Pancadas em jogos de futebol podem causar sequelas graves; entenda – Jornal Estado de Minas

“A última lembrança que tenho é de colocar gelo na cabeça ainda no gramado e acordando dois dias depois no hospital”, conta o ferroviário Cleverson Machado, 45 anos. Durante uma partida de futebol com amigos, ele bateu a cabeça em um jogador do time adversário enquanto compete pela bola. Apesar de não se lembrar dos acontecimentos, antes de acordar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Cleverson foi até sua casa, conversou com a esposa – que o orientou a procurar atendimento – e foi até o hospital.

“Não me lembro de ir para casa, dirigir até o hospital, estacionar o carro ou passar pela triagem do pronto-socorro. Só entendi a gravidade do meu caso quando acordei na UTI e o médico me explicou que, se eu tivesse demorado mais para procurar atendimento, poderia ter ficado com sequelas graves ou até morreu”, relata.

O neurocirurgião do Hospital São Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), Carlos Mattozo estava de plantão quando o ferroviário chegou ao Pronto Atendimento. “O perda de memória é muito comum em trauma extraduralcomo o caso de Cleverson. Durante o tratamento inicial, apresentou sonolência e vômitos, sinais de alerta nesses casos, pois, nesse período, a artéria estava esguichando sangue e comprimindo o cérebro. Outro sinal clássico são as pupilas dilatadas”, explica.

“Nós o levamos imediatamente para a sala de cirurgia, mas ele entrou em coma logo depois. Se o serviço tivesse demorado mais alguns minutos, poderia ter se transformado em um parada cardiorrespiratória ou mesmo uma condição neurológica irreversível. Mesmo com a cirurgia, ele nunca conseguiu se recuperar e permaneceu em estado vegetativo”, acrescenta.

O risco de golpes

Golpes na cabeça em jogos de futebol são tão comuns que existe um protocolo específico para concussões, estabelecido pelo International Football Association Board (Ifab), órgão que regulamenta as regras do esporte. No Brasil, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) adotou integralmente este ano o protocolo da entidade, com o objetivo de prevenir danos irreversíveis à saúde dos jogadores.

A ferramenta de avaliação de concussão esportiva (Scat) avalia a resposta do atleta em aspectos como capacidade de reconhecimento, visão dupla, fraqueza, dor de cabeça intensa, crises convulsivas, perda de consciência, vômitos e agitação psicomotora. O objetivo é identificar a gravidade do quadro e determinar se há necessidade de internação hospitalar.

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“Uma pancada na cabeça deve ser levada a sério. Nem todos os casos necessitam de atendimento médico, mas é fundamental observar como a pessoa reage após o impacto. Se ela perdeu a consciência, apresenta confusão mental, sonolência ou vômito, a agilidade na busca por ajuda é fundamental”, destaca o neurocirurgião.