Por inúmeros motivos que não posso citar agora, o amor me intriga e, aproveitando a proximidade do Dia dos Namorados, resolvi dedicar um mês inteiro ao amor nas suas mais variadas nuances. Uma espécie de Louvor ao Amor, que não deixa de ser um ato de coragem num mundo que insiste em ameaçar a sua existência.
Acredito que devemos começar do início e, neste primeiro momento, compreender as formas como o gênero “Amor” se manifesta em nós. CS Lewis argumenta em seu livro “Os Quatro Amores” que existem quatro categorias distintas: Storge, Eros, Philia e Ágape. Para ele, cada espécie possui características únicas e desempenha um papel específico em nossas relações.
O primeiro tipo é conhecido como Storge e é um amor natural, reconfortante e instintivo. É o tipo de amor que floresce naturalmente nas nossas relações familiares e nos proporciona uma base sólida de conforto, segurança e aceitação. Muitas vezes, é através desse tipo de amor que obtemos uma base segura para acessar outras espécies, de modo que quanto mais Storge tivermos, maiores serão nossas chances de construir relacionamentos amorosos saudáveis.
Eros ou amor romântico seria aquele amor apaixonado e desejoso. É o amor em que buscamos a fusão com o outro, onde prevalecem o desejo e a atração. Nesta espécie, a experiência amorosa pode ser intensa e transformadora, trazendo-nos uma enorme sensação de completude. A presença de Eros nas nossas vidas pode despertar a nossa criatividade, entusiasmo e dar-nos um renovado sentido de propósito. Muitas vezes, é o amor romântico que inspira os criadores de obras de arte, literatura e música, demonstrando que Eros pode enriquecer não só a nossa vida pessoal, mas também a cultura e a arte em geral. Porém, Eros não é apenas alegria, pois também pode ser instável, cegando os amantes e fazendo-os agir de forma impulsiva e irracional. Sem equilíbrio, Eros pode transformar-se numa força destrutiva, dominada pelo ciúme, possessividade e expectativas irrealistas.
A terceira espécie é o amor Philia, também chamado de amor de amizade. Aqui o amor é baseado no respeito mútuo, na confiança e na afinidade intelectual e emocional. É um tipo de amor que se desenvolve e se fortalece ao longo do tempo, através de experiências e interesses comuns. Este tipo de amor é mais estável e duradouro que Eros, pois não depende de desejo ou paixão, mas de uma ligação profunda entre as pessoas. Enquanto com Eros amamos o outro para o nosso próprio bem, com Philia amamos o outro para o seu bem-estar.
Por fim, temos o quarto tipo de amor, denominado Ágape, que seria o amor-caridade. É considerado o amor mais elevado e virtuoso, pois é desinteressado e sacrificial; e não motivado por desejos, benefícios ou retribuições pessoais. É o amor que nos aproxima do amor divino ou do amor que um ser humano pode ter pela humanidade em geral. Talvez o ponto mais interessante desta espécie seja que se trata de um amor universal, não limitado a relacionamentos específicos.
Dadas as diferenças entre os vários tipos de amor, podemos perguntar-nos se existe uma categoria que seja preferível às outras. A resposta tem que ser negativa, pois, na maioria das vezes, as diversas espécies se unem em torno de uma única relação amorosa saudável. Somente quando a paixão de Eros, a estabilidade de Storge, a confiança de Philia e o altruísmo de Ágape se unem poderemos compreender verdadeiramente a profundidade e a beleza do relacionamento amoroso.
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