Embora a incidência seja maior entre as mulheres, a incontinência urinária É também uma realidade presente na vida do público masculino. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), 15% dos homens com mais de 40 anos sofrem perda involuntária de urina e o assunto ainda é considerado tabu.
Existem dois tipos principais de incontinência urinária entre os homens: relacionada à urinária hiperatividade da bexigaque é caracterizado pelo aumento da atividade do órgão, e incontinência de esforço, isso é um pouco menos comum e frequentemente associado ao tratamento do câncer de próstata.
Nas intervenções para hiperplasia prostática, ou seja, aumento benigno do órgão, o risco de incontinência pós-operatória, embora possível, é muito baixo.
É importante ressaltar que a incontinência urinária, na maioria dos casos, é uma condição tratável e, mesmo assim, seus primeiros sinais costumam ser ignorados pelo público masculino, o que não deveria acontecer.
Segundo nova pesquisa realizada pela TENA, marca de produtos para incontinência urinária, mais da metade dos homens brasileiros com incontinência não reconhecem os primeiros gotejamentos involuntários como algo fora do comum. De um total de 238 entrevistados, 63% não prestaram a devida atenção no início, entendendo-a como uma condição normal.
Apenas 17% afirmaram ter procurado ajuda médica. Nos casos analisados pela pesquisa existe a consciência de sentir as primeiras fugas. A maioria relata que percebeu que suas roupas íntimas estavam úmidas ou molhadas; outros afirmaram que sentiram vontade de urinar, mas não conseguiram segurar até chegar ao banheiro e alguns também disseram que outra pessoa notou que suas calças estavam molhadas.
Essas perdas de urina são inicialmente ocasionais, acontecendo de uma a três vezes por semana, podendo ocorrer em diferentes momentos do dia a dia, principalmente antes e depois de ir ao banheiro. Mesmo que esses vazamentos, na maioria dos casos, sejam leves, eles impactam negativamente a vida desses homens. Questões da vida diária, como rotina, bem-estar mental, vida social e autoestima podem ser afetadas até certo ponto pela incontinência urinária.
Até a vida sexual pode ficar comprometida para quem convive com a incontinência urinária. Esse estigma acarreta risco de isolamento emocional para o paciente e insegurança em relação à própria imagem, o que pode afetar gravemente a forma como o homem se vê, tornando as interações sociais mais desafiadoras e, em muitos casos, levando esse indivíduo a evitar situações que antes eram prazerosas .
A preocupação constante com possíveis episódios de fuga pode se traduzir em estado de alerta excessivo, interferindo no relaxamento e na realização das atividades diárias.
Medidas paliativas
O diagnóstico da incontinência urinária também exige outras alterações necessárias à adaptação a esta condição, que vão desde mudanças nos hábitos de higiene pessoal, como tomar mais banhos durante o dia, até as chamadas “medidas paliativas”.
Para gerenciar os vazamentos e sem acesso a informações adequadas sobre o assunto, como a de que existem produtos específicos para lidar com gotejamentos involuntários de urina, os homens recorrem a estratégias desaconselháveis para lidar com a incontinência, como usar papel higiênico para absorção e perfume para controle de odor.
Na pesquisa citada, 41% dos pacientes com perda de urina afirmaram já ter utilizado papel higiênico para lidar com o quadro. Toalhas de papel, lenços de pano também estão entre as alternativas ineficientes adotadas por esses homens, assim como usar duas cuecas ou shorts extras por baixo da calça.
Apesar da existência de produtos específicos para incontinência urinária, capazes de controlar o odor, com boa absorção de urina e, principalmente, adequados à anatomia masculina, muitos homens ainda utilizam absorventes femininos para controlar as perdas.
O diagnóstico
Tal como acontece com as mulheres, a avaliação da incontinência urinária nos homens é um processo que requer uma abordagem cuidadosa e abrangente por parte de um médico.
A primeira etapa geralmente envolve a coleta de dados para criar um histórico médico detalhado, no qual são discutidos sintomas, frequência de episódios de vazamento e quaisquer episódios médicos relevantes, como doenças pré-existentes, cirurgias anteriores e uso de medicamentos.
O exame físico é fundamental e pode incluir a avaliação do tônus muscular do assoalho pélvico, além de exame neurológico para descartar ou detectar casos de doenças degenerativas, como Parkinson ou esclerose múltipla, entre outros problemas do sistema nervoso.
Exames complementares, como ultrassonografia, podem ser realizados em casos específicos para auxiliar na avaliação e identificar possíveis obstruções ou anomalias estruturais. Neste contexto, o estudo urodinâmico permite obter informações objetivas sobre o funcionamento do trato urinário e, consequentemente, uma melhor caracterização da incontinência.
O tratamento
Os casos de mau funcionamento da bexiga (bexiga hiperativa) são tratados inicialmente com intervenções comportamentais, farmacológicas e, em casos mais graves, abordagens cirúrgicas. As medidas para mudar hábitos incluem o retreinamento da bexiga e a restrição de alimentos e bebidas que irritam a bexiga, como café, refrigerantes, alguns tipos de chá e condimentos.
A reabilitação do assoalho pélvico, ou fisioterapia pélvica, desempenha um papel importante na retomada da continência. Do ponto de vista farmacológico, medicamentos que controlam os sinais entre as células nervosas e os músculos são frequentemente utilizados e são eficazes na redução da frequência urinária e na melhoria da qualidade de vida.
Em relação à incontinência urinária de esforço, o tratamento pode ser ainda mais desafiador no caso dos homens do que das mulheres, destacando a importância de uma abordagem multidisciplinar no manejo desta condição. As opções terapêuticas incluem as mesmas medidas comportamentais e fisioterapêuticas descritas acima, seguidas de técnicas cirúrgicas. Cada caso deve ser avaliado individualmente.
A cirurgia “sling”, que consiste na colocação de uma faixa de material sintético ou tecido sob a uretra para auxiliar sua oclusão, é uma alternativa minimamente invasiva que visa devolver a continência ao paciente. O implante de esfíncter artificial é considerado padrão ouro para casos mais graves, oferecendo uma solução eficaz, mas com limitações que incluem alto custo e treinamento especializado da equipe cirúrgica.
Quase metade dos homens ainda considera a incontinência urinária um tabu, embora as conversas sobre o assunto possam ocorrer com amigos, familiares ou médicos. A saúde dos homens deve ser tratada de forma autônoma pelo público masculino.
A discussão sobre o tema precisa ser ampliada para que haja conhecimento sobre tratamentos e produtos específicos para o manejo dessa condição e proporcionar bem-estar aos homens que convivem com a incontinência urinária.
* José Carlos Truzzi é urologista, doutor pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), médico da Divisão de Urologia do Instituto do Câncer Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho e diretor do Departamento de Distúrbios Miccionais da Confederação Americana de Urologia
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