Pacientes com epilepsia vão à Justiça por terapia…

Pacientes com epilepsia vão à Justiça por terapia…



Em 2018, o Ministério da Saúde anunciou a incorporação de terapia de estimulação do nervo vago (VNS) ao Sistema Único de Saúde (SUS), tratamento considerado eficaz e seguro para casos graves de epilepsia resistente a medicamentos que deverá estar disponível na rede pública em março de 2019. No entanto, Depois de mais de cinco anos, a terapia ainda não foi implementada.

Pacientes com epilepsia refratária — condição em que as crises não são controladas mesmo com o uso de dois ou mais medicamentos adequados — recorreram à Justiça para garantir o acesso ao tratamento ou a substituição das baterias dos aparelhos. Somente entre janeiro e julho de 2024, mais de 30 ações foram ajuizadassegundo dados da Associação Brasileira de Epilepsia (ABE). Esse número, porém, não reflete todos os casos, pois muitos processos continuam enfrentando impasses burocráticos.

O que é terapia VNS?

A terapia com estimulação do nervo vago (ENV) é uma tecnologia de neuromodulação reconhecido mundialmente. Desde 2000, foi aprovado no Brasil para uso clínico, mas só foi incorporado ao SUS em 2018. A terapia funciona como um “marca-passo cerebral”enviar impulsos elétricos ao nervo vago para ajudar a controlar crises epilépticas.

Além de reduzir a frequência e a intensidade das crises, a VNS traz amplos benefícios que vão além do controle imediato dos sintomas. Estudos mostram que o tratamento pode reduzir as internações hospitalares em até 50% e reduzir as visitas ao pronto-socorro em 75%. Segundo a ABE, a terapia também melhora a cognição, o comportamento e o desenvolvimento social, principalmente em crianças.

O impacto económico também é relevante. Um estudo publicado no ano passado na revista científica Jornal de Neurologia destacou que a tecnologia reduz a necessidade de medicamentos anticonvulsivantes e os custos associados a eles, enquanto outra pesquisarealizado na Polônia em 2019, apontou que a ENV é uma alternativa econômica com benefícios clínicos mensuráveis ​​em longo prazo. Além disso, a terapia não tem interações com outros medicamentosfacilitando a sua utilização como complemento aos tratamentos existentes.

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Por que a terapia não está disponível?

Embora formalmente incorporada à Tabela do SUS, a terapia VNS enfrenta desafios administrativos e financeiros que atrasam a sua implementação. Segundo a ABE, o processo de incorporação sofreu com mudanças de governo desde 2018, o que resultou na necessidade de reiniciar as negociações a cada mudança de gestão.

“Os pacientes estão sendo forçados a lutar na Justiça por um tratamento que já deveria estar disponível. Isso desrespeita não só o direito à saúde, mas também todos os especialistas que participaram da avaliação da terapia para sua incorporação”, critica Maria Alice Mello Susemihl, presidente da ABE.

Além do impacto emocional, a judicialização do tratamento traz consequências financeiras significativas para o SUS. Segundo a ABE, o custo de judicializar o acesso à VNS é maior do que seria necessário para implementar o tratamento de forma ampla, com negociação direta de valores com o fabricante. Enquanto isso, o SUS continua arcando com os custos indiretos de internações e atendimentos emergenciais que poderiam ser evitados com um controle adequado da crise.

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Impactos para pacientes e familiares

A ABE relata que muitas famílias enfrentam uma burocracia exaustiva que atrasa o início do tratamento. “É uma corrida contra o tempo para muitas famílias. Cinco minutos de crise epiléptica podem parecer uma eternidade para um pai ou uma mãe”, enfatiza Maria Alice.

Pacientes com epilepsia refratária apresentam, em média, 39 dias por ano hospitalizado por complicações de crises, segundo estudos citados pela entidade. Além do risco aumentado de traumas e queimaduras, esses pacientes apresentam taxa de mortalidade três vezes superior à da população em geral.

A falta de acesso ao VNS também agrava a impacto económico e social nas famíliasque muitas vezes precisam recorrer a campanhas de arrecadação de fundos para financiar o tratamento de forma privada. A judicialização, embora represente uma alternativa, não resolve o problema para todos, pois muitos casos enfrentam atrasos significativos.

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O que diz o Ministério da Saúde

O OLHAR pediu posicionamento ao Ministério da Saúde, que afirmou que a atual gestão tem realizado uma série de estudos para viabilizar a implantação da terapia VNS no SUS desde 2023. O órgão destaca que um dos principais desafios é a monopólio na produção de dispositivosresponsável por um aumento significativo nos custos. Os valores para implantação do gerador e eletrodo, que eram de R$ 43 mil em 2018, saltaram para R$ 89 mil em 2023. A troca do gerador passou de R$ 34 mil para R$ 71 mil.

O Ministério informou que, para incorporar novas metodologias, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao SUS (Conitec) analisa evidências científicas, efetividade, custos e impacto orçamentário.

Sobre a judicialização, o órgão destacou que, por não se tratar de um medicamento, o Uma decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema não se aplica à tecnologia em questão.



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