‘Wal do Açaí’, agora em campo oposto ao do clã Bol…

‘Wal do Açaí’ em Angra dos Reis, Walderice Santos da Conceição já foi conhecido nacionalmente como ‘Wal de Bolsonaro’. Mas, nesta campanha na cidade da Costa Verde, o ex-assessor de Jair Bolsonaro atua politicamente num campo oposto ao do clã. Com cargo de assessora técnica da prefeitura, ela trabalha pela eleição de Cláudio Ferreti (MDB), nome escolhido pelo prefeito Fernando Jordão (PL) para sua sucessão. Ferreti concorre à prefeitura contra Renato Araújo (PL), lançada pelo ex-presidente e que tem tido total apoio de sua família e de seu grupo. Walderice, desde abril, atua como uma espécie de “sindicalista” da Vila Histórica de Mambucaba em nome do governo Jordão.

O cargo é vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Regional e tem salário bruto mensal de R$ 6.425,41. No bairro de Angra, onde o ex-presidente mora há mais de 30 anos, Wal é responsável por repassar as demandas locais à prefeitura. A escolha de ficar ao lado do prefeito fez de Walderice um alvo dos apoiadores de Bolsonaro: no último sábado, durante um passeio com Ferreti, ela levou um soco no pescoço, que a fez perder a consciência. O agressor, aos gritos, chamou-a de “traidora”. Ela foi levada ao Complexo de Saúde do Parque Mambucaba e, no dia seguinte, prestou queixa à polícia. Pessoas próximas a ela dizem que o sentimento de Walderice é de “depressão e revolta”. Atualmente ela está de licença médica, com o pescoço imobilizado, e fora de Angra. Ninguém da família Bolsonaro entrou em contato com ela até agora.

Luta entre ex-aliados

Nas últimas eleições municipais, ela tentou ser eleita vereadora colando sua imagem à de Bolsonaro. Este ano, acabou no meio da briga entre Bolsonaro e Jordão. Os dois, embora do mesmo partido, romperam a aliança de longa data depois que o prefeito decidiu lançar um nome de sua confiança para a prefeitura (engenheiro, Ferreti era secretário de Obras e Governo), sem consultar o ex-presidente. Hoje o clima entre os dois é de inimizade, transformando Angra no cenário de uma das disputas mais agressivas do Rio de Janeiro.

Em março de 2022, Wal ganhou fama ao ser acusada pelo Ministério Público Federal (MPF), junto com Bolsonaro, de ser funcionária fantasma do gabinete do ex-presidente na Câmara dos Deputados. A denúncia abrangeu o período de 2003 a 2018, época em que ele era deputado federal. Em depoimento ao MPF, gravado em vídeo, em novembro de 2018, Walderice disse que até então nunca havia estado em Brasília, onde estava oficialmente lotada.

O discurso, porém, só se tornou público em 2022, quando o MPF ajuizou ação de improbidade administrativa contra Bolsonaro na Justiça Federal. Após a posse do político como presidente, a Advocacia-Geral da União (AGU), órgão do governo federal, assumiu a defesa de Wal, em um caso único envolvendo uma pessoa com cargo comissionado na Câmara. Em seu depoimento, ela revelou ainda que tinha as chaves da casa de Bolsonaro em Mambucaba e que cuidava do cachorro na residência. O apelido ‘Wal do Açaí’ vem do trabalho em uma pequena loja de açaí.