11/07/2024 – 16:52
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Especialistas em saúde debateram o tema dos transtornos alimentares
Uma em cada vinte pessoas no Brasil tem algum transtorno alimentar e um dos motivos da doença é a comparação que os jovens fazem entre si e com perfis exibidos nas redes sociais, a maioria deles fora da realidade. O aumento de casos de transtornos alimentares em adolescentes e jovens foi discutido na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados.
Pesquisa realizada em 16 países, incluindo o Brasil, e citada na audiência pública, mostra que um em cada cinco jovens de 6 a 18 anos apresenta algum transtorno alimentar. No caso das mulheres, chega a um terço.
Os transtornos alimentares são condições psiquiátricas que se caracterizam por alterações persistentes nas refeições ou nos comportamentos relacionados aos hábitos alimentares. Os casos mais comuns são anorexia e bulimia.
A Associação Brasileira de Psiquiatria estima que mais de 70 milhões de pessoas no mundo tenham algum transtorno alimentar. No Brasil seriam 15 milhões de pessoas, segundo o coordenador do programa de transtornos alimentares do Hospital da Universidade de São Paulo (USP), Táki Cordás. Ele afirmou que 1% da população brasileira tem anorexia nervosa.
“Atendemos pacientes medindo 1m60, 1m70 e pesando 25kg, 30kg. A partir disso, basta dizer que a taxa de mortalidade dos pacientes com anorexia nervosa pode chegar a 20%”, disse Cordás.
A bulimia nervosa, que atinge 1,5% da população, não é tão facilmente detectada quanto a anorexia, pois, como não há muitas alterações no organismo, pode passar despercebida. O sintoma mais óbvio é a compulsão alimentar.
“Pacientes com bulimia nervosa utilizam um procedimento que chamamos de purgativo, que é o vômito, após terem esse tipo de compulsão. O vômito pode variar de duas, três ou dez vezes ao dia. Obviamente é um risco muito alto de morte, pois você perde uma série de substâncias, inclusive o potássio”, afirmou.
Táki Cordás alertou que as redes sociais deveriam proibir páginas sobre perda de peso, pois cada vez mais adolescentes e até crianças apresentam distúrbios alimentares. E isso atinge cada vez mais pessoas em idades mais jovens, segundo Mireille Almeida, diretora executiva da Associação Brasileira de Transtornos Alimentares, que orienta pacientes e familiares e também ajuda a encontrar locais para tratar a doença.
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Cordás pediu o banimento de páginas nas redes sociais sobre perda de peso
compulsão alimentar
Além dos motivos genéticos, no caso da anorexia, problemas familiares e de personalidade, abuso físico e sexual e negligência infantil estão entre os fatores de risco para a doença. Cerca de 60% dos que procuram a cirurgia bariátrica, método de emagrecimento que envolve alteração do estômago, apresentam compulsão alimentar.
Na opinião da psiquiatra Maria Amália Pedrosa, do Comitê de Transtornos Alimentares da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a prevenção é o mais importante. Os pais devem ser informados sobre os sintomas dos transtornos alimentares para o diagnóstico precoce e para evitar o agravamento do quadro.
Mas existem diagnósticos errados entre os médicos. O psiquiatra apresentou duas pesquisas da associação que investigaram o conhecimento dos psiquiatras brasileiros sobre transtornos alimentares. A taxa de diagnóstico correto dos médicos está abaixo de 40%. Segundo ela, apenas 15% desses profissionais tiveram contato com o tema ‘transtornos alimentares’ durante o curso de medicina.
Mas, segundo ela, há um número pior. “Quando olhamos para o conhecimento do tratamento da anorexia nervosa, o número é de 2,7% de acerto, é muito baixo”, disse ela. A anorexia nervosa é a doença psiquiátrica que mais mata, inclusive por suicídio.
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Maria Amália: taxa de diagnóstico correto dos médicos é baixa
Rede psicossocial
Para a nutricionista Gabriela Fernandes, o tema precisa ser mais abordado na formação de outras áreas médicas. A assessora do Ministério da Saúde, Márcia Oliveira, lembrou que, com a Política Nacional de Saúde Mental, houve uma ampliação da rede de atenção psicossocial, que hoje soma 3 mil unidades em todo o país.
“Hoje, temos mais de 2.290 leitos de saúde mental em hospitais gerais, ou seja, há necessidade de que as pessoas em determinado momento do tratamento necessitem de leitos e esses leitos possam então ficar em hospitais gerais”, afirmou. .
O Centro de Atenção Psicossocial está habilitado em 2 mil municípios, mas o Instituto de Psiquiatria da USP possui a única enfermaria especializada em transtornos alimentares da América do Sul.
O debate atendeu ao pedido da deputada Rosangela Moro (União-SP). Para ela, por se tratar de um tema complexo, outros encontros serão necessários.
“Precisamos capacitar os profissionais de saúde para que o paciente, ao menor sintoma de transtorno alimentar, procure tratamento. O protocolo correto é um esforço conjunto da sociedade, dos profissionais de saúde, das famílias e das escolas, para que possamos reduzir o impacto dos transtornos alimentares”, afirmou.
Reportagem – Luiz Cláudio Canuto
Montagem – Roberto Seabra
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