eles estão em análise. Essa avaliação deverá durar 90 dias a partir da data de entrega do último lote, em dezembro passado. Portanto, espera-se que algum parecer seja dado em março.
“Por causa desses números e estendendo-se à vacina QDenga, que está disponível, o número não conseguirá conter o número de casos devido às limitadas doses disponíveis em 2025. Esperamos resolver esse problema a partir de 2026”, disse Kallás. Atualmente, apenas o Qdenga está sendo utilizado e apenas para a população de 10 a 14 anos. “Portanto, 2025 será difícil e dependerá de medidas tradicionais de enfrentamento que mitiguem os efeitos principalmente no desenvolvimento de doenças graves.”
Ou seja, eliminar possíveis criadouroscomo garrafas e pneus, cobrir caixas d’água ou piscinas inativas e retirar entulhos deve continuar fazendo parte da rotina da população, principalmente porque 75% dos pontos favoráveis para a proliferação do mosquito estão em residências.
Pelas estimativas do Butantan, serão entregues 60 milhões de doses em 2026 e 40 milhões em 2027. “Isso faz parte de uma projeção que o instituto fez para atender uma demanda que será maior no início e diminuirá à medida que a população crescer. imunizante.”
O infectologista destacou os resultados da vacina nos testes e o fato de ela poder ser aplicada independentemente de a pessoa já ter sido infectada pelo vírus. Isso porque a Dengvaxia, oferecida pela rede privada, é contraindicada para pessoas que nunca tiveram dengue.
Surto de dengue no Brasil
Desde o final de 2023, os casos de dengue começaram a aumentar e, no ano passado, o Brasil registrou o maior número de episódios da doença na série histórica iniciada em 2000. Foram 6,6 milhões de casos prováveis e 6.103 mortes. Este ano, o Ministério da Saúde registrou 101.485 casos e 15 mortes. Há 116 mortes em investigação.
Há preocupação com a continuidade do surto devido ao retorno do sorotipo 3 da doença à circulação após 17 anos. que pode desencadear infecções entre pessoas que nunca foram infectadas por ela. Entre outros motivos, como as alterações climáticas, a presença do serotipo 2 foi apontada como responsável pela explosão de casos em 2024, dado que a população vulnerável era significativa.
Vacina contra dengue do Butantan
A vacina contra dengue em análise para aprovação do Instituto Butantan é fruto de uma parceria com os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, que compartilharam as quatro cepas virais da vacina e realizaram os testes da fase 1. com humanos entre 2010 e 2012. A fase 2 ocorreu no Brasil entre 2013 e 2015. O Butantan coordenou os testes da fase 3 com 16.235 participantes que será avaliado pelo instituto até que todos completem cinco anos de acompanhamento desde a entrada no estudo.
O imunizante é feito com os quatro sorotipos do vírus (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) na sua forma atenuada. Dessa forma, estimula a produção de anticorpos pelo indivíduo sem causar a doença. Os testes foram realizados com um população de 2 a 59 anos formado por pessoas que já foram infectadas e que ainda não tiveram contato com o vírus. É para esse grupo que a vacina será indicada.
Nos testes da fase 3, o Butantan-DV demonstrou 79,6% de eficácia geral para prevenir episódios de dengue sintomática, resultado publicado na revista científica O Jornal de Medicina da Nova Inglaterra. Outro ensaio, também de fase 3 e publicado na revista Doenças Infecciosas da Lancetdestacou que a vacina tem capacidade de 89% de proteção contra episódios graves e sinais de alerta da doença, além de eficácia e segurança contra o vírus por um período de cinco anos.
Importância da vacina do Butantan
Uma versão de dose única da vacina contra dengue produzida no Brasil seria importante para alcançar alta cobertura vacinalconsiderando que a adesão pode diminuir quando são necessárias mais doses para garantir proteção. Além disso, estar protegido contra um serótipo não impede que uma pessoa seja infectada por outro e um nova infecção tende a ser mais grave.
No momento, o imunizante Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, faz parte das ações de vacinação do Ministério da Saúde contra a doença, mas as doses disponíveis são voltadas apenas para população de 10 a 14 anos.
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