09/10/2024 – 18:39
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Bruno Ganem (D) questiona o Brigadeiro Marcelo Moreno
Relatório preliminar sobre a queda do avião VoePass, no dia 9 de agosto, divulgado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), mostra que não houve declaração de emergência por parte da tripulação antes da queda. Divulgado na última sexta-feira (6), o relatório revela as transcrições da comunicação de áudio entre os pilotos da aeronave e a torre de controle extraídas da caixa preta.
O avião saía de Cascavel (PR) com destino a São Paulo, caiu em Vinhedo, próximo à capital paulista, matando todas as 62 pessoas a bordo, incluindo quatro tripulantes e 58 passageiros.
A investigação do Cenipa sobre o caso continuará e abordará, por exemplo, a situação de manutenção da aeronave, mas a investigação sobre responsabilidade civil e criminal ficará a cargo da Polícia Federal.
Procure por segurança
Chefe do Cenipa, o brigadeiro aéreo Marcelo Moreno esclareceu que, diferentemente da investigação judicial, que busca culpados, a investigação feita pelo órgão busca a segurança no transporte aéreo – ou seja, evitar que acidentes como esse se repitam.
Segundo Marcelo Moreno, a aeronave estava adequada para voar em formação de gelo e a tripulação também foi treinada para voar nessas condições. “Aeronave certificada, tripulação treinada, informações meteorológicas eram claras de que a aeronave poderia encontrar gelo severo em sua rota e em nenhum momento foi declarada uma emergência”, detalhou.
O brigadeiro informou ainda que, a partir do relatório preliminar, é possível especificar que o sistema de degelo da aeronave foi acionado três vezes durante o voo após ser indicado que havia formação de gelo na aeronave, pelo sistema denominado detector de gelo eletrônico.
Questões
As declarações foram feitas nesta terça-feira (10) em audiência pública do comissão externa que acompanha as investigações do acidente com o avião Voepass. O debate foi sugerido pelo coordenador da comissão, deputado Bruno Ganem (Podemos-SP).
O parlamentar e demais membros da comissão questionaram se o sistema de degelo poderia ter sido desligado sozinho, sem que o piloto quisesse. Marcelo Moreno afirmou que, neste momento, não é possível determinar se houve falha no sistema de degelo.
“O que temos hoje em fazer backup protegido, que é o gravador de voz caixa preta, é apenas a informação de quando aquele botão liga ou desliga foi ligado e desligado. Hoje não temos como afirmar se foi o próprio piloto quem ligou ou desligou ou se foi um problema mecânico”, explicou.
O brigadeiro afirmou que essas informações ainda serão buscadas nos chips dos computadores do avião e nos fabricantes. “Neste momento, ainda muito preliminar, não podemos afirmar se houve uma falha no sistema”, disse, acrescentando que não há certeza de que esses dados estarão disponíveis nos computadores.
Questionado por Ganem, o coronel Marcelo informou que existem aeronaves mais modernas em que o sistema de degelo é acionado automaticamente.
Resumo do relatório
O coronel aviador Carlos Henrique Baldin, também do Cenipa, destacou que o órgão está apenas no início das investigações e apresentou à comissão um resumo do trabalho realizado até o momento.
Ele explicou que o piloto do Voepass solicitou autorização para se preparar para o pouso pela primeira vez às 13h18, mas um voo em rota convergente, em menor altitude, impediu a autorização.
Às 13h20, o piloto recebeu a informação de que a aproximação seria autorizada em 2 minutos, novamente devido a uma aeronave em rota convergente. Porém, 1 minuto após a comunicação, às 13h21, o avião começou a cair, sem que a tripulação tivesse declarado emergência.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Padovani (D) questionou o funcionamento do sistema antigelo
Sistema de descongelamento
Relator da comissão externa, deputado Padovani (União-PR) também quis saber sobre a manutenção da aeronave e por que o sistema de degelo foi acionado e desligado diversas vezes. “Se ele estivesse ciente das condições climáticas adversas e percebesse que o sistema antigelo não estava funcionando satisfatoriamente, e ligasse quatro vezes, a melhor alternativa não seria ter declarado emergência e procurar uma alternativa melhor?”, perguntou Padovani.
O Coronel Carlos Henrique Baldin explicou como funciona o sistema de degelo da aeronave. “Ao ligar, passa a atuar em poucos segundos em ciclos de 1 a 3 minutos, dependendo da seleção do tipo de ciclo que é realizado e essa seleção varia dependendo da intensidade do gelo que se forma” , ele afirmou.
“A partir do momento que ocorre a ativação, ele automaticamente quebra o gelo e esse gelo começa a se soltar gradativamente, não sei estimar com precisão quanto tempo leva”, completou.
Baldin reiterou que a questão da manutenção das aeronaves ainda será investigada e garantiu que os funcionários serão ouvidos. Além disso, afirmou que ainda não é conhecido o nível de conhecimento da situação da tripulação quanto à formação de gelo nas partes externas da aeronave.
Reclamação
O deputado Padovani afirmou que denúncia anônima, encaminhada em 26 de agosto ao Ministério Público do Paraná, acusa o Voepass de atuação irregular no município de Cascavel e acusa a Transitar (autoridade municipal reguladora do setor de mobilidade) de responsabilidade criminal.
Representantes do Cenipa esclareceram que a questão da responsabilidade criminal será investigada pela Polícia Federal.
Relatório – Lara Haje
Edição – Natalia Doederlein
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