Quando o morro não desce à Câmara

Quando o morro não desce à Câmara



A uma semana do segundo turno da eleição em BH, o então candidato à recondução à prefeitura, Fuad Noman (PSD), foi ao maior aglomerado de favelas do estado reafirmar seu nome como candidato das comunidades da capital paulista. Minas Gerais. Na Serra, região Centro-Sul, o candidato falou a moradores ladeados por pelo menos cinco candidatos a vereadores que não conquistaram vaga na Câmara Municipal no pleito ocorrido duas semanas antes.

Naquela época, Fuad já articulava a criação da Coordenação de Aldeias e Favelas como parte da reforma administrativa que aprovaria após a confirmação de sua reeleição. A representação desta enorme camada da população da cidade no Executivo é de crucial importância, especialmente dado o cenário terrível para os líderes comunitários no Legislativo. Entre os 41 vereadores que tomaram posse anteontem, faltam carreiras políticas construídas com foco nas periferias da cidade.

Segundo o Censo Demográfico 2022, quase 308 mil moradores de Belo Horizonte vivem em favelas, mais de 13% da população total. A tentativa de fazer com que esse poder fosse representado na Câmara, porém, não obteve sucesso. Há parlamentares da periferia e com projetos sociais dessa natureza, como Iza Lourença (PSOL) e Edmar Branco (PCdoB), mas nenhum dos nomes se apresenta como líder comunitário ou algo parecido.

Na coluna, Branco afirmou que pretende trabalhar para fortalecer a representação dos moradores de vilas e favelas da cidade, inclusive se colocando à disposição para auxiliar na coordenação montada pela prefeitura. “Precisamos discutir um instrumento para garantir a voz deles. Infelizmente, nas eleições, muitos candidatos que não têm compromisso com essas comunidades ganham muitos votos lá”, analisou o vereador que mora no Conjunto Paulo VI, Nordeste da Capital.

Kika da Serra (Podemos) fez parte do grupo de 11 candidatos do Aglomerado da Serra que buscam uma vaga na Câmara. Com um longo histórico de liderança comunitária, ela recebeu 2.556 votos e terminou a eleição como substituta. Na coluna, ela analisou o cenário e reclamou da falta de apoio dos partidos aos moradores das periferias que tentam ingressar na vida política.

“Um líder comunitário como eu pensa em entrar na política para fazer a diferença dentro do nosso território, mas não nos organizamos como fazem os grandes grupos políticos. Poderíamos ter eleito 5 vereadores se os moradores votassem apenas em pessoas de sua própria comunidade. Os próprios partidos também têm suas prioridades e liberam pouco dinheiro para as campanhas de quem mora nas favelas”, avaliou.

Os números confirmam a percepção de Kika. Ao consultar os dados enviados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é possível calcular que os 11 candidatos serranos receberam, em média, R$ 28,6 mil por suas campanhas. A média dos 41 vereadores eleitos foi de R$ 312 mil, cerca de 11 vezes maior. Entre os suplentes, a média foi de R$ 48,3 mil.

Lorrayne Batista é jornalista e comunicadora periférica em Cabana do Pai Tomás, onde vivem 14.704 pessoas segundo o Censo 2022. A maior favela da cidade também não teve representantes no Legislativo Municipal, o que preocupa as lideranças locais. “Historicamente as favelas não são atendidas e não ter representação na Câmara piora ainda mais, porque as pessoas que já têm experiência em favelas e estão nesse ambiente já têm dificuldade de aprovar qualquer melhoria, sem ninguém, a situação fica muito mais grave”.

Após a eleição, o foco dos líderes comunitários no início do ano se volta para a prefeitura e sua ainda vazia Coordenação de Aldeias e Favelas. Kika da Serra diz que sugeriu ao Fuad a criação de uma secretaria específica para o tema nas negociações para apoiar o candidato no segundo turno, o que não foi implementado. A expectativa comum entre aqueles que trabalham pelos direitos das centenas de milhares de moradores de Belo Horizonte nas periferias é que a nova estrutura do Executivo seja formada por quem compartilha sua realidade cotidiana.

A prefeitura não dá pistas sobre quem assumirá o cargo, mas o ex-vereador Gilson Guimarães (PSB) afirma ter sido convidado para comandar a coordenação pelo vice-prefeito Álvaro Damião (União Brasil). O ex-parlamentar tentou a recondução, mas seus 3.105 votos não foram suficientes.

Reforma sancionada, cargos vagos

Fuad Noman sancionou ontem a lei que regulamenta a reforma administrativa da Prefeitura de Belo Horizonte. A partir de fevereiro, o Executivo da cidade passará a contar com quatro novas secretarias: Segurança Alimentar e Nutricional; Mobilidade Urbana; Logística e Gestão de Ativos; e a Secretaria-Geral. Além disso, o projeto cria coordenadores de Mudanças Climáticas; e de Aldeias e Favelas. Nenhuma das novas estruturas já tem seus membros nomeados, que devem circular nos bastidores da capital ao longo do mês. (SER)

Plantas em posse

Além de saírem do plenário da Câmara Municipal de BH oficialmente empossados ​​para o quadriênio 2025-28, cada um dos vereadores da capital mineira saiu anteontem da Casa com uma nova peça de decoração. A recém-chegada Luiza Dulci (PT) levou vasos de plantas para cada um dos colegas como presente de boas-vindas. Ao lado da ‘lembrancinha’, o parlamentar deixou uma mensagem que dizia “acreditar no futuro é fazer florescer uma BH mais justa, ecológica e acolhedora”, seguida do nome da espécie oferecida. (SER)

Todos os homens do ex-presidente

O PL formou o maior grupo partidário da Câmara de BH, com seis nomes, sendo cinco deles homens e quatro absolutamente ligados ao bolsonarismo. Mesmo com a Câmara em recesso parlamentar, os vereadores já mostram a coesão do bloco ao caminharem em grupo pelos corredores do Palácio Francisco Bicalho. Claudio do Mundo Novo, Pablo Almeida, Sargento Jalyson, Vile dos Santos e Uner Augusto passaram o segundo dia do ano montando seus gabinetes e visitando o novo presidente do Legislativo, Juliano Lopes (Podemos).

(BE e Larissa Figueiredo)



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