O roteiro é comum. O idoso aparentemente goza de boa saúde até que um dia sofre uma queda e, a partir daí, sua qualidade de vida começa a piorar. Isso acontece porque, mesmo quando não há consequências graves, como lesões, fraturas ou traumatismos cranianos, as quedas geralmente levam à diminuição da mobilidade e, consequentemente, à perda da independência e da autonomia.
A questão é tão preocupante – as quedas são a segunda principal causa de morte relacionada a lesões entre adultos com 65 anos ou mais – que a recomendação é que os idosos façam testes de equilíbrio e mobilidade anualmente, como parte de suas consultas de rotina, independentemente do profissional. cuidados de saúde responsáveis.
Um estudo, apoiado pela FAPESP e realizado com 153 pessoas entre 60 e 89 anos, conseguiu apontar mudanças de uma só vez para tornar esse tipo de teste mais simples, mais eficaz e também demonstrou sua capacidade preditiva, ou seja, indicar o risco futuro de queda mesmo entre aqueles que apresentaram bons resultados. condições de equilíbrio e mobilidade. Os resultados da pesquisa foram publicado na revista BMC Geriatria.
“O modelo atual de teste de equilíbrio é simples e exige apenas que o idoso permaneça em cada uma das quatro posições – pés paralelos [bipodal]com um pé ligeiramente à frente do outro [semi-tandem]com um pé na frente do outro [tandem] e equilibrado em um pé [unipodal] – durante 10 segundos para verificar problemas de equilíbrio e mobilidade. Porém, nosso estudo demonstrou algo que já suspeitávamos: 10 segundos em cada posição não são suficientes”, afirma. Daniela Cristina Carvalho de Abreucoordenador do Laboratório de Avaliação e Reabilitação do Equilíbrio (Lare) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
O estudo com 153 voluntários mostrou que a avaliação pode ser muito mais eficaz quando o teste se resume em observar se o indivíduo consegue permanecer em apenas duas das posições mais desafiadoras (preferencialmente tandem e unipodal) e por 30 segundos em cada uma delas.
“No trabalho também descobrimos que, por cada segundo extra [dos 30 segundos] Uma vez que o idoso conseguiu permanecer na posição tandem ou unipodal, a chance de cair nos seis meses subsequentes diminuiu 5%. Isto permite prever o risco de queda ao longo de seis meses, algo importante porque o teste pode ser realizado na clínica, de forma rápida e sem necessidade de equipamentos”, acrescentou.
Abreu destaca que, tanto no modelo atual quanto no proposto pelo grupo de pesquisadores da USP, o exame continua sendo visto principalmente como triagem. Isso porque, com base nos resultados do teste de equilíbrio em quatro posições, são recomendadas avaliações mais detalhadas e multifatoriais para entender se o desequilíbrio está relacionado à fraqueza muscular, alterações no alinhamento postural, comprometimentos sensoriais, problemas articulares ou outros fatores. “O que acontece é que ao realizar o teste realizado por 30 segundos conseguimos não só identificar indivíduos com problemas sutis de equilíbrio, mas também prever o risco de o idoso cair nos próximos seis meses – o que torna necessária uma investigação mais aprofundada sobre as causas esse desequilíbrio seja ainda mais importante”, afirma.
Para chegar à nova abordagem de testagem, o grupo de pesquisadores avaliou os 153 voluntários por meio de testes convencionais e com tempo prolongado, acompanhando os participantes por seis meses.
Quando os pesquisadores dividiram a amostra entre aqueles que caíram e aqueles que não caíram, o grupo que caiu nos seis meses seguintes ao teste conseguiu permanecer na posição unipodal por uma média de 10,4 segundos e na posição tandem por 17 segundos. segundos. 0,5 segundos. Aqueles que não caíram permaneceram na posição unipodal por 17,2 segundos e na posição tandem por 24,8 segundos.
“Nossos resultados mostram, portanto, que o teste com tempo de permanência de apenas 10 segundos só consegue detectar aqueles com problemas de equilíbrio muito graves, errando uma parcela significativa de indivíduos com alto risco de queda. Com isso, sugerimos que o tempo limite para o teste de equilíbrio em quatro etapas seja superior a 23 segundos”, disse Abreu.
O trabalho também utilizou uma plataforma de força – equipamento utilizado para medir as oscilações do indivíduo sobre uma plataforma enquanto mantém posições. O objetivo foi verificar se era possível prever o risco de queda apenas no momento em que o indivíduo conseguia permanecer na posição ou se a magnitude da oscilação corporal era um parâmetro essencial a ser considerado.
Ainda em relação ao limite de tempo, os resultados mostraram que todos os participantes conseguiram manter a posição bípede por 30 segundos, e a maioria dos idosos também conseguiu manter a posição semi-tandem por 30 segundos. “Na previsão de quedas em seis meses, apenas a oscilação – amplitude médio-lateral do deslocamento do centro de pressão [medida na plataforma de força] – na posição unipodal e o tempo mantido nas posições tandem e unipodal estiveram associados à ocorrência de quedas nos idosos da amostra e, portanto, sem quaisquer condições neurológicas”, acrescentou.
Portanto, embora a oscilação corporal medida na plataforma de força tenha se mostrado um preditor do risco de queda do idoso em seis meses, o problema também pode ser verificado pelo tempo gasto nas posições mais desafiadoras (tandem e unipodal ). “Isso é importante porque simplifica o teste e garante o acesso a ele em qualquer consultório ou centro de saúde, já que a plataforma é um equipamento caro”, afirma.
Os investigadores esperam agora que os resultados do estudo sirvam de base para a implementação da avaliação do risco de queda em pessoas com 60 ou mais anos, abrangendo desde cuidados básicos até consultas com especialistas. “Nosso estudo avançou muito, trazendo resultados importantes para a prática clínica. Embora as quedas sejam a segunda causa de morte por lesões não intencionais no mundo entre idosos, e haja indicação de realização de teste de equilíbrio anualmente, raramente é praticado na clínica. Portanto, era importante encontrar um modelo que não necessitasse de equipamentos, fosse simples [com apenas duas posições]rápido [60 segundos no total] e com possibilidade de prever a queda”, acrescenta.
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