A cidade de Rafah, em Gaza, tornou-se uma paisagem repleta de abrigos improvisados e lixo acumulado, onde as pessoas experimentam diariamente uma “sensação de perda e medo” enquanto procuram água, comida e segurança.
As declarações foram feitas esta quinta-feira pela Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras aos Refugiados Palestinianos, Unrwa, que informou que as pessoas no enclave são “perseguidas pela fome, pela doença e pela morte”.
Calor insuportável e acesso limitado à água
Mais de 1,5 milhões de palestinianos deslocados vivem em condições precárias em Rafah, onde o risco de propagação de doenças é elevado. Segundo a Unrwa, as taxas de diarreia e surtos de hepatite A são alarmantes.
Além disso, com a chegada do verão, as temperaturas dentro dos abrigos improvisados tornam-se insuportáveis. A agência da ONU alerta que o acesso à água doce é muito limitado, tornando o clima quente uma ameaça ainda maior à saúde.
Com as temperaturas a atingir cerca de 40ºC e a maioria das pessoas deslocadas a viver com todas as suas famílias em tendas de plástico, as condições estão a tornar-se “extremamente duras”.
O acesso à água, muitas vezes salgada, exige horas de espera em filas e o mesmo se aplica à utilização das casas de banho.
Bens essenciais “definham nos armazéns”
Segundo a relatora especial da ONU para os Territórios Palestinianos Ocupados, Francesca Albanese, a apenas 50 quilómetros da Faixa de Gaza, ajuda e bens cruciais para a manutenção da vida, incluindo “equipamento de dessalinização de água, kits de primeiros socorros, cilindros de oxigénio e sanitários portáteis, pagos por contribuintes em todo o mundo, definham em armazéns.”
Ela afirmou que o bloqueio de itens essenciais é imposto por Israel “sob o pretexto de uso por combatentes”.
Francesca Albanese disse esta quinta-feira que a situação em Gaza é pior do que se avaliava anteriormente, com implicações graves e multifacetadas a longo prazo.
Falando do Cairo, ela declarou que “o ritmo e a intensidade com que esta violência se espalhou pelo resto do território ocupado confirma que nenhum palestino está seguro sob o controle irrestrito de Israel”.
As ações de Israel “justificam o pedido de sanções”
Após visitas ao Egipto e à Jordânia, Albanese afirmou que a maioria das vítimas que conheceu sofreram ferimentos catastróficos, testemunharam a morte de familiares e experimentaram os efeitos da destruição da infra-estrutura de saúde de Gaza por Israel.
O relator especial destacou que os atos ocorreram mesmo após a decisão proferida pela Corte Internacional de Justiça, CIJ, em 26 de janeiro, ordenando que Israel evitasse o genocídio em Gaza.
Segundo ela, “as medidas humanitárias implementadas até agora, como lançamentos aéreos e corredores marítimos, “são um mero paliativo para o que é desesperadamente necessário e legalmente devido”.
O especialista considera que estas medidas são “inadequadas para aliviar a catástrofe humanitária que o ataque de Israel criou”. Para Albanese, “Israel renegou as suas obrigações internacionais a tal ponto que justifica um pedido de sanções”.
A relatora especial acrescentou ainda que os “horrores que as pessoas viram em Gaza são indescritíveis”, mas que a sua visita também confirmou o “agravamento da situação na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental”.
Ela mencionou restrições e abusos crescentes, detenções arbitrárias e execuções extrajudiciais cometidas tanto por soldados israelitas como por habitantes de colonatos armados.
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