Preconceito contra Duda impede que ela seja a candidata da esquerda,diz PDT

Preconceito contra Duda impede que ela seja a candidata da esquerda,diz PDT



O PDT de Minas Gerais disse que a deputada federal Duda Salabert (PDT) está sendo preterida na liderança dos partidos de esquerda em uma aliança para as eleições para prefeito de Belo Horizonte por ser uma mulher trans. Segundo o presidente do partido no estado, deputado federal Mário Heringer, por mais que o partido tentasse dialogar com os partidos de centro-esquerda, não foi possível avançar uma união em torno da candidatura de Duda.

“Atribuo isso ao preconceito, pela condição trans da Duda, de partidos que deveriam ser mais progressistas, que deveriam se sentir mais confortáveis ​​com apoios como esse. Na minha opinião, ela foi discriminada, porque tem a melhor avaliação (nas pesquisas) e está à frente de todos os outros candidatos (da esquerda). Por isso, não vemos outro caminho, não vemos outra possibilidade (de ela não ser candidata), a não ser que retroajam”, afirma.

Hoje, a deputada estadual Bella Gonçalves (Psol) anunciou sua desistência da disputa em apoio ao pré-candidato petista, deputado federal Rogério Correia. A deputada estadual Ana Paula Siqueira (Rede) também renunciou à pré-candidatura para ingressar em Correia. Desde o início da pré-campanha, todos defendiam uma frente única na capital mineira envolvendo PT, PDT, PV, Rede e Psol.


A presidente do PDT em Belo Horizonte, Shirley Soalheiro, faz a mesma avaliação. Para ela, se Duda fosse homem e não mulher trans, certamente teria apoio para encabeçar a chapa do partido de centro-esquerda. “Sabemos que não é bom não ter toda a esquerda unida, mas a Duda está em terceiro lugar nas pesquisas e o certo seria ela ser candidata, pois ela tem pontuação muito melhor que todos os outros no esquerda”, avalia.

Soalheiro diz que mesmo que o partido não consiga estabelecer novas alianças, será candidato em chapa pura. Mas ela garante que há um diálogo contínuo com outros partidos, mas não quis dizer qual partido seria. Ela destacou que o tempo de televisão é importante, por isso o partido busca ampliar alianças, agora mais difíceis por causa das federações partidárias, mas lembrou que o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD) foi eleito em 2016 em um partido pequeno, na época o nanico do PHS, e quase sem tempo nas horas de votação livre.


“Acredito que haja um preconceito. Isto é muito complexo. Num momento em que Duda se destaca em todos os cenários, ela não tem grupo, apoio de outros partidos, dessa ampla frente de esquerda. E se ela fosse homem seria diferente”, questiona a dirigente que diz ainda torcer para que Duda seja o candidato da esquerda.

“Chegou a hora de BH deixar de ser uma capital conservadora e fazer mudanças. Duda é uma mulher trans extremamente competente. Precisamos de mudanças e elas acontecerão. Vamos para o segundo turno”, diz Shirley.

Desde o início das discussões sobre uma possível frente de centro-esquerda em Belo Horizonte para a disputa pela PBH, Duda defende que o critério para escolher quem encabeçará a chapa deveria ser a melhor pontuação nas pesquisas.

Esse critério, diz um interlocutor muito próximo do pré-candidato, tem sido adotado em todas as capitais onde partidos da base do governo Lula disputam a indicação à frente da chapa para decidir quem será o candidato. Ele cita como exemplo Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Curitiba e também Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde o PT abriu mão do nome do ex-prefeito Jesus Lima para apoiar um candidato mais bem colocado do PV, o ex-prefeito vereador Vinícius Resende.

O mesmo critério foi defendido nas eleições de 2016. Na época, o PT apresentou o deputado federal Reginaldo Lopes como pré-candidato. Já o PCdoB teve o então deputado federal Jô Moraes na disputa. Apesar de ter pontuação melhor que Reginaldo – muito pela reconvocação da eleição de 2008, quando passou a liderar a disputa -, Jô foi preterido na liderança da chapa e foi apontado como vice-presidente de Reginaldo. Na apuração dos votos, a chapa PT-PCdoB ficou em quarto lugar, com pouco mais de 7% dos votos válidos. Naquele ano, João Leite e Alexandre Kalil foram para o segundo turno – vencido por Kalil -, e o então deputado federal Rodrigo Pacheco ficou em terceiro lugar, com 10% dos votos válidos.

A escolha de Lula

Bella Gonçalves negou que a aliança em torno do nome de Correia e não de Duda tenha sido motivada por preconceito. Segundo ela, a decisão “é baseada na escolha do presidente Lula e não em qualquer outro aspecto como o que está sendo discutido”. “Para o PDT, considero um pouco desonesto e gostaria de dizer também que a pessoa do PDT que declarou isso provavelmente não é uma pessoa LGBT, não tem nenhuma contribuição e luta na agenda LGBT, porque até o PDT, assim como vários outros partidos, há problemas de transfobia, mas não foi esse o problema que nos levou a tomar nossa decisão aqui em Belo Horizonte”, disse Bella.

Rogério Correia diz que “transfóbico e lgbtfóbico é o certo”. “Que temos que lutar com a unidade da esquerda, como sempre lutamos no Congresso Nacional e em todos os espaços de atuação política”. “Nossa unidade está quase concluída. Só falta a Duda e ainda espero que ela venha conosco”, afirmou a pré-candidata.

Duda Salabert foi procurada pela reportagem, mas não quis comentar a decisão do Psol nem a posição de seu partido. Em entrevistas, Duda já disse que se não fosse uma pessoa trans teria vários partidos apoiando-a.



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