O exploração predatória do planeta, guiado por uma ambição imediata e negativa, ignora os efeitos devastadores do desrespeito ao meio ambiente. Certamente, a destruição das florestas, a poluição dos rios, mares e cidades, com alterações nos biomas, provocam um grave desequilíbrio, que se reflete no aquecimento global, nas secas e nas catástrofes. E sim, tudo isso tem impacto saúde humana.
O medo de futuros desastres relacionados com o clima e a dúvida sobre o que está por vir podem causar ansiedade e desesperança, com um risco aumentado de suicídio. Embora ainda não exista uma síndrome formalmente reconhecida, o termo “ecoansiedade” tem sido amplamente utilizado para descrever o sofrimento decorrente de preocupações com o meio ambiente e as mudanças climáticas.
As populações mais vulneráveis incluem crianças e adolescentesque, por estarem em fase de desenvolvimento, não possuem mecanismos de enfrentamento adequados. E idosoque podem ser mais suscetíveis devido ao risco de solidão, declínio físico e cognitivo.
Além desses grupos, populações de baixa rendaque convivem com a perda de recursos financeiros e materiais em situações de vulnerabilidade nutricional e habitacional.
Para que os jovens possam enfrentar a ameaça das alterações climáticas, é essencial proporcionar uma educação adequada à idade e incentivar a participação em projetos comunitários relacionados com a sustentabilidade e a ação climática. E garanta o acesso a recursos de saúde mentalcomo grupos de aconselhamento e apoio, especificamente adaptados para lidar com a ansiedade e o stress relacionados com o clima. Além de promover o engajamento em projetos focados em soluções climáticas.
No caso dos idosos, é importante incentivar atividades e conexões sociais que fortaleçam um sentido de comunidade e apoio, forneçam informações claras e acessíveis sobre as alterações climáticas e os seus potenciais impactos.
Como estratégias gerais para a comunidade, é necessário estimular atividades que conectem os indivíduos com a sociedade e a naturezapromover um sentido de comunidade e de apoio entre as pessoas afectadas pelas alterações climáticas e defender políticas que abordem tanto as alterações climáticas como os seus impactos na saúde mental.
Exemplo claro e dramático do que já vivemos, o enchente no Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2024 foi catastrófico, sendo considerado um dos maiores desastres climáticos da história do estado.
Outro desastre significativo no país foi o grave incêndios florestais, intensificada pela seca. Na Amazônia, os incêndios aumentaram exponencialmente, com quase 54 mil focos registrados até setembro, marcando o maior número em 14 anos.
O Pantanal enfrentou uma das piores temporadas de incêndios da história recente. Entre 1 e 27 de agosto de 2024, foram registados mais de 3.800 surtos, devastando a rica biodiversidade da região e causando graves danos a inúmeras espécies.
O solidariedade é frequentemente visto após um desastre. Mas podemos envolver-nos e unir-nos para também prevenir catástrofes e perturbações de saúde mental que as acompanham.
* Antonio E. Nardi é psiquiatra e professor do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRJ, além de membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciências; Jair de Jesus Mari é psiquiatra, professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e coordenador da Seção de Saúde Mental Urbana da Associação Mundial de Psiquiatria
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