Precisamos falar sobre cirurgia plástica na região…

O Brasil é um dos campeões mundiais em cirurgias plásticas. Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps), os brasileiros realizaram 3,3 milhões de procedimentos estética apenas no ano passado, o que nos coloca em segundo lugar no ranking global.

Dentro desse movimento, há uma categoria que ganha força no país, mas continua cercada de muito mistério e confusão: a cirurgia plástica íntima. Muitas pessoas associam estes procedimentos exclusivamente a cirurgias de ajustamento de género (ou “mudança de sexo”, como diziam), mas também há um leque enorme de possibilidades. As cirurgias íntimas também servem para melhorar a aparência e a funcionalidade dos órgãos genitais.

Embora existam opções para ambos os sexos (aliás, é crescente o número de homens que procuram este tipo de procedimento), a ninfoplastia continua a ser a mais solicitada. Esta é uma cirurgia para harmonização da vulvaque inclui corrigir assimetriasclarear a pele, reduzir ou aumentar o tamanho dos pequenos e grandes lábios, além de rejuvenescer a região, entre muitas outras possibilidades.

Só em 2023, foram realizadas quase 13 mil ninfoplastias no Brasil, segundo o Isaps. Um dos motivos desse número é a simplicidade do procedimento: na maioria das vezes, pode ser realizado com anestesia local e sedação. Dependendo do caso, o procedimento também pode ser realizado em centro cirúrgico ambulatorial. A maioria dos pacientes não sente dor e a recuperação é bastante rápida.

As razões pelas quais as pessoas procuram este procedimento são variadas. É um mito que os pacientes procurem a ninfoplastia apenas por motivação sexual. Aliás, há uma pesquisa americana, realizada pela Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética (Asaps), que mostra aumento da frequência sexual e do prazer após a ninfoplastia. Isso porque a cirurgia pode melhorar a sensibilidade devido à retirada de tecidos já desvitalizados. Mas é preciso falar sobre o fator autoestimaque melhora após o procedimento.

Não existe um modelo de vulva “perfeito”, mas sentir desconforto com a aparência dos órgãos genitais é normal, principalmente após as alterações hormonais que ocorrem nas mulheres ao longo da vida.

Essas alterações, aliadas à gravidez e ao parto, por exemplo, podem deixar a região mais envelhecida, o que leva a paciente a procurar o cirurgião para rejuvenescimento da região íntima. Neste momento é importante ter um bom acompanhamento médico, que inclui saúde mentale um cirurgião plástico que saiba avaliar cada caso e indicar o melhor caminho.

Globalmente, o impacto destes procedimentos é positivo. Uma pesquisa realizada no Brasil pelo Instituto de Cirurgia Íntima com mais de cem pacientes submetidos à ninfoplastia mostrou que 87,6% deles relatam uma grande melhora na autoestimabem como maior conforto físico e emocional.

A boa notícia é que as cirurgias íntimas podem ser realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), desde que o paciente atenda a determinados critérios médicos. Os planos de saúde privados também cobrem os custos desses procedimentos, conforme tabela da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Em ambos os casos, porém, não estão contempladas cirurgias plásticas com objetivos puramente estéticos. A cirurgia plástica íntima não tem o poder de resolver magicamente questões ligadas à autoestima e à saúde sexual – como, aliás, nenhum procedimento tem. Mas pode ser um passo importante na busca por uma melhor qualidade de vida.

* Gerson Julio é cirurgião plástico, membro da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica