O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), declarou que não cobrará seguro obrigatório para vítimas de acidentes de trânsito, conhecido como DPVATrecentemente renomeado como SPVAT. O seguro, sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em maio deste ano, será exigido anualmente dos proprietários de veículos a partir de 2025.
Minas Gerais segue o exemplo do Distrito Federal e de Santa Catarina, que também afirmaram que não irão optar pela cobrança.
O DPVAT foi extinto em 2021, durante o governo Bolsonaro (PL), quando as indenizações passaram a ser pagas com o saldo acumulado de anos anteriores. Contudo, a reserva esgotou-se em novembro de 2023, suspendendo os pagamentos às vítimas de acidentes ocorridos após essa data. O novo projeto busca garantir recursos para indenização por morte, invalidez permanente, reembolso de despesas médicas e serviços funerários.
Zema criticou duramente a volta dos seguros, acusando o governo Lula de focar no aumento de impostos. “A devolução do DPVAT é um absurdo. Sempre foi um imposto disfarçado de seguro, beneficiando apenas os poderosos. Em Minas isso não será cobrado. Mudaram o nome para SPVAT, mas aqui não vai acontecer”, declarou, em entrevista à rádio Itatiaia.
O governador também reforçou sua postura contra as decisões do governo federal: “Não vou mais colocar esse projeto no bolso dos mineiros. Enquanto Brasília só fala em aumento de impostos, mantemos a austeridade. Não aumentamos impostos em Minas e vamos manter essa postura”, afirmou Zema.
Contudo, especialistas apontam que a competência para legislar sobre seguros é exclusiva da União. Segundo Felipe Gallo da Franca, mestre em direito político pela UFMG, o governador não tem poder para impedir a cobrança do SPVAT. “O governador não pode impedir o pagamento do SPVAT pelos mineradores. O máximo que você pode fazer é não aderir ao convênio para que o seguro seja cobrado junto com o IPVA. Isso poderia resultar em uma renúncia de arrecadação de 1%, o que seria questionável, dado o cenário de renegociação das dívidas mineiras com a União.”
Segundo especialista, uma opção do governador seria não fechar acordo com a operadora do fundo SPVAT para que a cobrança ocorra em conjunto com a guia do IPVA. “Ou seja, em vez de o contribuinte mineiro receber uma única guia de IPVA mais seguro obrigatório, ele receberia duas guias separadas. Essa opção concedida ao governador imporia uma renúncia de receita de 1% do valor do prêmio para cada cobrança a ser feita. . Diante do atual cenário de renegociação das dívidas mineiras com a União, essa renúncia poderá ser questionada tanto pela União quanto por órgãos de controle, como o TCE ou o MPMG”, acrescentou.
Gallo destaca que a renúncia de receitas poderá gerar perdas financeiras para o Estado, embora a destinação de 40% do valor arrecadado aos entes do SUS em Minas Gerais não seja afetada. Segundo ele, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) está excluída do assunto, já que a pauta é federal. “A única coisa que poderia eventualmente ser aprovada seria aderir ou não ao acordo de cobrança conjunta. Mas em princípio é uma questão de competência do Executivo.”
“Basicamente, o contribuinte terá que pagar esse seguro obrigatório, independentemente da vontade do governador. A única coisa que ele tem o poder de fazer é decidir se o minerador pagará duas contas ou apenas uma. Na última opção, o estado de Minas arrecada 1% do valor do prêmio.”
O novo SPVAT terá valor fixo, entre R$ 50 e R$ 60segundo o senador Jacques Wagner (PT-BA), líder do governo. A Caixa Econômica Federal será responsável pela gestão e operacionalização da remuneração. Do total arrecadado, 40% serão destinados a estados e municípios com serviços de transporte público, 40% à assistência médica a vítimas de acidentes e 5% à Previdência Social e ao Sistema Nacional de Trânsito.
Aumento de impostos em Minas
Apesar de criticar a política de aumento de impostos, Zema sancionou no ano passado uma lei que aumenta a alíquota em 2 pontos percentuais. ICMS sobre produtos considerados supérfluos, como celulares, cerveja e armas, a partir de 2024. A lei foi alterada durante tramitação na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), após acordo entre base e oposição, e o governador optou por não vetar as mudanças.
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O deputado estadual Professor Cleiton (PSB) criticou Zema, utilizando uma citação de Cazuza: “Sua piscina está cheia de ratos”. Segundo ele, o governador brinca com o público ao afirmar que não irá cobrar o SPVAT, quando na verdade a decisão cabe ao governo federal. “Minas Gerais terá R$ 19 bilhões em renúncia fiscal para amigos do governador. É hipocrisia”, disse Cleiton, referindo-se aos doadores da campanha de Zema, como Salim Mattar, fundador da Localiza.
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