Formação médica em crise | VEJA

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O saúde O país brasileiro enfrenta um grande desafio: má formação médica. Uma das principais causas é a educação atualmente oferecidas pelas escolas médicas, que por vezes parecem valorizar mais o número de alunos matriculados do que a qualidade do ensino.

Hoje, 389 instituições oferecem graduação em medicina, tendo sido abertas quase 200 nos últimos dez anos. A grande maioria deles não atende a critérios básicos para formação estudantil, como existência de leitos SUS para prática médica, programas de residência, hospital universitário e corpo docente qualificado.

Cerca de 80% dessas faculdades não atendem a pelo menos um desses requisitos, segundo nota emitida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Após a formatura, o próximo passo são os estudos de pós-graduação. sentido latoa residência médica -, essencial para lapidar e dar consistência à formação do médico. Hoje, porém, com a abertura irresponsável de inúmeros cursos, cerca de 40 mil jovens se formam todos os anos, e só há vagas para 20 mil calouros.

Nesse cenário, muitos egressos nem sequer buscam fazer residência, seja pela alta concorrência, pela baixa remuneração ou pela necessidade de pagar o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) ao final do curso, levando-os a começar a trabalhar rapidamente para saldar suas dívidas. , em vez de aprimorar seus conhecimentos.

O próximo passo é especialização. O título de especialista pode ser obtido ao final de residência médica credenciada pelo Ministério da Educação, ou por meio de prova anual realizada pelas 54 Sociedades de Especialidades do Brasil e referendada pela Associação Médica Brasileira (AMB).

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Porém, algumas instituições de ensino distorcem o conceito, oferecendo pós-graduação com “especialização” ao final de um curso de 360 ​​ou 400 horas, o que não se compara às 2.880 horas anuais de formação em residência médica.

O governo também contribui para o demolição do ensino médico ao ceder à pressão econômica de grandes grupos educacionais, autorizar o funcionamento de novos cursos privados de má qualidade paralelamente ao programa Mais Médicos e interferir na Comissão Nacional de Residência Médica para aumentar, de forma inconsequente, o número de especialistas em o país.

Se essa tendência continuar, estima-se que, até 2035, o Brasil terá mais de 1 milhão de médicos, segundo pesquisa Demografia Médica no Brasil 2023.

No entanto, isto não garantirá médicos para todos: distribuição dos profissionais permanecerá desigual, concentrado nos grandes centros. Formar mais médicos, e não melhores médicos, só levará a um declínio na qualidade dos cuidados prestados à população.

Um médico mal treinado Sobrecarrega o serviço de saúde como um todo, pois pode demorar mais para chegar ao diagnóstico e até exigir exames desnecessários, o que gera custos elevados tanto para o indivíduo quanto para o sistema, desperdiçando recursos.

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Em meio a circunstâncias tão graves, as formas de minimizar suas consequências seriam: aplicar uma exame teste de proficiência obrigatório para egressos do curso de medicina, nos moldes do realizado pela OAB para futuros advogados; crie um carreira do Estado para o médico, o que levaria a uma distribuição mais adequada pelo país; e evite o interferência governo na tentativa de aumentar o número de especialistas não qualificados.

Dessa forma, poderíamos registrar a qualificação dos alunos e monitorar a qualidade da formação médica – que hoje, infelizmente, está em crise.

* Antonio José Gonçalves é cirurgião e presidente da Associação Paulista de Medicina (APM)

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