Gêmeos de pais diferentes. Pode parecer algo estranho saído de uma novela. Mas este fenômeno, embora raro, pode realmente ocorrer na vida real. “Chamamos de superfertilização heteroparental quando, no mesmo ciclo menstrual, a mulher libera dois óvulos e cada um deles é fecundado pelo espermatozóide de um homem diferente. Nestes casos, a mulher desenvolverá uma gravidez gemelar com paternidade diferente, pois óvulos diferentes foram fecundados por espermatozoides diferentes”, explica o especialista em reprodução humana, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita, Fernando Prado. .
A médica explica que são necessárias duas condições para que ocorra a superfertilização heteroparental. “Primeiro, a mulher deve ter liberado dois óvulos no mesmo ciclo menstrual, o que é incomum. Pode acontecer, mas, normalmente, a espécie humana só libera um óvulo em cada ciclo”, afirma o especialista. “A segunda condição é que, neste ciclo em que foram liberados dois óvulos, a mulher tenha relações sexuais com dois homens diferentes para que cada um fertilize um dos óvulos”, diz Fernando, que acrescenta que é difícil determinar o momento intervalo em que essas relações devem acontecer. “A ovulação e a relação sexual devem ocorrer no mesmo ciclo menstrual, mas há um intervalo de alguns dias. Podemos pensar num prazo máximo, com certa margem, de uma semana. Este é um momento em que os óvulos poderão ser liberados e permanecer vivos para serem fertilizados. Durante um longo período de tempo, seria extremamente difícil acontecer.”
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De qualquer forma, a superfertilização heteroparental é um fenômeno muito raro, pois muitas coincidências precisam ocorrer simultaneamente. “A chance de um casal engravidar sem dificuldade conseguir uma gravidez natural em um ciclo menstrual é de apenas 10% a 15%. E a probabilidade de ser uma gravidez gemelar já é bastante rara por si só: um em cada 250 nascimentos”, pontua o médico. “Em relação à superfertilização heteroparental em si, não temos sequer estatísticas precisas na literatura médica para determinar qual é a chance de ela realmente acontecer, pois é necessário ovular mais de um óvulo no mesmo ciclo menstrual, a relação com dois parceiros diferentes em um curto período, a fecundação e implantação de dois óvulos e o desenvolvimento da gravidez. Então é extremamente raro, é praticamente como ganhar na loteria.”
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Segundo Fernando Prado, em caso de suspeita de superfecundação heteroparental, a melhor forma de confirmar o fenômeno e determinar a paternidade dos filhos é por meio de exames de DNA. “Durante a gravidez também é possível colher sangue do cordão umbilical de cada bebê para fazer esse teste de DNA. Mas é um procedimento muito arriscado e perigoso, por isso não é recomendado nestes casos. Preferimos esperar a criança nascer e só depois fazer o exame de DNA”, afirma o médico.
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O especialista destaca que esse fenômeno de superfertilização heteroparental só tem probabilidade de ocorrer em uma gravidez natural, mas não em procedimentos de Fertilização In Vitro, apesar de ser uma técnica conhecida por gerar gestações gemelares. “Isso porque, na Fertilização In Vitro, utilizamos apenas o sêmen de uma pessoa. A superfertilização heteroparental só ocorreria durante a fertilização in vitro se fosse feita intencionalmente, se o especialista fertilizasse propositalmente dois óvulos com espermatozoides diferentes. Porém, esse tipo de conduta é vetada pelo Conselho Federal de Medicina”, informa.
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