Sob nova direção: as perspectivas da mesa diretora da Câmara de BH

Sob nova direção: as perspectivas da mesa diretora da Câmara de BH



Com 23 veteranos e 18 estreantes, a Câmara Municipal de Belo Horizonte inicia nova legislatura em fevereiro. A novidade, porém, vai além da renovação de cerca de 43% das cadeiras da Câmara. No primeiro dia do ano, uma eleição entre os parlamentares definiu uma nova composição da mesa diretora, responsável, entre outras atribuições, por ditar o ritmo das votações realizadas no plenário. Além do presidente, já entrevistado pelo EMo grupo conta com mais cinco vereadores que, em entrevista à reportagem, falaram sobre as perspectivas para o próximo biênio, a relação com a prefeitura e a forma como buscarão lidar com as diferenças ideológicas e programáticas de cada mandato.

Com Juliano Lopes (Podemos) na presidênciao conselho de administração tem Fernanda Pereira Altoé (Novo) e Flávia Borja (DC) como 1ª e 2ª vice-presidentes, respectivamente. Pablo Almeida (PL) é o secretário-geral e tem como suplentes Wagner Ferreira (PV) e Wanderley Porto (PRD). O grupo chegou ao poder derrotar a chapa comandada por Bruno Miranda (PDT)líder do prefeito Fuad Noman (PSD) na Câmara.

Mesmo que os nomes da prefeitura tenham sido derrotados na eleição, não é correto dizer que a nova diretoria é oposição ao Executivo. A composição heterogénea une os parlamentares mais críticos de Fuad Noman e os vereadores que formaram a sua base na legislatura anterior, apoiaram o autarca na campanha à reeleição e estão positivos em continuar com a mesma postura neste mandato.

A articulação que uniu os vereadores em torno de Juliano Lopes e obteve os 23 votos necessários para sua eleição foi liderada por Marcelo Aro (PP). Eminência cinzenta em todas as esferas do poder mineiro, é secretário-chefe da Casa Civil do governador Romeu Zema (Novo), já nomeou quatro secretarias do Fuad no mandato anterior e tem sólida base de parlamentares na Câmara Municipal, Legislativo Assembleia e até em Brasília.

A relação com o Executivo para o novo biénio é, portanto, vista como uma missão que será conduzida de forma republicana pelo novo conselho de administração. Pelo menos esse é o tom unânime dos vereadores quando questionados sobre o tema. A ênfase está no fortalecimento da independência da Câmara, mas os parlamentares não negam que é preciso aparar arestas após divergências decorrentes da coordenação do Executivo às vésperas da eleição para a presidência da Câmara.

“Seria mentira dizer que a relação entre os Poderes não será afetada. De alguma forma gerou consequências pela forma como a eleição foi conduzida. Quando os vereadores da base deram a palavra foi porque não houve sinal do governo, que ainda assim avalizava que poderíamos fazer o que quiséssemos. Quando decidem lançar uma candidatura sem sequer consultar quem estava na base, é mais um erro. […] Está muito claro que o prefeito Fuad não agiu nesse sentido, esse é o primeiro ponto. O segundo ponto é que cabe ao governo reparar isso”, destacou Wanderley Porto, 2º secretário da Câmara.

A organização de Aro anunciou apoio a Juliano Lopes apenas um dia após o segundo turno das eleições. Foi apenas na última semana do ano que Bruno Miranda anunciou que participaria da disputa. Os vereadores do governo que já haviam anunciado o voto em Lopes reclamam por não terem sido consultados. Afirmam ainda que as articulações foram lideradas pelo vice-prefeito Álvaro Damião (União Brasil)que hoje assume interinamente as funções de comando executivo face às consecutivas complicações de saúde vividas por Fuad.

O tom de reconstrução de uma relação de confiança com a prefeitura também é usado pelo 1º vice-presidente, Fernanda Alto: “A eleição da Diretoria mostrou que a Câmara é independente. Não se rende ao Poder Executivo nem mesmo a Brasília. Esta independência não ignorará a necessidade de harmonia entre os Poderes, apesar da quebra de confiança com que iniciamos o novo mandato. A PBH prometeu não intervir nas eleições de 1º de janeiro, mas não cumpriu. Perdeu a tendência natural dos dois primeiros anos de mandato mais amigáveis. Não há sentimento de vingança por parte da nova gestão. Porém, espera-se que a PBH também busque um bom relacionamento institucional e reconheça que a força não é o caminho para construir pontes”.

Comissões

O início da legislatura também é momento de definir a composição das comissões temáticas da Câmara, estruturas responsáveis ​​pela avaliação dos projetos em tramitação na Câmara antes de serem apreciados no plenário. O preenchimento dos cargos das nove comissões permanentes da casa é uma das atividades mais importantes dos próximos meses. Wanderley Porto destaca que as vagas são poucas, mas não acredita em favorecer os vereadores que apoiaram a chapa vencedora na eleição da diretoria.

“Claro que não é possível atender a todos. O número de comissões é limitado e cada um tem as suas preferências. Mas, por parte do Juliano e da diretoria, não haverá nenhum tipo de perseguição”, afirmou.

O secretário-geral Pablo Almeida afirma que as definições sobre as comissões deverão ser finalizadas até o final de janeiro. Ele aproveitou para acenar para seus apoiadores do PL, maior grupo partidário da Câmara: “As conversas continuam acontecendo. A maioria dos vereadores ainda está em recesso, então acredito que essa conversa será realizada até o final do mês. Mas temos 6 vereadores na base do PL e todos têm condições de estar nas principais comissões temáticas da casa”.

Conflitos ideológicos

Pelo menos no discurso, a nova diretoria da Câmara pretende seguir um caminho de apaziguar as diferenças ideológicas entre os seus componentes. Reflexo da casa, entre os seis membros eleitos para comandar as atividades legislativas há posições antagônicas em relação às agendas morais, econômicas e políticas.

Wagner Ferreira é o nome mais à esquerda entre os conselheiros do conselho de administração. Mesmo sendo o único do grupo que não votou em Bruno Miranda para presidente da Câmara, ele está entre os nove parlamentares progressistas da casa, formada por mais quatro nomes do PT, três do PSOL e um do PCdoB. No relatório, ele reafirmou seu compromisso com agendas progressistas e com o diálogo entre vereadores de diferentes espectros ideológicos.

“Todos sabem que sou vereador de centro-esquerda e os meus votos em projetos ideológicos reafirmam isso. Não há possibilidade de mudanças na minha posição. Sou um vereador que respeita e conversa com todos os colegas e continuarei a fazê-lo para mostrar que os verdadeiros problemas da cidade não têm ideologia, como as cheias, a mobilidade e a falta de habitação. O Executivo já conhece meu perfil. Uma das minhas características é ter a minha opinião. Isso é importante para ajudar a garantir os interesses da Prefeitura na Câmara”, disse.

Do outro lado do espectro está Flávia Borja, veterana da Câmara com histórico de aprovação de projetos em temas sensíveis à discussão aduaneira, como o abortoe pela defesa de uma capital mineira mais conservadora. A 2ª vice-presidente também adota postura republicana ao falar sobre como pretende atuar na diretoria na tramitação de projetos polêmicos.

“A composição da mesa não deve e certamente não irá favorecer agendas de qualquer viés ideológico. Acredito que a Câmara esteja mais polarizada, mas essa disputa acontecerá onde deveria estar: nas comissões, nas discussões em plenário e nas votações de projetos de lei. A diretoria tem o dever e a responsabilidade de ser isenta”, destacou.

Bolsonarista e ex-assessor do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), Paulo Almeida garante também que o diálogo será valorizado em detrimento da defesa de agendas ideológicas. O vereador mais votado da história de BH também pretende ter espaço para trabalhar assuntos de seu interesse: “O perfil do Juliano é o diálogo e ele deixou claro que os dois lados terão espaço. Pessoalmente acredito que teremos espaço, que os conservadores terão voz e poderemos trabalhar bem as nossas propostas sem qualquer tipo de problema”.

Almeida acrescenta que espera que seu mandato seja uma continuação do de Nikolas Ferreira, que ocupou o cargo de vereador na capital mineira por dois anos antes de ser eleito para a Câmara dos Deputados em 2022. Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado Nikolas são, sem dúvida, minhas maiores inspirações na política. Ambos começaram como vereadores e viraram fenômenos, não só pelos votos nas casas legislativas, mas pelas posturas e firmeza, principalmente contra a esquerda e a corrupção. Sou defensor das mesmas bandeiras e entendo que meu mandato é uma extensão do mandato do deputado Nikolas aqui em BH. Uma continuação do bom trabalho que já fez pela cidade.”

Juliano e Gabriel

Juliano Lopes assume após dois anos liderado por Gabriel Azevedo (MDB). O ex-presidente deixará a Câmara após concorrer à prefeitura e terminar na quarta colocação. Ao chegar à chefia do Legislativo, Azevedo tinha um acordo para dividir o mandato com Lopes, mas não deixou o poder após cumprir seu primeiro ano à frente da Casa.

A gestão de Azevedo como presidente foi marcada por embates com o Executivo e também com alguns vereadores. Ele também foi alvo de dois processos de impeachment que não avançaram. Alguns dos parlamentares que votaram em Juliano Lopes no primeiro dia desta legislatura não pouparam críticas ao anterior presidente.

Flávia Borja Ela é um dos membros mais expressivos do conselho de administração quando se trata de oposição à gestão de Azevedo. Ela fez diversas críticas ao ex-presidente já no plenário, após a confirmação de Lopes como presidente. No relatório, ela reiterou sua posição.

“Nunca houve uma gestão tão absolutista e desastrosa na Câmara Municipal como a do ex-presidente Gabriel Azevedo, não só na minha opinião, mas também na opinião de colegas e funcionários da Câmara que lá estão há vários anos. Portanto, as perspectivas para este biênio são as melhores possíveis. A Câmara agora voltou a ser democrática, com um ambiente de paz e respeito, necessário para um bom trabalho da cidade”, disse.

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Wagner Ferreira também criticou a postura de Azevedo. Ele relembrou insultos públicos dirigidos a ele: “O ex-presidente não respeitou os vereadores. Eu, por exemplo, fui chamado de “remanescente de ontem” e “ladrão de botas” só por estar na base de Fuad e defender o governo. O vereador Juliano é experiente, tem caráter, fala e respeitará cada vereador. Esta é uma grande diferença.”

Na nova diretoria, o Partido Novo manteve a sua participação. Na presidência anterior, o partido foi representado por Marcela Trópia e, agora, por Fernanda Altoé. Para o EMo novo 1º vice-presidente elogiou Juliano Lopes e avaliou que a rixa do atual presidente com o ex-ocupante do cargo deveria ficar no passado.

“Os últimos dois anos da CMBH foram marcados por um contexto de confronto público entre o ex-presidente da Câmara e o atual. Mas, na minha opinião, este será um ponto de viragem. Cada presidente deixa sua marca pessoal na liderança da Câmara. Juliano é uma pessoa que saberá reconhecer e dar continuidade ao progresso e às mudanças positivas; que tenha humildade e interesse em aprender e dar o seu melhor, e saberá exercer a moderação e a firmeza necessárias”, disse.



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