Mulher é curada de diabetes tipo 1 após transplante com células reprogramadas em laboratório – Jornal Estado de Minas

Mulher é curada de diabetes tipo 1 após transplante com células reprogramadas em laboratório – Jornal Estado de Minas



SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) – Pesquisadores chineses conseguiram usar células reprogramadas em laboratório para reverter o quadro diabetes tipo 1 de uma mulher de 25 anos. Se o feito for replicado com sucesso em mais pacientes, será o maior avanço feito até agora contra a doença, que hoje costuma exigir que os pacientes façam uso constante de insulina.

As células utilizadas pelos cientistas desempenham a mesma função dos componentes do pâncreas que, em pessoas sem diabetes tipo 1, produz naturalmente insulina, hormônio que regula os níveis de glicose (açúcar) no sangue. Nas pessoas com esse problema de saúde ocorre uma reação autoimune, ou seja, o sistema de defesa do organismo se volta contra ela. As vítimas do processo são justamente as células do pâncreas que liberam insulina, que acabam sendo destruídas.

Detalhes sobre o estudo foram publicados em edição recente da revista especializada Cell, uma das mais prestigiadas do mundo. O trabalho foi coordenado por Deng Hongkui, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Pequim. Hongkui disse ao site da revista científica britânica Nature que mais dois pacientes também foram submetidos a transplante de células, com resultados igualmente positivos, e que a equipa chinesa espera expandir os testes a um grupo de até 20 pessoas a partir do final de 2024.

O trabalho publicado na Cell corresponde à chamada fase 1 dos ensaios clínicos, que tem como principal objetivo demonstrar a segurança de um medicamento ou procedimento médico. Os dados de eficácia, embora bem-vindos, não são considerados conclusivos.

O grande diferencial do trabalho é a utilização das chamadas células iPS (células-tronco pluripotentes induzidas). Para criá-los, é como se os cientistas colocassem células normais da pele ou de outras regiões do corpo de uma pessoa adulta em uma máquina do tempo de desenvolvimento celular. Usando um coquetel de substâncias, os especialistas as devolvem a um estado muito semelhante ao das células de um embrião com apenas alguns dias de vida. Isso significa que adquirem um caráter genérico, o que lhes permite dar origem a todos os tipos de células que formam o organismo adulto, como neurônios, células cardíacas ou componentes ósseos.

Portanto, também é possível ensinar as células iPS a se transformarem em células beta, responsáveis ​​pela produção de insulina. E com a possível vantagem de evitar a rejeição: se os iPS fossem derivados do próprio paciente, a reinserção de células beta produzidas a partir deles não causaria os problemas causados ​​por um transplante de células de outra pessoa.

Esse aspecto ainda não foi testado no caso da chinesa, porque ela já fazia uso de medicamentos imunossupressores (que reduzem a ação do sistema de defesa do organismo), devido a um transplante de fígado que recebeu anteriormente. Da mesma forma, ainda não é possível saber, no caso da mulher, se o seu sistema imunológico atacaria os novos produtores de insulina, como acontecia anteriormente com o seu pâncreas natural. Em tese, isso poderia anular, com o tempo, os benefícios do transplante.

Este é um problema que outros investigadores tentam ultrapassar, procurando transplantar células produtoras de insulina protegidas por uma concha que previne ou minimiza o ataque contraproducente do sistema imunitário do receptor.

A receptora chinesa do transplante começou a produzir sua própria insulina menos de três meses após a operação, que inseriu as células nos músculos abdominais. Hoje, seu metabolismo é praticamente igual ao de uma pessoa saudável. “Agora posso comer açúcar”, disse ela à Nature, pedindo para não ser identificada.

Ainda não está claro até que ponto a abordagem poderia ser útil para pessoas com diabetes tipo 2, o tipo mais comum do problema, que surge principalmente devido à má alimentação e ao sedentarismo (o diabetes tipo 1 parece estar mais ligado a fatores genéticos e tende a aparecer mais cedo). No diabetes tipo 2, além de uma possível falta de insulina, as células do paciente também se tornam resistentes à insulina que o corpo continua a produzir.



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