Morte assistida: quais países permitem o procedimento? – Jornal Estado de Minas

Morte assistida: quais países permitem o procedimento? – Jornal Estado de Minas



O escritor e compositor brasileiro Antonio Cícero morreu na manhã desta quarta-feira (23/10) após passar por um procedimento de suicídio assistido na Associação Dignitas, na Suíça. Ele era membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), que confirmou a informação. Cícero procurou o procedimento porque tinha mal de Alzheimer. Ele deixou uma carta de despedida explicando sua decisão. Segundo a ABL, Cícero foi a Paris na semana passada com o companheiro, Marcelo Tortas. De lá, seguiram para Zurique.

Segundo a ABL, Marcelo disse que Antonio Cícero já planejava há algum tempo ir para a Suíça. Ele enviou documentos e informações para a clínica, mas não queria que soubessem. “Passamos alguns dias em Paris para que ele se despedisse da cidade que tanto admirava”, disse Marcelo, que enviou a carta de despedida do poeta aos amigos.

Países que permitem o suicídio assistido

Mas quais países permitem o suicídio assistido e como isso é feito? No Reino Unido, por exemplo, a proposta de legalização do suicídio assistido na Inglaterra e no País de Gales foi rejeitada em 2015 pelos parlamentares, na primeira votação sobre o tema em quase 20 anos. O projeto que permite que adultos com doenças terminais terminem suas vidas com supervisão médica recebeu 330 votos contra e apenas 118 a favor.

Esta foi a primeira vez desde 1997 que os parlamentares votaram sobre o suicídio assistido, uma questão que dividiu a opinião pública no Reino Unido. A rejeição do projeto faz com que a lista de países onde o “direito de morrer” é garantido continue bastante restrita. Apenas cinco em todo o mundo permitem o suicídio assistido, procedimento em que os pacientes aplicam medicamentos em si mesmos. E, em número menor (quatro), a eutanásia, quando o coquetel é aplicado no paciente pelos médicos, é descriminalizada em circunstâncias especiais.

Holanda

Em abril de 2002, a Holanda tornou-se o primeiro país do mundo a legalizar a eutanásia e também a descriminalizar o suicídio assistido. O país, porém, impôs uma série de condições: a doença diagnosticada deve ser incurável e o paciente deve estar sofrendo de dores “insuportáveis”, sem perspectiva de melhora. O paciente ainda deve fazer o pedido de assistência para morrer ainda “plenamente consciente” e manter esse desejo ao longo do tempo.

O ponto mais polêmico da nova norma é provavelmente a previsão de idade para a prática, permitida para pacientes a partir de 12 anos, embora aqueles até 16 anos devam ter autorização de seus responsáveis ​​legais. Os membros da Associação Médica Cristã dizem que a legislação saiu desde então de controlo, com um aumento de 15% nos casos em 2014, para cinco mil suicídios assistidos. Mas um estudo publicado na revista científica “The Lancet” em 2012 contradiz esta crença, afirmando que o número de pessoas que morreram por eutanásia ou suicídio assistido não aumentou depois da lei.

Suíça

É talvez o país mais conhecido pela sua concessão legal ao direito de morrer. Isto se deve em parte à famosa clínica Dignitas, que oferece esse tipo de serviço e tem sido muito procurada por pacientes terminais que viajam para a Suíça para acabar com suas vidas. A lei do país permite o suicídio assistido, desde que não seja por “motivos egoístas”, como evitar pagar o sustento necessário ao paciente, por exemplo, ou antecipar o recebimento de uma herança. Tal transgressão é considerada crime pelo Código Penal Suíço. Para evitar a condenação, quem prestou o atendimento deve comprovar que o paciente sabia o que estava sendo feito e que fez um pedido “sincero” para que sua vida fosse encerrada durante um período de tempo.

Por sua vez, a eutanásia é considerada crime.

Bélgica

A Bélgica descriminalizou a eutanásia em 2002. Foi o segundo país a fazê-lo, depois dos Países Baixos. Os médicos podem ajudar os pacientes em sua morte, desde que haja uma longa história entre as duas partes. Ambos devem ser belgas e residir permanentemente no país. Os pacientes devem ter uma condição médica irreversível e estar passando por “sofrimento físico ou mental constante que não pode ser aliviado”. Eles só podem ser sacrificados se tiverem manifestado o desejo de fazê-lo antes de entrarem em estado vegetativo. E o médico deve estar presente no momento da morte.

Em Fevereiro de 2010, o país tornou-se o primeiro a legalizar também a eutanásia para crianças.

Estados Unidos

No país, a decisão sobre a legalidade do suicídio assistido cabe a cada Estado, sendo permitido em cinco deles (Washington, Oregon, Vermont, Novo México, Montana e Califórnia) enquanto a eutanásia ainda é ilegal em todos os Estados Unidos. No Oregon, o primeiro estado a legalizar o suicídio assistido, os médicos têm sido autorizados a prescrever cocktails de medicamentos em doses letais a pacientes terminais desde 1997.

Os pacientes devem ter mais de 18 anos, saber o que fazem e ter menos de seis meses de vida. Ainda é necessário fazer dois pedidos verbalmente e um por escrito, perante uma testemunha. Em 2014, os estados de Washington, Vermont e Montana aprovaram legislação nos moldes do Oregon.

Outros países

O Luxemburgo tem leis sobre a eutanásia e o suicídio assistido desde 2009, semelhantes às da Bélgica e baseadas no princípio da “liberdade de consciência” para os médicos. Na Colômbia, o primeiro caso de suicídio assistido foi autorizado pelo Ministério da Saúde em julho. Ovidio González, 79 anos, sofria de câncer terminal.

Na Alemanha, é permitido ao médico prescrever um coquetel letal a pedido do paciente. O tema está em debate no Legislativo, que poderá estabelecer novas regras sobre o suicídio assistido até novembro.

O mesmo vem acontecendo na província de Quebec, no Canadá, onde já foi aprovada uma lei que prevê sedação paliativa e assistência médica em casos de morte. A legislação entrará em vigor em dezembro.

E no Brasil?

Ambas as práticas são proibidas no Brasil. O Código Penal classifica o suicídio assistido como crime contra a vida através do seu artigo 122, que proíbe o ato de “induzir ou instigar alguém ao suicídio ou prestar assistência para tal”. O crime é punível com dois a seis anos de prisão quando o suicídio for consumado, ou de um a três anos se não ocorrer, mas resultar em lesões corporais graves.

A pena pode ser duplicada se o facto for praticado por “motivos egoístas” ou se a vítima for menor ou tiver “diminuição da capacidade de resistência”. A eutanásia é considerada homicídio simples, através da combinação do artigo 121, que trata do ato de “matar alguém”, e do artigo 29, que estende a culpa e as penas aplicadas ao crime a “quem, de qualquer forma, competir” por ele.

Desde 2006, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autoriza, por meio de resolução, que os médicos interrompam o tratamento de um paciente terminal, caso essa seja a vontade do paciente, prática conhecida como ortotanásia. A medida foi suspensa em 2007 por liminar da Justiça Federal expedida a pedido do Ministério Público Federal (MPF), para a qual tal prática só poderia ser autorizada por lei. Porém, em 2010, a liminar foi anulada pela Corte a pedido do próprio MPF após o órgão mudar de opinião sobre o tema.

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Se você é ou conhece alguém que apresenta sinais de alerta relacionados ao suicídio, ou se perdeu um ente querido por suicídio, confira alguns lugares para pedir ajuda:

– O Centro de Valorização da Vida (CVV), através do telefone 188, oferece atendimento gratuito 24 horas por dia; há também a opção de conversar, enviar e-mail e buscar postos de atendimento espalhados pelo Brasil;

– Para jovens de 13 a 24 anos, o Unicef ​​também oferece o chat Pode Falar;

– Em casos de emergência, outra recomendação dos especialistas é ligar para o Corpo de Bombeiros (telefone 193) ou para a Polícia Militar (telefone 190);

– Outra opção é ligar para o SAMU, pelo telefone 192;

– Na rede pública local também é possível buscar atendimento nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas;

– Confira também o Mapa de Saúde Mental, que ajuda você a encontrar atendimento gratuito em saúde mental em todo o Brasil.

– Para quem perdeu alguém por suicídio, a Associação Brasileira de Sobreviventes por Suicídio (Abrases) oferece grupos de assistência e apoio.



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