A obesidade é uma condição crónica que afecta mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo, e a sua classificação e tratamento têm sido temas de constante debate. Nesta sexta-feira, 5, a Sociedade Europeia para o Estudo da Obesidade (AESO) publicou um novo documento na revista científica Naturezapropondo mudanças significativas na forma como a obesidade é diagnosticada e tratada.
Essas mudanças têm o potencial de impactar profundamente a abordagem médica da doença, que afeta cerca de 20% dos brasileiros, segundo o mapa da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
Atualmente, a obesidade é classificada principalmente com base no Índice de Massa Corporal (IMC). Este índice é calculado dividindo o peso da pessoa (em quilogramas) pela sua altura (em metros) ao quadrado. Um IMC de 25 a 29,9 é considerado sobrepeso, enquanto um IMC de 30 ou mais é classificado como obesidade.
No entanto, Esta abordagem tem sido criticada pela sua simplicidade e por não ter em conta outras medidas de saúde importantes.como a distribuição da gordura corporal, principalmente na região da barriga, e a presença de comorbidades como diabetes e hipertensão.
Propostas da AESO
O novo documento europeu sugere uma visão mais abrangente e baseada em evidências sobre a classificação da obesidade. Em vez de confiar exclusivamente no IMC, a AESO propõe que o diagnóstico leve em conta outras métricas, como a relação cintura/quadril (a relação entre a circunferência da cintura e a circunferência do quadril) e adiposidade total (quantidade total de gordura corporal).
Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (Sbem), explica que esse consenso pode implicar uma diagnóstico mais abrangente e confiável para a doença. “Pessoas com IMC acima de 25, atualmente com diagnóstico de sobrepeso, podem ser diagnosticadas com obesidade se apresentarem relação cintura/quadril alterada ou se levarmos em conta também o excesso de adiposidade”, explica o médico. “A proposta é não mais depender necessariamente apenas do IMC acima de 30.”
Para o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Abeso, a diretriz é inovadora ao aumentar o escopo de definição da obesidade para pessoas de ascendência europeia, que possuem IMC acima de 25 e com circunferência abdominal aumentada. Ou seja, são parâmetros mais precisos para conhecer o paciente e potenciais ameaças à saúde.
“Se Se a circunferência da cintura de uma pessoa for superior a metade da sua altura, ela pode agora ser considerada de alto risco. E, se você tiver alguma condição médica, funcional ou psicológica e IMC entre 25 e 30, podemos confirmar obesidade”, explica Halpern. “O que aqui seria excesso de peso nas outras classificações seria obesidade, e a diretriz considera que o O tratamento das pessoas nesta situação deve ser exatamente igual ao das outras pessoas“, conclui.
Nova perspectiva sobre controle
Além da proposta da AESO, o SBEM e Abeso publicaram um nova diretriz que recomenda uma classificação adicional baseada no histórico de peso máximo alcançado na vida e na porcentagem de perda de peso alcançada.
Esta abordagem oferece uma nova perspectiva para o tratamento clínico da obesidade, destacando os benefícios clínicos da modesta perda de peso e ajudando os pacientes e profissionais de saúde a concentrarem-se na manutenção em vez de na redução adicional, muitas vezes difícil de alcançar devido a adaptações metabólicas. e fatores ambientais.
Vale ressaltar que a classificação não pretende substituir as existentes, mas servir como ferramenta adjuvante, útil em ensaios clínicos avaliar possíveis diferenças nos resultados terapêuticos entre indivíduos com IMC semelhantes, mas trajetórias de peso distintas.
Procura divulgar melhor os benefícios para a saúde da perda de peso clinicamente alcançável e enfatiza a importância de obter um histórico preciso da trajetória do peso de um indivíduo durante a avaliação e tratamento da obesidade e distúrbios relacionados.
Panorama da obesidade no Brasil e no mundo
Globalmente, mais de mil milhões de adultos são obesos, segundo análise publicada na revista A Lanceta. No Brasil, a situação é alarmante: 41,2 milhões de adultos estão nestas condições, o que representa cerca de um quarto da população adulta.
A condição está associada a uma série de complicações de saúde, incluindo diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer. Além disso, A obesidade é uma das principais causas de mortalidade evitável no país.
A proposta da AESO busca proporcionar um diagnóstico mais preciso, permitindo uma melhor personalização do tratamento. Que pode levar a uma maior adesão ao plano terapêutico e a melhores resultados para os pacientes, que muitas vezes se sentem desmotivados pela classificação atual baseada apenas no Índice de Massa Corporal.
Além disso, ao considerar não apenas o IMC, mas também outros indicadores de saúde, os médicos podem reconhecer a obesidade numa fase mais precoce, o que diminuiria o risco de complicações graves associadas à doença a médio e longo prazo.
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