A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal deverá colocar em votação hoje o Projeto de Lei nº 5.008/2023, da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que define a regulamentação do uso e comercialização de cigarros eletrônicos no Brasil – também conhecido como “vape”. A discussão do texto já foi adiada mais de uma vez até que seja definida uma nova data para que ele entre na agenda dos senadores. A sessão está marcada para as 10h.
A proposta foi apresentada no ano passado e é relatada por Eduardo Gomes (PL-TO) que, apesar de ser contra alguns pontos do texto, defende a aprovação do projeto. Na última vez em que o texto foi discutido, ainda em julho deste ano, o senador Mecias de Jesus solicitou requerimento que foi aprovado pela comissão. Se aprovado, o tema será levado ao plenário.
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O projeto define o conceito de dispositivos eletrônicos para fumar (EDFs), que incluiria tanto cigarros eletrônicos quanto produtos similares. Os defensores da proposta argumentam que a lei poderia injetar R$ 2,2 bilhões na receita anual. Apesar disso, os parlamentares contrários à matéria reforçam que poderá haver um aumento dos gastos no Sistema Único de Saúde (SUS), devido aos riscos aos usuários, tendo em vista que o tabagismo é uma das maiores causas de câncer no mundo.
Levantamento realizado pela Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde de São Paulo, em parceria com o Instituto do Coração (Incor) e o Laboratório de Toxicologia da Universidade de São Paulo (USP), divulgado em junho passado, mostra que o vaping provoca níveis mais graves de intoxicação do que os cigarros tradicionais. O estudo, realizado com base em dados de 200 fumantes de cigarros eletrônicos, detectou que os níveis de nicotina presentes nesses usuários eram de três a seis vezes maiores em comparação aos fumantes de cigarros convencionais.
Em entrevista ao CB.Saúde – programa do Correio em parceria com a TV Brasília – no dia 15 de agosto, o oncologista clínico William William, membro do Comitê de Tumores Torácicos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, afirmou que o uso continuado de cigarros eletrônicos aumenta o risco de desenvolver câncer.
“Existem muitas substâncias presentes nos cigarros eletrónicos que são reconhecidamente cancerígenas. Só não temos ainda provas sólidas de que os cigarros eletrónicos, nas doses que estão a ser utilizadas, levam a um aumento de casos de cancro. acontecer, pois são substâncias reconhecidamente cancerígenas”, destacou o especialista.
Para o autor do projeto, porém, a legalização do produto, com fiscalização rigorosa, poderia ter um efeito contrário ao que se acredita. Em novembro do ano passado, Thronicke defendeu, em plenário, a agenda de regulamentação dos vapes, alegando que a proibição seria mais prejudicial à população, visto que, mesmo com a lei atual restringindo a venda do produto, mais de 2,2 milhões de brasileiros usar cigarros eletrônicos.
Manifesto
Cara Vape: como os cigarros eletrônicos podem deixar você 10 anos mais velho
Ontem, a Associação Brasileira dos Médicos (AMB) publicou nota em que reitera a posição contrária da entidade em relação ao PL 5.008. No total, 80 entidades nacionais ligadas à medicina e à ciência assinaram a nota oficial. Segundo os profissionais, a proposta representa uma “grave ameaça à saúde pública brasileira e a toda a sua população”.
“Diante deste cenário grave e preocupante, as entidades médicas aqui representadas reafirmam sua oposição completamente contrária a qualquer tipo de alteração na atual regulamentação estabelecida pela Anvisa, que proíbe a venda de cigarros eletrônicos no Brasil, e apelam à Comissão de Assuntos Econômicos ( CAE) avaliar com extremo rigor não só os aspectos da arrecadação tributária, mas, principalmente, as consequências para a saúde”, defendem as entidades.
Entre os signatários da nota estão também a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a Academia Nacional de Medicina (ANM), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Um dos pontos levantados pelas entidades é a falta de efetividade no monitoramento do uso de produtos vape. Desde 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe a venda e o consumo desses produtos. Em abril deste ano, o mesmo órgão ratificou o entendimento, após consulta pública.
Em nota, a Associação Brasileira da Indústria do Tabaco (Abifumo) afirmou que a proibição transforma o país em rota de contrabando e tem se mostrado ineficiente. “A Abifumo reafirma que a proibição do cigarro eletrônico no Brasil já se mostrou ineficiente, deixando o país na contramão das discussões com base científica sobre o assunto e apenas trazendo para o Brasil produtos irregulares, que não deveriam existir. em mais de 80 países como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Suécia, Nova Zelândia, entre outros, estão disponíveis produtos controlados que oferecem alternativas de menor risco aos fumantes adultos, como já foi comprovado cientificamente”, declarou a entidade.
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