Um relatório do Gabinete de Direitos Humanos da ONU publicado esta quinta-feira apela a ações “imediatas e ousadas” para enfrentar a situação que considera “cataclísmica” no Haiti.
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, afirmou que “o combate à insegurança deve ser uma prioridade máxima para proteger a população e evitar mais sofrimento humano”.
Aumento de 40% no número de vítimas
Para ele, é “igualmente importante proteger as instituições essenciais ao Estado de Direito, que foram atacadas na sua essência”.
O relatório conclui que a corrupção, a impunidade e a má governação, agravadas pelos níveis crescentes de violência dos gangues, corroeram o Estado de direito e levaram as instituições estatais “à beira do colapso”.
De acordo com o Gabinete dos Direitos Humanos, nos últimos cinco meses, a violência armada causada por grupos criminosos aumentou significativamente em intensidade e expandiu o seu alcance geográfico.
Pelo menos 1.436 pessoas sem envolvimento de gangues foram afetadas. 686 foram mortos, 371 feridos e 379 sequestrados entre janeiro e fevereiro de 2024.
Além disso, cerca de 695 membros de gangues foram mortos ou feridos, elevando o número total de pessoas afectadas para 2.131, um aumento de 40% em comparação com o número registado nos dois meses anteriores.
Financiamento de gangues e táticas terroristas
O relatório afirma que as duas coligações de gangues presentes na capital do Haiti, a “Família G9” e o “G-Pèp”, continuam a lutar entre si pela expansão do território e das fontes criminosas de “receitas”, ao mesmo tempo que enfrentam lutas internas dentro de suas respectivas fileiras e coalizões.
De acordo com o Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime, Unodc, o rendimento dos gangues que operam no Haiti provém de diversas fontes, incluindo pagamentos alegadamente feitos por figuras políticas e empresários. Além disso, há casos de pagamentos mensais de “proteção” para indústrias, empresas ou empreendimentos comerciais que atuam em territórios controlados por quadrilhas.
O Gabinete dos Direitos Humanos alerta que a população que vive em áreas controladas por gangues não tem sido apenas vítimas colaterais dos confrontos, mas também um alvo direto para criar pânico e punir aqueles que vivem sob o controlo de gangues rivais.
Segundo o relatório, as gangues usam sistematicamente a violência sexual para “espalhar o medo, subjugar e punir a população”. Durante os ataques de grupos criminosos, várias mulheres e raparigas foram vítimas de violação, incluindo violação coletiva, nas suas casas, muitas vezes depois de testemunharem o assassinato dos seus maridos. Algumas das vítimas de violação foram mutiladas ou mortas após os ataques.
Ataques a propriedades rurais
Os autores do texto salientaram ainda que, desde janeiro de 2023, foram registados saques ou destruição de mais de 1.880 casas e empresas. A prática está se tornando mais comum, principalmente entre gangues do departamento de Artibonite, que atacam propriedades agrícolas e roubam centenas de animais pertencentes aos moradores, bens que muitas vezes representam todas as economias de uma vida.
Até 2024, aproximadamente 5,5 milhões de haitianos dependerão da assistência humanitária, incluindo 3 milhões de crianças, algumas sofrendo de desnutrição aguda, o número mais elevado alguma vez registado no país.
A última Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar, IPC, de Setembro de 2023, mostra que 44% da população, ou 4,35 milhões, sofre de insegurança alimentar.
O relatório cobre o período de 25 de setembro de 2023 a 29 de fevereiro de 2024 e inclui informações fornecidas pelo Serviço de Direitos Humanos do Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti, Binuh, bem como informações coletadas por William O’Neill, especialista nomeado por o Alto Comissário sobre a situação dos direitos humanos no Haiti.
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