A detecção precoce do câncer é essencial para o sucesso do tratamento, mas muitos pacientes descobrem a doença em estágios mais avançados, quando o arsenal terapêutico é mais limitado. Em estudo com dados de 470 mil pessoas, pesquisadores da University College London (UCL), no Reino Unido, descobriram que, aliada às queixas dos pacientes, a análise de 19 anomalias em um exame de sangue comum pode ser um forte preditor de tumor oncológico . .
Na pesquisa, publicada na revista Plos Medicine, a equipe da cientista Meena Rafiq diz ter usado informações de um banco de dados de saúde, o UK Clinical Practice Research Datalink, sobre pessoas com mais de 30 anos que visitaram um clínico geral relatando dor abdominal ou inchaço. . Esses sintomas podem estar associados a diversas condições, desde as mais simples, como a prisão de ventre, até alguns tipos de câncer, como o de intestino e de ovário.
O objetivo dos cientistas era avaliar se um hemograma simples e rotineiro poderia ajudar os médicos a direcionar os pacientes para exames mais sofisticados no caso de um conjunto de parâmetros anormais. “Muitos pacientes com câncer não diagnosticados apresentam-se ao médico de cuidados primários com sintomas inespecíficos, que podem ser o resultado de várias outras causas benignas, tornando difícil determinar quem justifica exames diagnósticos adicionais ou encaminhamento”, explica Rafiq, pesquisador do Centro. para Epidemiologia e Saúde do Câncer da UCL. “Há orientações limitadas sobre sintomas não específicos de um determinado câncer para orientar a avaliação da doença e as decisões de encaminhamento.
Indicativos
Dos 470 mil pacientes avaliados, 9 mil que relataram dores abdominais e 1 mil com distensão abdominal foram diagnosticados, em um ano, com algum tipo de câncer. Os pesquisadores analisaram 19 resultados anormais de exames de sangue coletados após a primeira consulta para ver se conseguiam prever quem tinha maior probabilidade de ter um tumor maligno.
Tanto nos homens como nas mulheres, em todos os grupos avaliados, várias anomalias sanguíneas eram indicativas de risco de cancro. Por exemplo, este foi o caso de pacientes com idades entre 30 e 59 anos com sintomas abdominais, anemia, albumina baixa, plaquetas elevadas, ferritina anormal e marcadores inflamatórios. Nas pessoas com mais de 60 anos, apenas a presença de dor ou inchaço já bastava para justificar o encaminhamento ao oncologista.
O estudo mostrou quais tipos de câncer eram mais comuns com base na idade, sexo e anormalidade detectada no exame de sangue. Entre mulheres de 50 a 59 anos com anemia e inchaço abdominal, por exemplo, os tipos mais comuns foram tumores de cólon e ovário.
Neste último caso, por exemplo, além dos sintomas ginecológicos, há sinais que podem ser confundidos pela paciente com doenças gastrointestinais. “As principais manifestações do câncer de ovário incluem desconforto e aumento do volume abdominal, dor pélvica, corrimento ou sangramento vaginal anormal, falta de apetite, alterações no hábito intestinal, vômitos, perda involuntária de peso, tosse seca ou falta de ar”, explica Solange Kuwamoto, oncologista e ginecologista do Instituto Paulista de Cancerologia. Segundo o médico, muitas vezes o tumor é diagnosticado em estágio avançado, por falta de métodos eficazes de rastreamento.
Diretrizes
É justamente para evitar que os sintomas passem despercebidos, levando à detecção tardia, que Meena Rafiq defende o exame de sangue comum como ferramenta de diagnóstico quando o paciente consulta o clínico geral. “Normalmente, as diretrizes concentram-se predominantemente na presença de sintomas de alarme e no risco de câncer de órgão único, com cada local tendo diferentes investigações recomendadas”, diz ela. “Usar os exames de sangue existentes pode ser uma forma eficaz e acessível de melhorar o diagnóstico precoce do câncer em pessoas que vão ao médico com sintomas vagos”, diz ela.
O estudo publicado ontem soma-se a outra pesquisa, de 2020, da Universidade de Exeter, no Reino Unido. A equipe de Sarah Bailey, pesquisadora do Centro de Diagnóstico do Câncer da instituição, descobriu que, em homens com mais de 60 anos, uma contagem de plaquetas muito elevada (325-400), mesmo na ausência de sintomas mais evidentes, pode prever o risco de doença pulmonar, tumores de próstata e cólon. “Uma contagem elevada de plaquetas nem sempre significa que alguém sofre de uma doença grave”, explica Bailey. “Mas o marcador poderia alertar os médicos para o risco de cancro, dando ao paciente a oportunidade de ser encaminhado para investigações adicionais na primeira oportunidade.”
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