Bebês prematuros: fortaleza para lutar pela vida – Jornal Estado de Minas

Bebês prematuros: fortaleza para lutar pela vida – Jornal Estado de Minas



Um momento que deveria ser de felicidade vira aflição. Qual é o sentimento de uma mãe que não consegue sair da maternidade com o filho nos braços após o parto? Para muitos, uma realidade dolorosa e incerta. O nascimento prematuro acarreta desafios emocionais e físicos. Sem avisar, toda a expectativa se transforma em dias de angústia e espera na UTI neonatal. Os pais veem seus bebês lutarem por suas vidas e contar com o apoio das equipes médicas e familiares é essencial.

O casal precisa ser acolhido, e a boa notícia é que essa é uma jornada que muitas vezes termina bem. O assunto ganha especial relevância neste mês, Novembro Roxo, dedicado à conscientização sobre a prematuridade, que atinge 15 milhões de crianças todos os anos em todo o planeta, segundo o Ministério da Saúde. A data oficial é no próximo domingo (17/11), Dia Mundial da Prematuridade.

Além de ser responsável por 70% das morbimortalidades neonatais, a prematuridade pode repercutir na infância e na vida adulta. Há chances de a criança apresentar sequelas, problemas neurológicos, doenças diversas, necessitando de internação. São desequilíbrios respiratórios, metabólicos, hemodinâmicos (relacionados à circulação sanguínea), infecções sistêmicas, alterações neurológicas, hemorragia intracraniana e distúrbios oculares, entre outras doenças.

Prematuro é a criança que nasce prematuramente, ou seja, antes de completar 37 semanas de gestação. Eles são classificados de acordo com a idade gestacional. Há o bebê prematuro limítrofe, nascido entre 36 e 37 semanas; moderado, nascido entre 31 e 36 semanas; e parto prematuro extremo é aquele nascido a partir da 24ª semana ou menos. É o que explica a pediatra da UTI Neonatal (UTIN) do Mater Dei Santo Agostinho, Ana Maria Latorre Fortes, que atua na unidade do hospital há 38 anos.

O termo médico utilizado para designar a chance de sobrevivência, explica Ana Maria, é viabilidade. A partir do limite mínimo que a criança precisa vir ao mundo para sobreviver, 23 semanas, a prematuridade é considerada nas faixas de desenvolvimento.

O intervalo de 23 a 24 semanas é chamado de zona cinzenta – a chance de mortalidade é alta. “Quando o bebê sobrevive, há risco de consequências graves, como hemorragia no sistema nervoso, que pode desencadear paralisia cerebral ou microcefalia, displasia pulmonar, doença pulmonar grave e retinopatia da prematuridade, com risco de perda da visão”, diz Ana Maria, sobre esses são os principais problemas dessas condições – os mais graves são os que envolvem os sistemas nervoso e respiratório.

A prematuridade extrema é a causa mais frequente de morte em recém-nascidos. Além disso, os bebés muito prematuros também correm um risco elevado de problemas a longo prazo, particularmente atrasos no desenvolvimento, paralisia cerebral e distúrbios de aprendizagem.

Entre 24 e 28 semanas, a chance de sobrevivência aumenta, mas ainda existem riscos importantes, com as mesmas consequências no caso de bebês extremamente prematuros. A partir das 27 semanas a viabilidade é maior, explica a pediatra, que explica que, entre as 24 e as 28 semanas, o bebé geralmente nasce com peso entre 500 e 800 gramas, e mede entre 34 e 35 centímetros, valores considerados perigosos. Para efeito de comparação, um bebê nascido na hora certa pesa entre 2,5 e 2,8 quilos, medindo entre 46 e 48 centímetros, para as meninas, e entre 2,8 e 3,1 quilos, medindo 39 a 51 centímetros, para os meninos.

Ana Maria informa ainda que, na maioria dos casos, os bebés prematuros passam entre três a quatro meses internados quando nascem com menos de 28 semanas. Depois que pai e mãe voltam para casa, a UTI neonatal fica aberta 24 horas para que eles possam ficar com o bebê, se desejarem, inclusive amamentando. Para a alta há alguns critérios de segurança: peso mínimo de 1.850 quilos, estar amamentando sem sonda há pelo menos 24 horas (amamentação materna, geralmente) e sem uso de oxigênio há cinco a sete dias, com idade gestacional de 35 anos. semanas (completo fora da barriga). “Estudos já comprovaram que uma menina recém-nascida prematura evolui melhor que um menino”, afirma.

Entre os fatores que influenciam o parto prematuro, segundo o médico, estão algumas doenças da mãe, como eclâmpsia e pré-eclâmpsia, descolamento ou calcificação da placenta, trombofilia (aparecimento de coágulos na placenta), doenças virais, como como Zika e HIV, infecção do trato urinário e outras infecções. “Quando o quadro intrauterino é ruim – o bebê para de crescer ou sofre, por exemplo –, com cenários de risco para mãe e filho, pode ser necessário que o obstetra intervenha e decida pelo parto, principalmente cesárea, com antecedência. São medidas para proteger ambos”, afirma Ana Maria.

A predisposição à prematuridade não tem relação com herança genética, mas, quando o primeiro filho nasce prematuro, um possível segundo filho tem chance de ser prematuro também, continua a pediatra. Há também a influência de síndromes genéticas, que podem ser detectadas em algum momento do pré-natal, no nascimento precoce, como as trissomias dos cromossomos 21, 13 ou 18. “Outros países autorizam o aborto se a mãe não quiser continuar com o aborto. gravidez Mesmo quando é pouco provável que o bebé sobreviva após o nascimento”, explica Ana Maria, como é o caso dos bebés que não desenvolvem um órgão vital.

O nascimento de um bebê prematuro, ressalta o médico, envolve uma família inteira. É uma fase de fragilidade, ansiedade, incertezas e medos, essencialmente sobre como a criança irá evoluir. É preciso que os médicos conversem com o casal, sem ilusões, e que esse casal se sinta acolhido em seu sofrimento. Ana Maria reforça que é preciso viver um dia de cada vez, para dar conta. Até o bebê ficar bem e ganhar estrutura é um vaivém, de situações e emoções. “Haverá dias bons e dias ruins. É importante focar nas coisas positivas de cada dia para ter forças para chegar ao dia seguinte. Por outro lado, é comum pensar que esses bebês são frágeis. não, eles são uma fortaleza. Eles têm uma força vital enlouquecedora.

Milagre e fé

Para a autônoma Gleice Lopes Cini Costa, 41, e o marido, a pequena Laura é um milagre. Extremamente prematura, ela nasceu com 26 semanas, pesando 610 gramas. A permanência no Mater Dei Santo Agostinho durou quatro meses. Gleice conta que teve pré-eclâmpsia precoce e, no hospital, era constantemente avaliada, com monitorização da pressão arterial e ultrassonografias diárias.

“Consegui segurar a gravidez por mais uma semana, mas eventualmente tivemos que realizar um parto de emergência. O procedimento foi rápido. Em dois minutos ela foi entubada e levada diretamente para a UTI Neonatal”, relata ela, que também enfrentou complicações com o cordão umbilical, que não fornecia nutrientes adequadamente ao bebê, resultando em baixo peso ao nascer.

Durante o período de internação, Laura apresentou diversas complicações: hemorragia cerebral, persistência do canal arterial aberto e múltiplas transfusões de sangue, além de ter sido intubada e extubada quatro vezes.

“Confiamos muito em Deus, que nos fortaleceu durante todo esse período, e também na equipe do hospital, que nos deu apoio psicológico e emocional. Hoje, Laura tem um ano e dois meses, faz fonoaudiologia e fisioterapia, e está desenvolvendo bem, sem nenhuma sequela, graças a Deus ela respondeu positivamente a todo o tratamento e já está começando a sentar. Estamos aproveitando cada momento juntos”, conta a mãe.

Para a empresária Isabella de Andrade, 39, e a empresária Marina da Luz Lampert, 36, o intervalo entre a gravidez e o nascimento prematuro de Joaquim foi cheio de incertezas e de apenas uma certeza: a fé. De Fertilização In Vitro (FIV), Joaquim nasceu com 24 semanas e já está com quase seis meses. Devido à prematuridade, a idade de desenvolvimento é de dois meses.

“Acordei no dia 10 de maio, completando 24 semanas de gravidez e tínhamos uma ultrassonografia marcada. Eu estava sentindo dores estranhas, parecia uma indigestão. a dor estava aumentando. A ultrassonografia estava marcada para as 17h. Chegamos no Mater Dei às 14h com contrações e dilatação a cada sete minutos, com duração de um minuto, e a dilatação era de quatro centímetros. Isabela.

Após uma série de exames, foi diagnosticada uma infecção e a situação mudou. O procedimento da cesariana foi rápido. “Até às 22h chegamos e ouvimos três vezes um choro baixinho. Sentimos que ele estava forte para nascer, pesando 798 gramas e 29,5 centímetros”, conta Isabella.

Os dois dizem que nunca imaginaram passar 112 dias na UTI neonatal. Foram vários sustos, três vezes entubado, duas cirurgias oftalmológicas. “Muitas incertezas, mas uma certeza, a nossa fé. Até hoje vivemos sem acreditar que ele realmente é perfeito.”

Hoje o pequeno Joaquim pesa cinco quilos e 57 centímetros. Ele está sendo acompanhado por um oftalmologista para retinopatia da prematuridade, mas sua visão está normal. “Tudo o que podemos fazer é agradecer a todos os envolvidos e ao nosso filho por lutar todos os dias”.

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