As redes sociais têm sido povoadas por textos e vídeos com receitas milagrosas para “aumentar” a imunidade. Preparados caseiros, shots, “gomas” e até soros vitamínicos prometem fazer com que você nunca mais fique doente. Mas a verdade é que a nossa reacção a agentes infecciosos é o resultado de um sistema complexo – e o caminho para uma boa saúde pode ser mais simples do que você pensa.
A imunidade de uma pessoa é definida pela capacidade de seu sistema imunológico manter as células de defesa ativas para reconhecer e combater bactérias, vírus, fungos, parasitas ou mesmo células cancerígenas. Essa “habilidade” do organismo pode ser adquirida de forma natural, por exposição prévia, ou por meio de imunização.
“O sistema imunológico funciona de forma equilibrada em nosso corpo. É estimulado quando há riscos e essa resposta é controlada para não causar danos. Portanto, a estimulação descontrolada ou exagerada pode prejudicar a saúde do indivíduo”, explica a imunologista Anete Grumach, membro do Departamento Científico de Erros Inatos da Imunidade da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).
Nosso sistema imunológico é dividido em inato — primeira linha de defesa, que inclui barreiras como a pele e mucosas — e adaptativo, que é adquirido ao longo do tempo e exposição do indivíduo, seja por meio de infecções ou vacinação. Existe também a imunidade passiva, na qual os anticorpos são transferidos entre indivíduos, como em bebês que recebem os anticorpos da mãe durante a gravidez.
Em geral, não há necessidade de monitorar a imunidade. Manter uma boa alimentação, praticar exercícios regularmente e dormir bem já resulta em equilíbrio no organismo. Qualquer problema deve ser corretamente diagnosticado para estabelecer o tratamento adequado.
“Pessoas que apresentam sintomas como resfriados e gripes muito frequentes, muito estresse, problemas gastrointestinais feridas recorrentes, feridas que demoram a cicatrizar, infecções frequentes ou cansaço excessivo podem levar à baixa da imunidade. Nestes casos, deve-se procurar um médico para ser avaliado”, orienta a imunologista Cristina Kokron, do Hospital Israelita Albert Einstein.
A seguir, conheça alguns dos principais mitos e verdades sobre imunidade:
1. Suplementação vitamínica é importante para melhorar a imunidade
Mito. Segundo Cristina, pessoas saudáveis, que se alimentam bem e de forma equilibrada, não precisam fazer suplementação vitamínica – nem através de comprimidos nem através de soros. A menos, é claro, que uma deficiência seja encontrada no exame. Aí sim, a suplementação pode ser recomendada, sempre com orientação de um profissional de saúde e de acordo com as necessidades individuais.
Não há evidências de que o uso de altas doses de um único suplemento vitamínico ou multivitamínico ajude o sistema imunológico. Além disso, certos nutrientes podem ser tóxicos para o corpo quando consumido em excesso.
2. Praticar exercícios regularmente ajuda o sistema imunológico
Verdadeiro. Estudos mostram que o exercício físico moderado melhora a resposta imunológica, reduzindo mediadores inflamatórios, reduzindo o risco de doenças cardiorrespiratórias e doenças metabólicas crônicas (como diabetes e obesidade). “A atividade física moderada melhora a circulação sanguínea e linfática, aumentando a circulação das células do sistema imunológico e facilitando a eliminação de patógenos. Isso também ajuda a eliminar bactérias das vias respiratórias e dos pulmões”, observa.
Além disso, o aumento da temperatura corporal durante o exercício físico reduz o crescimento bacteriano. A liberação mais lenta de hormônios do estresse reduz o risco de contrair doenças.
Por outro lado, treinos prolongados de alta intensidade podem suprimir o sistema imunológico e aumentar a frequência de infecções respiratórias, por exemplo. “Por isso, na hora de praticar exercícios é importante deixar tempo suficiente para que o corpo se recupere”, orienta o especialista.
3. A dieta influencia a capacidade de reação a patógenos
Verdadeiro. Ter uma alimentação equilibrada e variada é importante para uma vida saudável, em qualquer idade. O consumo de alimentos naturais – como frutas, vegetais, nozes, sementes, grãos integrais e legumes – fornece antioxidantes e outros nutrientes que reduzem a inflamação no corpo.
Um cardápio variado também garante vitaminas A, C, E e D, além de minerais que ajudam a manter o bom funcionamento do sistema imunológico. Evitar produtos ultraprocessados e preparações com excesso de gordura, açúcar e sódio, como fast food, predominam na sua rotina alimentar.
4. É importante suplementar vitamina C para garantir uma saúde mais forte
Mito. A vitamina C realmente desempenha um papel importante no funcionamento do sistema imunológico. A reposição desse nutriente para aumentar a imunidade, como qualquer outro, é um assunto que sempre gera dúvidas.
Sabe-se que o deficiência de vitamina Cdevido à baixa ingestão nutricional, pode levar a maior suscetibilidade a infecções. No entanto, não há comprovação científica de que a suplementação seja benéfica para a função imunológica de indivíduos saudáveis. Pelo contrário, estudos sublinham que esta prática é ineficaz na prevenção da constipação comum e de infecções virais na maioria das pessoas.
“Vale destacar que o consumo adequado de vitamina C deve ser incentivado em uma alimentação natural envolvendo frutas, principalmente frutas cítricas, verduras e outros alimentos, como parte de uma alimentação saudável”, orienta Anete.
5. Mel com própolis estimula o sistema imunológico
Mito. Segundo Cristina, embora o mel e a própolis tenham efeitos anti-inflamatóriosantioxidantes e imunomoduladores, ainda não existem estudos robustos que confirmem que o seu uso regular ajuda a aumentar a nossa imunidade.
6. Idosos têm imunidade baixa
Nem sempre. O envelhecimento na verdade modifica o sistema imunológico, que pode ser menos responsivo em certos aspectos. Mas alguns hábitos e práticas podem minimizar isso. “Essa transição deve ser combatida com um estilo de vida saudável, com foco na boa alimentação, na prática de esportes e no sono reparador”, afirma o imunologista Asbai.
Além de um estilo de vida equilibradoos idosos devem manter a caderneta de vacinação atualizada de acordo com a faixa etária.
7. A hidratação é essencial para uma boa saúde
Verdadeiro. A hidratação é importante para o funcionamento de todo o organismo, afinal a água representa entre 60% e 70% da composição do corpo humano. Auxilia no transporte de nutrientes, eliminação de substâncias, lubrificação, regulação de temperatura, entre outras funções.
8. A vitamina D é essencial para o sistema imunológico
Depende. Todas as vitaminas desempenham algum papel na resposta imunológica em geral. Por esse motivo, é importante que as pessoas mantenham um equilíbrio nutricional adequado. A deficiência pode prejudicar o mecanismo de defesa do nosso corpo.
Porém, é importante que esse déficit seja diagnosticado por um profissional de saúde, que orientará sobre a necessidade (ou não) de suplementação. “É importante destacar que a administração de altas doses de vitamina D por si só pode causar efeitos adversos e de risco à saúde”, alerta Anete.
9. O estresse pode diminuir a resistência a infecções
Verdadeiro. Para o imunologista Asbai, a ideia de que o estresse contribui para a baixa imunidade é cada vez mais popular. “Essa observação está atualmente associada a estudos que comprovam o comprometimento da imunidade nessas situações [de estresse]portanto, é preciso buscar o equilíbrio”, observa.
10. As vacinas enfraquecem o sistema imunológico
Mito. É exatamente o contrário: as vacinas representam um avanço para a defesa contra infecções e fortalece a resposta imunológica, estimulando a reação do organismo contra agentes infecciosos.
“As vacinas são recomendadas e as pessoas devem seguir o calendário estabelecido com base em dados epidemiológicos, ou seja, que consideram a idade em que mais ocorrem determinadas infecções e a resposta imunológica do indivíduo”, orienta Anete. Isto também se aplica aos reforços vacinais, que são necessários após um determinado período, dependendo da vacina.
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