Gaza: Ajuda alimentar tem “três vezes mais chances de ser negada por Israel”

Gaza: Ajuda alimentar tem “três vezes mais chances de ser negada por Israel”


O porta-voz do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, disse na terça-feira que os comboios de alimentos que deveriam ir para o norte de Gaza tinham “três vezes mais probabilidade de serem negados do que qualquer outro comboio humanitário com outros tipos de material”.

Jens Laerke afirmou que na noite de segunda-feira, os compromissos assumidos por Israel para facilitar e aumentar o fluxo de ajuda, incluindo a abertura de novos pontos de passagem de fronteira, “ainda estavam pendentes”.

Restrições e atrasos

Ele explicou que os caminhões que passam pela triagem das autoridades israelenses normalmente estão apenas “metade cheios”. Este é um requisito implementado para fins de verificação.

Depois de atravessar a fronteira, os camiões são descarregados e o material é recolhido por outros que ficam em Gaza e o distribuem.

No entanto, o representante de Ocha citou uma série de obstáculos, como a restrição imposta pelo lado israelita de que os condutores e camiões egípcios nunca podem estar na mesma área ao mesmo tempo que os condutores e camiões palestinos.

Portanto, essa transferência entre caminhões ocorre de forma lenta. Primeiro, os artigos têm de entrar, ser descarregados e todos têm de sair antes que um novo conjunto de camiões provenientes do interior de Gaza, com matrículas palestinianas e motoristas palestinianos autorizados, possam chegar e recolhê-los.

Segundo Laerke, essa dinâmica resulta em atrasos na travessia e posterior movimentação até os armazéns. Além disso, há divergências nos dados diários, pois Israel contabiliza os camiões que passam pela fronteira, enquanto as agências da ONU registam os que chegam aos armazéns.

Um menino carrega latas de água na Faixa de Gaza

O grande desafio da distribuição

Para o especialista, os movimentos dentro de Gaza envolvem diversas complicações. Uma delas é chegar ao armazém, que é apenas o primeiro passo antes de a ajuda ser efectivamente distribuída a quem dela necessita. Segundo ele, dentro de Gaza muitos movimentos não são possíveis nem realmente facilitados.

O representante do OCHA disse que as entregas de alimentos coordenadas pela ONU “têm muito mais probabilidade de serem impedidas ou de terem acesso negado” dentro de Gaza do que qualquer outra missão humanitária. Isto afecta especialmente o norte do enclave, onde 70% das pessoas enfrentam condições de fome.

Afirmou que muitas vezes as negativas não são acompanhadas de qualquer explicação ou justificação.

Laerke sublinhou que a distribuição dentro de Gaza é um grande desafio devido às preocupações de segurança e ao “colapso da lei e da ordem”. Mas também sublinhou que “a obrigação recai sobre as partes no conflito e, em particular, sobre Israel, enquanto potência ocupante em Gaza”.

“O acesso humanitário não termina na fronteira”

O especialista sublinhou que “facilitar e garantir o acesso humanitário não termina na fronteira”, envolve também movimentos dentro de Gaza.

Após seis meses de conflito e apesar de todos estes desafios, a Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras aos Refugiados Palestinianos, Unrwa, considerada a “espinha dorsal” do apoio humanitário da ONU em Gaza, fez um balanço das suas entregas.

As equipes da Unrwa trabalham 24 horas por dia para apoiar as famílias e fornecer ajuda essencial. Nesse semestre, foram entregues 10 milhões de unidades de alimentos, 24 milhões de litros de água e 440 mil cobertores e colchões.



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