Um estudo nacional divulgado no Congresso Internacional sobre Obesidade, realizado em São Paulo, trouxe números alarmantes para a saúde pública no país. Com base nas tendências atuais, estima-se que quase metade dos adultos brasileiros (48%) estarão obesos até 2044, enquanto outros 27% estarão acima do peso. Isso significa que, em aproximadamente 20 anos, três quartos da população adulta do Brasil poderá estar obesa ou com sobrepeso. Atualmente, cerca de 56% dos adultos brasileiros estão nessa condição, sendo 34% classificados como obesos e 22% com sobrepeso.
A obesidade é reconhecida como uma doença crônica e complexa, associada a diversas comorbidades e à redução da qualidade de vida. Como explica o mestre em cirurgia digestiva pela UNICAMP e médico-diretor do Instituto de Medicina Sallet, José Afonso Sallet, “cuidar do peso é muito mais do que se preocupar com a estética, é também valorizar a saúde, o bem-estar e o qualidade de vida.”
Segundo José Afonso, a base do tratamento clínico da obesidade é a mudança de hábitos, tanto alimentares como os relacionados com o exercício físico. Porém, quando o tratamento clínico da obesidade não traz resultados, está indicado um procedimento cirúrgico, conhecido como cirurgia bariátrica.
A cirurgia é uma opção para pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40 kg/m² e para aqueles com IMC acima de 35 kg/m² que apresentam doenças agravadas pela obesidade. Um exemplo de obesidade que se enquadra nesse perfil é uma pessoa que tem 1,65 metros de altura e pesa 98 quilos.
Apesar de ser considerada uma cirurgia importante e de baixo risco quando o paciente está em boas condições de saúde para o procedimento, a desinformação ainda cerca esta intervenção. José Afonso elenca os principais mitos e verdades que cercam a cirurgia bariátrica:
A maioria das pessoas recupera o peso após a cirurgia bariátrica
Mito. “Existe um equívoco comum de que todo mundo que faz cirurgia bariátrica acaba recuperando peso”, afirma o especialista. “No entanto, estudos de longo prazo mostram que muitos pacientes conseguem manter uma perda de peso significativa, especialmente aqueles que seguem rigorosamente as orientações médicas e adotam um estilo de vida saudável”.
Não é recomendado fazer cirurgia se quiser engravidar.
Mito. “Muitos acreditam que a cirurgia bariátrica previne a gravidez, mas isso não é verdade. Muito pelo contrário. O ideal é fazer a cirurgia antes de pensar em gravidez, pois o peso pode ser um fator de risco para a gestante e seu bebê. Apenas ressalto que recomenda-se que as pacientes esperem pelo menos dois anos antes de tentarem engravidar, para permitir que o corpo se adapte à nova condição. Após este período, a fertilidade pode até melhorar”, afirma José Afonso.
Cirurgia bariátrica deixa grande cicatriz
Mito. “Com os avanços da tecnologia, a maioria das cirurgias bariátricas são realizadas por laparoscopia, o que minimiza as cicatrizes. Essas cirurgias são menos invasivas, resultam em menos dor e promovem uma recuperação mais rápida”.
Cirurgia bariátrica é arriscada
Mito. “O risco de complicações graves decorrentes da cirurgia em si é baixo. Na verdade, estudos demonstraram que o risco é menor do que na cirurgia da vesícula biliar, por exemplo. O importante é procurar um bom profissional, com referências, e que conte com uma equipe multidisciplinar — nutricionista, psicólogo e psiquiatra —, pois o sucesso do procedimento depende também de um conjunto de ações que vão além da cirurgia.”
Planos de saúde não cobrem cirurgia para perda de peso
Mito. “Embora a cobertura do plano de saúde possa variar, muitas seguradoras oferecem cobertura para cirurgia bariátrica e até reembolso. O ideal é que o paciente consulte sua seguradora e consulte uma clínica especializada para obter todas as informações necessárias”, explica o especialista.
Entender mais sobre o procedimento e saber o que se espera é fundamental para trazer segurança ao paciente. Por outro lado, existem verdades importantes que também precisam ser discutidas com o médico.
“Uma grande verdade sobre a cirurgia bariátrica é que os benefícios vão muito além da perda de peso. Com o procedimento, o paciente reduz o risco de desenvolver diversas doenças graves, como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardíacas, melhorando a sua saúde geral”, reforça José Afonso.
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