Depois de cinco décadas sem novidades, pessoas com problemas respiratórios ganharam mais uma opção de tratamento eficiente. Uma pesquisa publicada no The Lancet Respiratory Medicine revela que uma injeção administrada durante ataques de asma e de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) pode ser mais eficaz do que a abordagem tradicional da pílula esteróide. Segundo os cientistas do King’s College London, que conduziram o estudo, a terapia reduz a necessidade de tratamentos adicionais em até 30% e melhora os resultados dos pacientes.
Segundo os pesquisadores, a descoberta pode transformar o tratamento dessas doenças respiratórias. “Este poderá ser um ponto de viragem para as pessoas com asma e DPOC”, disse a professora Mona Bafadhel, do King’s College London, principal autora da investigação. Ela detalhou que durante mais de 50 anos, o tratamento das exacerbações destas condições permaneceu praticamente o mesmo, sendo os esteróides como a prednisolona a única opção disponível.
Exacerbações eosinofílicas, causadas por uma inflamação nos pulmões devido ao aumento de eosinófilos — um tipo de glóbulo branco —, eles são responsáveis pelo agravamento dos sintomas da asma e da DPOC. Podem causar complicações graves, como necessidade de internações recorrentes, danos pulmonares irreversíveis e, em casos extremos, morte.
O estudo clínico analisou o impacto do uso de um medicamento conhecido como benralizumab. Esse anticorpo monoclonal, que já é utilizado no tratamento da asma grave, foi testado em situações de emergência, quando o paciente sofre uma exacerbação. O objetivo era comparar a eficácia da injeção com o tratamento padrão.
Um grupo de pacientes com alto risco de exacerbações participou do estudo. Os voluntários foram divididos em três grupos: um que recebeu injeção de benralizumabe com comprimidos simulados, outro que recebeu prednisolona com injeções simuladas e o terceiro grupo que recebeu os dois tratamentos.
Resultados rápidos
Após 28 dias, os pacientes que receberam benralizumab apresentaram melhorias significativas nos sintomas respiratórios, como tosse, respiração ofegante e falta de ar, bem como redução na expectoração. Aos 90 dias, o grupo que recebeu o novo medicamento teve quatro vezes menos casos de falha no tratamento em comparação aos que usaram apenas esteroides. A injeção foi associada a menos consultas médicas, menos hospitalizações e uma melhoria geral na qualidade de vida dos pacientes com asma e DPOC.
O tratamento com benralizumab, administrado por profissionais de saúde, revelou-se seguro. Contudo, os investigadores acreditam que, no futuro, após mais estudos, poderá ser aplicado em casa, no consultório médico ou mesmo no pronto-socorro, tornando-se uma opção viável e acessível. “Esperamos que os resultados deste estudo mudem a forma como as exacerbações da asma e da DPOC são tratadas, beneficiando um número ainda maior de pacientes em todo o mundo”, afirma Bafadhel.
Para os pacientes, a descoberta é um marco. Geoffrey Pointing, participante do estudo, compartilhou sua experiência. “Honestamente, quando você está tendo uma crise, é difícil até falar. Você mal consegue respirar. A injeção foi fantástica. Não tive os efeitos colaterais que costumava ter com os esteróides, como insônia. A primeira noite do estudo, consegui dormir bem e retomei minha vida normal sem problemas.”
Segundo Daniel Bocar, pneumologista do Hospital Anchieta, o benralizumabe faz parte de uma série de medicamentos chamados imunobiológicos. “Como benefícios, observamos redução significativa das exacerbações graves da asma eosinofílica e melhora no controle da doença, além de reduzir o uso prolongado de corticoide oral, evitando efeitos adversos associados como ganho de peso, alterações cutâneas, aumento da glicemia e da pressão arterial e osteoporose Por serem injeções subcutâneas administradas mensalmente ou bimestralmente, facilitam a adesão”, afirma. “É alarmante que este seja o primeiro novo tratamento para asma e DPOC em 50 anos, o que mostra quanto mais apoio a investigação sobre a saúde pulmonar necessita”, afirma Samantha Walker, diretora de investigação e inovação da Asthma Lung UK.
Limitações e aplicabilidade
“O ideal é saber quem são os pacientes verdadeiramente graves. Isso porque, muitas vezes, o acesso ao tratamento padrão, amplamente disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), e o controle dos fatores de risco, como o tabagismo, podem proporcionar um boa qualidade de vida, com carga mínima de sintomas, para a grande maioria dos pacientes. Aqueles que não alcançam controle clínico adequado e persistem nas exacerbações devem ser encaminhados a especialistas, para avaliação individual das características de cada paciente e, eventualmente, para avaliar as características de cada paciente, elegibilidade para essas terapias imunobiológicos Com esse uso racionalizado, preços negociados, centralização de compras e gestão do atendimento aos pacientes mais graves, é possível que consigamos garantir um acesso mais próximo do ideal ao tratamento que cada pessoa necessita. ” Gustavo Prado, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
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