Uma dieta mais salgada pode impactar a saúde da pele, aumentando o risco de dermatite atópica, inflamação que causa lesões que coçam. A ligação entre alimentação e doenças crônicas foi feita por pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, em estudo publicado na “Jama Dermatology”.
Os cientistas examinaram a urina de 215.832 adultos com idades entre 30 e 70 anos, durante 24 horas, e observaram que cada grama adicional de sódio estava associada a um risco 11% maior de desenvolver a doença, também conhecida como eczema atópico.
O estudo mostra ainda que o consumo aumenta em 16% a probabilidade de uma pessoa ter um caso ativo, já que essa doença crônica alterna períodos de remissão com períodos de crise envolvendo lesões vermelhas, descamação e coceira.
Uma alimentação muito salgada, segundo o estudo, aumenta em 11% o risco de desenvolver dermatite atópica grave, o que pode levar a lesões mais graves, com secreções e fissuras infectadas.
Os cientistas também analisaram os perfis de 13 mil adultos participantes da Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição, realizada pelo governo dos EUA. Os pesquisadores concluíram que comer apenas um grama adicional de sódio por dia – cerca de meia colher de chá de sal de cozinha – está associado a um risco 22% maior de alguém ter um caso ativo de eczema. Esta constatação esteve em linha com os resultados obtidos na primeira fase.
“Os autores do trabalho descobriram que o sódio fica armazenado na pele, onde pode promover um processo inflamatório, que é um importante gatilho para a crise da dermatite atópica”, analisa a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD).
Mas novos estudos são necessários para confirmar estas descobertas. “A relação entre alimentação e doença não está bem estabelecida e este trabalho, que foi bem desenhado e envolveu um número muito grande de pessoas, é interessante porque abre novas frentes de investigação, mas ainda não podemos dizer que é conclusivo” , pondera a dermatologista Bárbara Miguel, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Se conseguirmos de fato fazer essa relação, conseguiremos reduzir um fator desencadeante de sintomas.”
Segundo pesquisas, reduzir a quantidade de sal na dieta seria uma forma de evitar períodos ativos da doença. “Na minha opinião, o estudo poderia ser replicado levando em consideração algumas variáveis, como uso de hidratantes, temperatura do banho e hidratação oral, fatores que também influenciam no quadro e não foram analisados”, sugere Paola.
Quem sofre de dermatite atópica não pode deixar de lado cuidados importantes, entre eles:
- Evite banhos muito quentes e demorados
- Use sabonetes específicos que proporcionam uma limpeza mais suave
- Não use buchas de banho
- Sempre hidrate muito bem a pele com produtos sem perfume.
- Reforçar a hidratação
- Beba muita água
- Não use roupas com lã e tecidos sintéticos e evite estresse
- Poluição excessiva
- Amaciantes de roupas com perfume
Doença crônica
A dermatite atópica está ligada a uma predisposição genética que também pode estar relacionada a outros tipos de doenças alérgicas, principalmente rinite e asma. “É um quadro inflamatório crônico e recorrente, em que há alteração da barreira protetora da pele”, explica Paola.
É a camada mais superficial da pele, que ajuda a manter sua hidratação e a protegê-la de fatores irritantes e patógenos, como vírus e bactérias. “Podemos imaginá-lo como uma parede de tijolo e argamassa. Os tijolos são as células, chamadas de corneócitos, e o cimento é a matriz lipídica, camada composta por ceramidas, colesterol e ácidos graxos que tem a função de ligar essas células”, detalha a dermatologista da SBD.
Com a barreira alterada, ocorre diminuição da matriz lipídica, levando à perda de hidratação. Isto faz com que o tecido fique muito seco e propenso a ficar irritado e/ou inflamado pela presença de agressores externos.
Regiões de ressecamento e coceira costumam aparecer em áreas de dobras, como pescoço, atrás dos joelhos, dobras dos braços e punhos. E, à medida que a pessoa coça a pele, causa escoriações e faz com que a coceira aumente ainda mais. “A condição também envolve fatores ligados ao sistema imunológico e tem grande impacto na qualidade de vida, no sono e no desempenho escolar das crianças, pois elas dormem menos”, afirma Bárbara.
Além dos cuidados diários com a pele, o tratamento da dermatite atópica pode envolver antibióticos, corticoides tópicos e imunomoduladores, substâncias que atuam no sistema imunológico e ajudam a combater a inflamação. Outras características possíveis são:
- Anti-histamínicos
- Medicamentos que combatem a reação alérgica
- Imunossupressores, que possuem ação anti-inflamatória
- Fototerapia
- Medicamentos biológicos, que reduzem a reação inflamatória
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