Um estudo recente publicado no The New York Times, nos Estados Unidos, revela que o consumo de álcool, presente em celebrações, momentos sociais e uso isolado em casa, está associado a um custo oculto alarmante: um aumento considerável no risco de cancro. O estudo mostra que as bebidas alcoólicas contribuem para aproximadamente 100 mil novos casos de câncer e 20 mil mortes relacionadas à doença anualmente nos Estados Unidos.
Entre os tipos de câncer mais comuns na relação “álcool e neoplasia” estão: de mama (em mulheres); cólon e reto; esôfago; fígado; boca (cavidade oral); garganta (faringe) e laringe (cordas vocais).
Preocupante falta de conhecimento
Segundo o PhD e MD em oncologia Wesley Pereira Andrade, embora os efeitos nocivos do álcool estejam amplamente documentados, menos de 45% dos americanos sabem que o álcool é um fator de risco para o câncer. A falta de informação coloca milhões de pessoas em risco, especialmente mulheres, já que o álcool é um factor causal do cancro da mama, o tipo mais prevalente no país.
Segundo o médico, o álcool impacta o corpo através de múltiplas vias biológicas:
1. O acetaldeído, um subproduto do metabolismo do álcool, danifica o DNA e impede a sua reparação;
2. Os radicais livres gerados durante o processo inflamatório promovem danos celulares;
3. O desequilíbrio hormonal, especialmente o aumento do estrogênio, está diretamente ligado ao câncer de mama;
4. Facilidade de absorção de outros agentes cancerígenos, como o tabaco, o que agrava ainda mais o risco.
“Quanto maior o consumo de álcool, maior o risco de desenvolver câncer. Para certos tipos, como mama, boca e garganta, o risco começa a aumentar com o consumo de uma dose ou menos por dia. A relação entre álcool e câncer é proporcional e começa mesmo com doses baixas, mesmo uma dose diária pode aumentar significativamente o risco. As mulheres que consomem duas bebidas por dia enfrentam um risco 32% maior de cancro da mama, enquanto os homens têm maior probabilidade de desenvolver cancro oral. Não existe dose segura, mesmo uma dose já aumenta o risco”, afirma Wesley.
Entre as mulheres, o cancro da mama é responsável por aproximadamente 60% das mortes relacionadas com o álcool. Entre os homens, o cancro do fígado é responsável por cerca de 33% das mortes e o cancro colorrectal contribui com mais 21%.
Câncer de mama e álcool
O estudo mostra que o tipo de cancro mais relacionado com o álcool é o cancro da mama nas mulheres, com cerca de 44.180 casos em 2019, o que representa 16,4% do total de 270 mil casos desta doença nos EUA.
“As mulheres são mais vulneráveis do que os homens ao desenvolvimento de cancro relacionado com o álcool devido às características biológicas e porque o álcool aumenta a produção de estrogénio. O estrogênio é o principal combustível para o câncer de mama.” diz o especialista.
Um estudo revelou que o risco de cancro da mama aumenta 10% com uma dose diária e salta para 32% com duas doses. Isto se deve em parte ao aumento dos níveis de estrogênio causado pelo álcool. Essa associação reforça a necessidade de maior atenção às políticas públicas de saúde voltadas às mulheres.
Medidas recomendadas por especialistas
Autoridades de saúde e investigadores sugerem medidas urgentes para combater os riscos associados ao álcool:
1. Etiquetas de informações – Atualizar embalagens com advertências explícitas sobre o risco de câncer;
2. Educação pública – Campanhas massivas para aumentar o conhecimento sobre os perigos do álcool;
3. Reduzindo o limite diário recomendado – Reavaliar as atuais diretrizes que definem o consumo seguro;
4. Acompanhamento Médico – Incluir avaliações de consumo de álcool em exames de rotina e consultas médicas.
Políticas Globais
Países como a Irlanda e o Canadá já implementaram rótulos de advertência mais explícitos nas bebidas alcoólicas. Estes países relataram um aumento significativo na consciência pública sobre os riscos do cancro. Estudos mostram que tais abordagens podem reduzir o consumo e, consequentemente, reduzir os casos relacionados.
Além dos danos físicos, o impacto económico do álcool é preocupante. As estimativas indicam que o tratamento do cancro relacionado com o álcool custa milhares de milhões de dólares anualmente. Para muitos especialistas, as campanhas preventivas e as políticas de redução do consumo podem não só salvar vidas, mas também reduzir os gastos com sistemas de saúde já sobrecarregados.
“O álcool, muitas vezes visto como inofensivo em pequenas quantidades, acarreta um fardo significativo para a saúde pública. Com evidências cada vez mais robustas, é imperativo transformar o conhecimento em ação. Informar, prevenir e reduzir o consumo de álcool pode salvar milhares de vidas”, afirma a mastologista e oncologista.
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