Recentemente, relatórios relataram que o Instituto Butantan decidiu suspender desenvolvimento de um vacina nacional contra o COVID-19 após os resultados do estudo clínico de fase II terem sido inferiores ao esperado. Ficar aquém das expectativas significaria que o projeto não teve sucesso? Absolutamente não! A vacina em questão dobrou a quantidade de anticorpos contra o vírus, ou seja, ofereceu proteção contra a doença. Contudo, o objetivo era quadruplicar esse indicador, equiparando os imunizantes existentes.
O projeto certamente beneficiou a instituição com ainda mais conhecimento sobre o processo científico e tecnológico que apoia este tipo de desenvolvimento. Vale lembrar que o Butantan tem outras vacinas promissoras em estudo, como a fórmula contra denguealém de já produzir diversos imunizantes incluídos no calendário de vacinação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do SUS, como a vacina tríplice bacteriana e as picadas para hepatites A e B.
A decisão de interromper o estudo é bastante racional do ponto de vista sanitário, econômico e social, critérios objetivos para orientar os investimentos em tecnologia e saúde. Pelas mesmas razões, a sociedade deve apoiar massivamente os projectos de desenvolvimento de vacinas, independentemente das instituições de investigação do país.
Em termos económicos, para citar um estudo realizado por pesquisadores da Universidade John Hopkins, nos EUAanálises indicam que 1 dólar investido em vacinas gera até 44 dólares poupados para os sistemas de saúde em países de baixo e médio rendimento. A mesma pesquisa confirma os benefícios sociais e o impacto positivo na saúde da população.
O caminho para desenvolver um novo imunobiológico seguro e eficaz é complexo. Além dos investimentos necessários, é fundamental contar com recursos humanos altamente especializados e laboratórios de última geração. É uma jornada longa, com tentativas fracassadas, mas de muito aprendizado.
Já o sucesso das pesquisas realizadas em nosso país traz os benefícios já mencionados e a independência da nossa cadeia de fornecimento. Criar esta autonomia significa estabelecer a segurança da população para a prevenção de doenças evitáveis e, em cenários de pandemia que exigem a criação de uma vacina, permite a implementação de soluções internas com maior rapidez e flexibilidade.
A evidência de que vacinas são produtos que salvam vidasprevenir inúmeras doenças e reduzir os custos do sistema de saúde. A sociedade tem acesso a dados e indicadores que corroboram estas afirmações, apesar de uma minoria que insiste em negar os factos. Apesar disso, insistiremos em defender a continuação do investimento no progresso da saúde do nosso país.
*Rosana Richtmann é infectologista, diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e consultora de vacinas da Dasa
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