Tarefas de cuidado são obstáculo para igualdade no trabalho, dizem mulheres parlamentares do G20 – Notícias

Tarefas de cuidado são obstáculo para igualdade no trabalho, dizem mulheres parlamentares do G20 – Notícias


07/02/2024 – 18:14
• Atualizado em 02/07/2024 – 22h08

Itawi Albuquerque/Câmara dos Deputados

Yandra Moura: legislação sobre políticas assistenciais é prioridade para deputados brasileiros

Mulheres parlamentares de todo o mundo citaram a divisão desigual do trabalho de cuidados como um dos principais obstáculos à igualdade entre homens e mulheres no campo do trabalho. O assunto foi discutido na 3ª sessão de trabalho do 1º Encontro de Mulheres Parlamentares do P20, fórum do Legislativo do G20, nesta terça-feira (2) em Maceió (AL). O tema da sessão foi “Promover a igualdade, a autonomia económica das mulheres e a superação do racismo”.

Coordenadora do Observatório Nacional das Mulheres na Política da Câmara dos Deputados, a deputada Yandra Moura (União-SE) disse que a desigualdade econômica entre homens e mulheres é uma das formas mais visíveis e persistentes de desigualdade de gênero. “Este cenário afecta tudo, desde o enfrentamento da violência doméstica, pois a falta de autonomia económica das mulheres dificulta a quebra do ciclo de violência, até ao desenvolvimento económico sustentável das nações, pois há uma alarmante subutilização de metade da nossa força de trabalho”, afirmou.

Segundo o parlamentar, essa desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho é uma tendência mundial. “Uma das suas principais causas reside na divisão desigual do trabalho de cuidados não remunerado, algo que vemos em maior ou menor grau em todo o mundo”, destacou. Ela destacou que as mulheres dedicam duas vezes mais tempo às tarefas domésticas que os homens.

Yandra Moura alertou que, embora metade dos lares brasileiros sejam chefiados por mulheres, elas recebem, em média, salários 20% inferiores aos dos homens no Brasil. “Quando comparamos o ganho salarial entre mulheres negras e homens brancos, a diferença chega a quase 50%”, acrescentou.

No ano passado, o Brasil aprovou uma lei específica para combater a desigualdade salarial, ampliando a transparência salarial nas empresas e reforçando as penalidades para empregadores que paguem salários desiguais a homens e mulheres nas mesmas funções.

Mas, na visão da deputada, é preciso ir além, garantindo às mulheres chances reais de ocuparem os mesmos cargos que os homens. “Por isso, nós, parlamentares brasileiros, priorizamos a construção de um marco legislativo sobre políticas de cuidado para o nosso trabalho na Câmara, com dois grupos de trabalho formados por parlamentares de diversos partidos políticos focados nesse desafio”, informou.

“Neles, trabalhamos para regular licenças mais igualitárias, expandir os serviços de cuidados públicos e gratuitos e sensibilizar a população para as mudanças culturais que precisam de ser enfrentadas para combater a desigualdade de género”, disse Yandra Moura.

Sistema de Atendimento Público
Segundo a representante da ONU Mulheres, Cecilia Alemany, a mudança na economia dos cuidados pode corrigir as desigualdades no mercado de trabalho e também aumentar a participação das mulheres na política. Ela defende um sistema de cuidados públicos abrangente para todas as fases da vida, o que também aumentaria a protecção social.

“Aqui falamos não só de estabelecer uma infraestrutura de cuidados, mas também de ter o cuidado como um trabalho reconhecido, sendo o cuidado um trabalho digno para aquelas mulheres que se dedicam a estas atividades”, destacou Carolina Querino, também representante da ONU Mulheres. “E aqui gostaria de recuperar os direitos dos trabalhadores domésticos, que muitas vezes são invisibilizados”, acrescentou.

Qualificação das mulheres
A senadora professora Dorinha Seabra (União-TO) defendeu políticas de igualdade salarial e também investimento na educação e formação das mulheres, além do combate à violência física e psicológica no trabalho.

“No Brasil, o Parlamento estabeleceu como principal objetivo construir legislação para que haja um fortalecimento das oportunidades de qualificação, formação, políticas de financiamento, inclusive com bancos públicos e privados. Esse é o debate que o Parlamento brasileiro tem liderado e avançado”, ele apontou.

Presidente da Câmara dos Deputados do México, Marcela Guerra Castillo também defendeu a formulação de leis para combater a violência no trabalho contra as mulheres, políticas de igualdade salarial e de eliminação da discriminação, além de programas de formação profissional e educação financeira voltados para elas.

Felipe Sóstenes/Câmara dos Deputados

Dorinha Seabra apelou ao reforço das políticas de financiamento às mulheres

O deputado mexicano destacou a importância do acesso ao crédito para os pequenos e médios empresários. E ela também defendeu horários de trabalho flexíveis para as mulheres que criam seus filhos.

Presidente do Parlamento de Mercosul (Parlasul), a parlamentar argentina Fabiana Martín defendeu que os países formulem leis que garantam a formação de mulheres livres e independentes e a cooperação de diferentes agentes para garantir o empoderamento de meninas e jovens.

Diferenças na Europa
Representante da Alemanha, Susanne Hierl destacou que, no seu país, 76,6% das mulheres entre os 20 e os 64 anos têm trabalho remunerado, contra 84% dos homens. Para atingir estas taxas elevadas, a Alemanha investiu, por exemplo, num programa para melhorar as oportunidades para as mulheres na ciência, investigação e inovação. Chamou a atenção para a importância de combater os estereótipos de género para promover a igualdade de género no trabalho.

Segundo Annarita Patriarca, representante da Itália, 53% das mulheres em Itália até aos 64 anos estão no mercado de trabalho, em comparação com mais de 74% dos homens. Ela afirmou que a Itália tem um dos piores índices de desigualdade de género no mercado de trabalho da União Europeia. Como um dos principais fatores para isso, a parlamentar citou o fato de o trabalho doméstico ainda recair sobre as mulheres no país e defendeu a ampla oferta de creches e licenças para criação dos filhos compartilhadas entre pais e mães, além de horários flexíveis de trabalho. .

Itawi Albuquerque/Câmara dos Deputados

Deputada italiana, Annarita Patriarca [no telão] defendeu ampla oferta de creches

Segundo a parlamentar italiana, desde o ano passado que o código empresarial a favor da maternidade visa criar um ambiente de colaboração entre empregadores e trabalhadoras para que a maternidade possa ser conciliada com o trabalho.

Ações em empresas
A parlamentar norueguesa Linda Monsen Merkesdal atribuiu a riqueza do país, em parte, à educação das mulheres e à participação na força de trabalho, aumentando a PIB Norueguês. Considerada pelo Fórum Económico Mundial como a economia mais inclusiva do mundo, a Noruega foi o primeiro país a implementar quotas para a participação das mulheres em sociedades anónimas.

A deputada portuguesa Emília Cerqueira informou que, no país, estima-se que as mulheres tenham mais 48 dias de trabalho não remunerado por ano e que a diferença salarial entre homens e mulheres ronda os 13%. “No entanto, quando chegamos ao topo da carreira, os mais bem pagos, esta não é a realidade, e a disparidade salarial pode chegar aos 26% entre homens e mulheres”, notou.

A parlamentar portuguesa citou duas medidas que considera importantes para garantir a igualdade no trabalho: o direito ao desligamento – ou seja, o direito do trabalhador a não ser contactado pelo empregador fora do expediente – e o direito ao teletrabalho para mulheres que cuidam de filhos ou familiares com problemas de saúde e para vítimas de violência doméstica.

Felipe Sóstenes/Câmara dos Deputados

Kalpana Saini elogiou a criação de programas de assistência às mulheres agricultoras

Mulheres agricultoras
Representante da Coreia do Sul, Lim Miae pediu atenção às mulheres agricultoras, as primeiras a sentir os impactos das alterações climáticas. Segundo a parlamentar, o governo sul-coreano implementou um programa para garantir às mulheres agricultoras uma renda mínima, mas poucas aderiram por falta de publicidade. Ela defendeu políticas para que as mulheres sejam gestoras das suas próprias terras e uma idade de reforma mais baixa, bem como medidas para garantir a saúde da agricultura.

Representante da Índia, Senadora Kalpana Saini afirmou que a igualdade de género está na Constituição do país e que, nos últimos anos, algumas medidas foram tomadas para garanti-la, como medidas para incentivar a participação das mulheres nos serviços governamentais e a aprovação de lei que garante especial licenças para mulheres com filhos deficientes, além de programas de assistência para mulheres agricultoras.

Representante da Arábia Saudita, Alia muhammad Al-dahlawi disse que o governo do seu país tem feito esforços para alcançar a igualdade entre homens e mulheres em vários domínios e promove campanhas para sensibilizar as mulheres sobre a importância da autonomia económica. Segundo ela, estão se abrindo oportunidades de emprego no país nas áreas de turismo, entretenimento e tecnologia, e a legislação foi revisada para proibir a discriminação e promover programas de renda para mulheres.

A parlamentar Paula Moeda, em representação de Cabo Verde, afirmou que a taxa de desemprego das mulheres no país é superior à dos homens, estando mais presente nas categorias com salários mais baixos. Ela também considera as tarefas de cuidado o principal obstáculo à igualdade no trabalho.

Relatório – Lara Haje
Montagem – Pierre Triboli



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