Membro histórico do PT e um dos membros do primeiro escalão do governo mais próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, é mais um membro do partido a fazer uma autocrítica baseada em o desempenho do PT nas urnas nas eleições municipais deste ano.
Embora considere que a “base de Lula” venceu a corrida eleitoral deste ano e rejeite a ideia de que o PT estivesse na “zona de rebaixamento”, como declarou seu colega ministro e apoiador Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), Teixeira afirma que o PT e o governo precisa de “fazer a transição” para a política no mundo digital.
O ministro defende ainda que o partido dialogue com as religiões e se fortaleça numa área que, nos últimos anos, tem sido dominada pelo bolsonarismo.
Com base eleitoral no estado de São Paulo, Paulo Teixeira defende a cassação do registro de candidatura de Ricardo Nunes (MDB), prefeito reeleito na capital paulista, em razão da declaração do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) associando, no dia do segundo turno, a candidatura do rival Guilherme Boulos (PSOL) à facção criminosa Primeiro Comando da Capital. Para ele, foi um ato de abuso de poder que merece ser punido pela Justiça.
Sobre o futuro político do aliado Boulos, o ministro diz que, para ter viabilidade para as eleições de 2028, precisará seguir os passos da história de Lula, que após perder eleições corrigiu rumo e construiu alianças para vencer. E também terá que corrigir a postura do próprio PSOL, que, nas votações na Câmara Municipal, terá que “seguir o caminho de quem quer governar São Paulo”.
Teixeira foi o convidado desta terça-feira, 29, do PlatôBR Entrevista (assista aqui). Ao falar sobre os riscos à democracia no Brasil e as investigações sobre atos antidemocráticos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), ele defendeu a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem considera o “grande mentor da tentativa de golpe” . Abaixo estão os principais trechos:
Transição do PT para o digital
“Temos que fazer uma transição para a comunicação e disputa digital. Os do PT que fizeram essa transição se saíram bem. Até a Natália Bonavides, que não ganhou em Natal, fez esta transição para a comunicação digital e correu bem. Nabil Bonduki, de 70 anos, (candidato a vereador) em São Paulo, fez a transição para a comunicação digital e se saiu bem.”
Avaliação negativa do governo
“Acho que há dois aspectos que são importantes. O primeiro aspecto é que podemos comunicar melhor as nossas conquistas, pois muitos dos beneficiários (dos programas federais) não têm conhecimento da autoria das conquistas. Em segundo lugar, temos que melhorar os programas nestes dois anos restantes do governo do presidente Lula. Acho que isso está sendo resolvido. Por exemplo, eu sei que a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República) não tem nenhum contrato de redes digitais. Portanto, estamos a falar com os velhos meios de comunicação, não estamos a falar com os novos. Parece que este contrato está sendo licitado e começará a funcionar agora.”
‘Base do governo venceu’
“Na política nacional, quem ganhou, Lula ou seu adversário, Jair Bolsonaro? Foi Lula. A base de Lula venceu as eleições. Por exemplo, para quem Fuad (Noman, prefeito reeleito de Belo Horizonte) fez campanha nas últimas eleições? Para Lula, em Belo Horizonte. Para quem Eduardo (Paes, prefeito reeleito do Rio) fez campanha? Para quem ele fez campanha nas últimas eleições? Para Lula. Está certo ou não? Tem também o João Campos (reeleito em Recife).”
Reeleição e emendas
“Os prefeitos foram reeleitos. Por que eles foram reeleitos? Por três aspectos que considero importantes. A primeira delas é que a economia vai bem. Então, se der certo, o poder mais direto, mais próximo do cidadão, é a prefeitura. A economia vai bem, a prefeitura vai bem. E me refiro a um segundo fator: as finanças municipais foram reestruturadas pelo governo do presidente Lula. Ele reestruturou a divisão do ICMS, e isso fez com que as prefeituras reconstruíssem suas finanças. Então, as prefeituras também estão indo bem do ponto de vista financeiro. Um terceiro fator é o fator de alterações do Pix. Essa captura de orçamento pelo Centrão fez com que as prefeituras e seus candidatos tivessem muito dinheiro nesse período eleitoral.”
‘Extrema direita derrotada’
“A extrema direita foi derrotada. A extrema direita quase passou para o segundo turno em São Paulo, ou seja, se (Pablo) Marçal não tivesse feito aquela besteira na reta final (a publicação de uma reportagem falsa associando Guilherme Boulos ao uso de drogas), ele teria tivesse ido para o segundo turno, ele seria derrotado no segundo turno. Mas a extrema direita foi derrotada no Brasil, em Belo Horizonte (com Bruno Engler), Ramagem foi derrotada no Rio, Marçal foi derrotado em São Paulo.”
Padilha e ‘PT rebaixados’
“Essa ideia de rebaixamento do PT, do Padilha, como um bom Corinthiano, não vale nem para o Corinthians. O Corinthians venceu ontem o jogo contra o Cuiabá e saiu da zona de rebaixamento. E o PT não está na zona de rebaixamento. Tivemos uma militância muito acirrada que foi às eleições, que perdeu a vergonha, porque estava sendo atacada por ser petista, pela bandeira vermelha, pela estrela. (A militância) perdeu a vergonha, foi e lutou. Na minha opinião, o que fica é esta análise de uma política de alianças que talvez devesse ter tido mais destaque nestas eleições.”
Diálogo com igrejas
“Agora o que resta é esta análise de uma política de alianças que talvez devesse ter tido mais destaque nestas eleições. (…) Acho que precisamos intensificar o diálogo com as religiões, porque, no período passado, houve uma instrumentalização das religiões contra nós, e isso precisa ser reduzido. Precisamos retomar o diálogo com as religiões, porque elas, muitas igrejas, também foram impulsionadoras desse antiptismo e dos ataques, muitas mentiras que foram contadas contra nós.”
Derrota de Guilherme Boulos
“Discordo (que ele atingiu o teto de uma candidatura de esquerda e não conseguiu chegar ao eleitorado do próprio Lula) e vou te contar por quê. Não é fácil competir com o prefeito da capital. Concorreu contra Bruno Covas em 2020 e concorreu contra Ricardo Nunes em 2024. Ter 40% dos votos é uma virtude e não é ruim. Lula também disputou diversas eleições e não foi eleito, mas teve uma carreira vitoriosa. Ele expandiu, construiu um partido de poder, de governo, e acho que Boulos também pode fazer isso. Boulos também pode ter um caminho para o poder.”
O exemplo de Boulos, PSOL e Lula
“Acho que o que ele (Boulos) pode fazer é ampliar seu leque de alianças para a próxima disputa, fazer uma eleição em que saiamos juntos em 2028, e ele vai corrigir isso. Ele também tem que corrigir outra questão, que é uma questão do partido. PSOL, a partir de agora, a bancada do PSOL em São Paulo, toda a votação será vista para 2028. Agora, os votos do PSOL em São Paulo terão que ser muito discutidos, porque todos vão depor a favor ou contra Guilherme Boulos para 2028 .Acho que ele tem que ter a trajetória de quem quer governar São Paulo nos próximos quatro anos.”
‘Temos que colocar o chefe na cadeia’
“A democracia é aquela florzinha que você tem que regar todos os dias e tirar o mato, tirar os pulgões que estão em volta para que possamos ter uma sociedade mais envolvida, porque é na democracia que a sociedade cresce. Acho que, agora, todos que tentaram deveriam ser presos. Muitos estão na prisão, mas têm que colocar o patrão, o chefão, na cadeia, que é inelegível. Ele não só tem que ser inelegível, mas também tem que cumprir (a pena). Espero que o processo chegue agora, que depois das eleições possam concluir e puni-lo exemplarmente, porque ele foi o grande mandante daquela tentativa de golpe.”
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