O cérebro, desde a infância, passa por inúmeras mudanças estruturais e funcionais antes de atingir a maturidade plena. Este processo é natural e progressivo, abrangendo o aumento do peso cerebral e o desenvolvimento de funções primárias como sensoriais, motoras e associativas, bem como funções corticais que incluem raciocínio, planejamento e autocontrole.
A plena maturidade do cérebro, como explica a neuropsicóloga Camila Ferrari, só é alcançada na idade adulta, por volta dos 25 anos, devido à necessidade de mais tempo para o desenvolvimento do córtex pré-frontal. Esta área do cérebro é responsável pela regulação emocional, controle dos impulsos e memória de trabalho.
Como ilustrado de forma lúdica no filme de animação Divertida Mente 2, que narra o desenvolvimento da personagem Riley, o cérebro das crianças e dos adolescentes ainda está aprendendo a traçar metas, planejar, compreender as consequências das ações e lidar com os problemas. emoções.
Camila conta que, em seus tratamentos, trabalha com as emoções básicas descritas pelo psicólogo americano Paul Ekman: alegria, tristeza, raiva, medo, surpresa e nojo, muitas delas presentes no filme. O foco é ajudar as crianças a nomear, identificar e compartilhar essas emoções, promovendo uma compreensão mais profunda e uma comunicação emocional assertiva. “Privar a criança de alguma reação ou sentimento pode trazer malefícios”, alerta a neuropsicóloga, da clínica Neurodesenvolvendo.
As emoções são respostas naturais às experiências e, ao naturalizá-las e criar um ambiente de respeito para a sua expressão, os pais ensinam aos filhos como lidar com elas de forma saudável. A especialista destaca que muitos pais tendem a esconder as próprias emoções para não demonstrar fraqueza ou tristeza, mas isso acaba sendo uma oportunidade perdida de ensinar que essas emoções são normais e esperadas. “Cada emoção nos constitui como seres humanos. Assim, não existem emoções negativas e positivas, certas e erradas, existem apenas respostas de natureza emocional, emitidas como resultado das nossas experiências”, acrescenta.
Áreas do cérebro
O desenvolvimento do cérebro infantil e o gerenciamento das emoções são fundamentais para a formação de adultos emocionalmente saudáveis e conscientes. Cosete Ramos, doutora em educação com ênfase em neurociências, complementa essa visão destacando o papel crucial do córtex, que ocupa 85% da área cerebral e é fundamental para a nossa interação com o mundo. O córtex pré-frontal, em particular, está associado ao pensamento racional, à cognição e à consciência, processos que nos permitem a metacognição – a capacidade de estarmos conscientes dos nossos próprios pensamentos.
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“As emoções, que variam em intensidade e impacto ao longo da vida, influenciam profundamente a nossa racionalidade, a respiração e o sistema imunitário. Eles funcionam como uma cola que une corpo e cérebro, regulando suas atividades”, explica o professor Dr. Cosete, citando o professor emérito de educação Robert Sylwester (1927-2016), da Universidade de Oregon (EUA). “Sentimentos como amor, vergonha, coragem, gratidão, alegria, esperança, decepção, confiança, saudade, generosidade e felicidade desempenham papéis significativos na vida humana.”
Camila acrescenta que criar os filhos com a expectativa de uma vida perfeita, sem frustrações, sem ensiná-los a lidar com as emoções, pode ser adoecedor e causar sofrimento psicológico, inclusive no futuro, já adultos.
“Quando polarizamos as emoções e ensinamos que algumas delas não são bem-vindas, acabamos por mostrar que devem ser evitadas, distanciadas da nossa vida, o que não é possível”, alerta a neuropsicóloga. “Não existe vida sem frustração, nojo e medo, por exemplo, e o lugar mais seguro para aprender a sentir e compreender essas emoções é em casa, na companhia afetuosa e acolhedora dos pais.”
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