O número de pessoas e entidades que aceitaram acompanhar as eleições do próximo domingo (28/7) na Venezuela sofreram perdas esta semana.
Na quarta-feira (24/7), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desistiu de enviar técnicos ao país vizinho depois que o ditador Nicolás Maduro questionou, sem provas, o sistema de votação brasileiro. No mesmo dia, o ex-presidente argentino Alberto Fernández disse ter sido desconvidado pelo regime para observar as eleições.
Estes não são os primeiros retrocessos entre aqueles que tentam garantir a justiça do voto, cujo resultado pode significar o fim do ciclo chavista após 25 anos. O regime também retirou o convite à União Europeia e, internamente, negou o credenciamento ao OEV (Observatório Eleitoral da Venezuela). Entre outros, foi mantido o Painel de Peritos Eleitorais da ONU (Nações Unidas).
Observadores nacionais
Segundo a imprensa venezuelana, a Assembleia da Rede de Observação Eleitoral de Educação (ROAE), a Fundação Projeto Social, a Associação Venezuelana de Juristas e o Centro Internacional de Estudos Superiores estão habilitados a observar formalmente as eleições.
Destes, o mais relevante é o primeiro, que foi observador de todas as eleições ocorridas no país desde 2006 e passou a fazer parte da Rede de Observação da Integridade Eleitoral, que reúne organizações da sociedade civil de vários países latino-americanos.
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Em declarações ao site venezuelano Efecto Cocuyo, o coordenador geral da ROAE, José Domingo Mujica, afirmou que 600 observadores estarão nas ruas no domingo, em todos os estados do país. Ele disse que a entidade solicitou um número maior de autorizações, mas não foi concedida.
Pelo menos duas organizações não conseguiram obter o credenciamento junto ao CNE (Conselho Nacional Eleitoral): OEV (Observatório Eleitoral da Venezuela) e Voto Jovem, que ainda mobilizarão 700 e 120 pessoas respectivamente para avaliar a eleição. Nenhuma das entidades poderá entrar nos centros de votação.
Convidados internacionais
O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, afirmou, no início de julho, que 635 observadores internacionais confirmaram a sua participação nas eleições. O número incluía organizações como Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e Caricom (Comunidade Caribenha), mas também vários grupos publicamente simpáticos ao chavismo, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade). com as Pessoas e a Luta pela Paz). Como representante do governo brasileiro estará Celso Amorim, assessor especial de Lula para assuntos internacionais.
Além destas entidades, estarão presentes o Painel de Peritos Eleitorais da ONU e o Carter Center, as instituições mais credenciadas para avaliar o processo eleitoral.
“A observação internacional é limitada”, disse Eugenio Martínez, diretor da organização venezuelana Votoscopio, à ONG americana WOLA (Escritório de Washington para a América Latina). “Está praticamente confinado ao Painel de Peritos Eleitorais da ONU e ao Carter Center.”
Muitas das missões enviadas não são de natureza técnica, segundo ele. “Em termos gerais, mais do que missões de observação, são monitorização política, (…) não têm capacidade para fazer uma avaliação técnica”, afirma.
Não convidado
Alguns convidados ficaram no esquecimento ao longo da campanha. A mais importante foi a União Europeia, desconvidada do processo no dia 28 de maio por uma declaração do presidente da CNE, Elvis Amoroso, na qual afirmava que os observadores europeus “não são pessoas honradas por virem a este país mantendo as sanções”.
Dias antes, o bloco havia retirado as punições contra quatro funcionários eleitorais, incluindo Amoroso. No entanto, o chefe da CNE disse que não poderia aceitar este gesto da UE, por “persistir nas suas práticas neocoloniais”. “Rejeito categoricamente as intenções da União Europeia de me coagir”, disse ele na altura.
O caso foi o mais simbólico porque um acordo que tentava garantir eleições livres e justas assinado pela oposição e pelo regime meses antes, em Barbados, exigia o convite de observadores internacionais, incluindo o bloco europeu.
Caracas também retirou o convite que havia feito a Alberto Fernández, ex-presidente argentino com quem o regime manteve uma relação cordial durante o período em que o peronista esteve na Casa Rosada. O desconvite ocorreu depois que Fernández fez eco ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que havia condenado o discurso de Maduro sobre um “banho de sangue” no país caso a oposição vencesse.
“Se [Maduro] for derrotado, o que ele deve fazer é aceitar, como disse Lula. Quem ganha, ganha, e quem perde, perde. […] Vou fazer o que me pediram: ser um observador das eleições para que tudo funcione bem”, disse ele em entrevista à rádio nesta terça-feira (23), mesmo dia em que o regime o contatou para pedir que não viajar, segundo ele.
Há também convidados da oposição. Em conferência de imprensa, a líder da oposição María Corina Machado disse ter convidado mais de 200 pessoas, e que mais de 60, de 12 países, confirmaram. Ela não revelou suas identidades nem deu detalhes sobre quantos foram autorizados a entrar no país.
Pelo menos uma das delegações convocadas pela oposição não vem, segundo informações da agência de notícias Europa Press. Na semana passada, a embaixada da Venezuela em Madri informou ao Ministério das Relações Exteriores da Espanha que não permitiu a entrada de um grupo de senadores convidados por María Corina, informou a agência nesta segunda-feira (22).
HÓSPEDES QUE NÃO VÃO
A quatro dias das eleições, na última quarta-feira, o TSE desistiu de enviar técnicos para acompanhar o pleito depois que Maduro afirmou, em meio a atritos com Lula, que as eleições no Brasil, nos Estados Unidos e na Colômbia não são auditadas.
O tribunal inicialmente recusou o convite da CNE alegando que precisava de se concentrar nas eleições municipais brasileiras em Outubro. Em julho, porém, o tribunal recuou e concordou em enviar dois servidores a convite do órgão venezuelano. Com os discursos do ditador, ele decidiu novamente não enviar representantes.
Também esta semana, a imprensa colombiana confirmou junto de governantes que o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, também não viajará ao país, mas não foram divulgados detalhes da decisão. No final de maio, o país já havia negado a possibilidade de enviar uma missão alegando falta de tempo para organizar algo desta magnitude.
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