O Supremo Tribunal Federal retoma suas atividades nesta quinta-feira (1º/8) com a promessa de chegar a uma definição sobre dois temas com potencial de acirrar o conflito entre os poderes Judiciário e Legislativo. A primeira é a tese do marco temporal das terras indígenas, derrubada pelo STF no ano passado, mas ressuscitada pelo Congresso —que aprovou uma lei confirmando o entendimento e revisando a decisão da Corte. O segundo é o marco civil da internet e a discussão sobre o artigo 19 — que trata da responsabilidade dos provedores pelo conteúdo dos usuários.
O quadro temporal coloca as comunidades tradicionais e rurais em lados opostos. A tese afirma que somente as comunidades que já as ocupavam em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição, teriam o direito de ocupar áreas designadas aos povos indígenas. Mesmo aqueles que estavam lá antes, mas por algum motivo foram obrigados a migrar, não teriam direito àquela terra.
Entre algumas alegações dos ruralistas está a de que algumas dessas áreas, antes indígenas, estão ocupadas há décadas por famílias de pequenos produtores, que as compraram de boa fé ou para lá se mudaram no início do século passado. Além disso, os defensores da tese histórica argumentam que a remoção dos ocupantes das terras poderia agravar a instabilidade em algumas regiões que são normalmente tensas devido a disputas agrárias.
O STF entendeu que o marco é inconstitucional, não tem respaldo constitucional e viola os direitos dos povos tradicionais. Em abril, o relator das ações sobre o tema, ministro Gilmar Mendes, negou pedido de suspensão da proposta aprovada pelo Congresso, mas determinou a criação de uma comissão especial composta por governadores, produtores e representantes dos povos indígenas.
O governador Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul, foi escolhido pelo Fórum Nacional de Governadores para representar as unidades da Federação no colegiado.
O tema será discutido em audiências públicas no Supremo Tribunal Federal. O primeiro encontro será no dia 5 de agosto e os encontros vão até 18 de dezembro. A Articulação dos Povos Indígenas (Apib) terá seis representantes; a Câmara e o Senado, três membros cada; e o governo federal, quatro.
Internet
O ministro Dias Toffoli, relator das ações que tratam do quadro civil na internet, prometeu que em julho as ações estariam prontas para julgamento. O tema se opõe ao grandes tecnologias — grandes empresas tecnológicas que gerem plataformas digitais — grupos que querem a regulamentação das redes sociais.
O caso estava marcado para julgamento em março, mas foi retirado de pauta a pedido de Toffoli sob a justificativa de que era necessário aguardar a votação, no Congresso, do projeto das fake news — que criminaliza a prática de espalhar mentiras e desinformação através das redes. social. Mas a proposta ficou paralisada na Câmara por pressão dos bolsonaristas, que conseguiram barrar o Projeto de Lei (PL) 2.630/20. Em abril, o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), anunciou a criação de um grupo de trabalho para debater um novo projeto de regulamentação das redes sociais.
A isso se somaram os ataques do bilionário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), contra o ministro Alexandre de Moraes, que em uma série de publicações o acusou de estar na vanguarda das ações contra a liberdade de expressão —o que serviu para atiçar Bolsonaristas contra o STF. Por conta desses dois episódios, Toffoli decidiu realizar o julgamento.
A discussão gira em torno do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que dispõe sobre a responsabilização das plataformas digitais por desinformação ou outros conteúdos ilegais postados pelos usuários. Alexandre Coelho, advogado especializado em Direito Digital e Proteção de Dados, destaca que o cenário atual é muito diferente da época em que o marco civil foi aprovado no Congresso.
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