Por que a hiper politização é exaustiva e danosa?

Por que a hiper politização é exaustiva e danosa?



Tudo se tornou excessiva e exaustivamente político. Há filósofos que tratam disso de maneira muito apropriada. Foucault, por exemplo, foi um deles. Ele entendeu que o poder estava em toda parte e se manifestava de muitas maneiras nas menores ações. Eu concordo completamente. Porque quem seria eu para discutir ou discordar de Foucault. Eu li algo aqui e ali. A questão não é compreender a microfísica do poder ou algo parecido.

A questão é entender por que, a qualquer hora e em qualquer lugar, você parece ter um Foucault em potencial diante de você lembrando que tudo é político e precisa ser politizado: o cabelo que você usa, as roupas que você veste, a comida você come. o que você come, o lugar que você mora, o transporte que você usa, o lugar que você compra, o que você não compra e deveria comprar, o que você assiste, o que você fala ou deixa de dizer. A lista é interminável! Não sei se isso tem sido bom para a sociedade.

No meio de “tudo é político”, obviamente, aquele autor que você lê também se torna uma atitude política. O problema é que, uma vez elevado à posição sacrossanta de guru deste ou daquele, ou deste ou daquele assunto, você não consegue mais falar sobre nada que ouse criticar, por menor que seja a discussão. E, sim, estou falando de Silvio Almeida. Ilustro com uma história.

​Era o mês de março e uma entrevista no jornal Folha de S. Paulo com o professor Muniz Sodré ele estava discutindo o lançamento de seu livro na época, intitulado O Fascismo da Cor. Sodré, professor emérito da UFRJ, questionou a ideia de racismo estrutural. Perceba, leitor, que não foi nada absurdo ousar questionar um problema tão grave e tão arraigado em nossa História como o racismo. A questão era um ponto de vista diferente.

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Basicamente a ideia era dizer que diferentemente do que defende o agora ex-ministro Silvio Almeida, o racismo estava embutido em atitudes e ideias socialmente dissipadas por camadas e camadas da sociedade. Ou seja, não só como intelectual e estudioso, mas também como homem negro, o professor Muniz Sodré entendeu que tínhamos um problema muito maior a enfrentar.

Em suma – e muito em suma – foi estrutural, talvez numa visão marxista do pensamento, o racismo seria erradicado porque não faria mais parte da “estrutura” do Estado. Basicamente, creio, estivemos diante de visões complementares, talvez polissêmicas ou teóricas, da discussão sobre o racismo. Mas não. Com a divulgação do relatório, muitos enlouqueceram com os argumentos que iam contra o pensamento de Silvio Almeida. Poderíamos apostar que muitos dos críticos não leram Almeida nem Sodré. Mas Almeida já havia sido elevado à posição sacrossanta de teórico de um tema que havia sido popularizado, divulgado e, claro, politizado nas redes sociais. Não dava mais para criticar Silvio Almeida. Já não eram os pensamentos e ideias que defendia, mas a politização exacerbada da sua figura que não permitia dizer mais nada porque Almeida e as suas ideias já estavam cristalizadas.

Corta para 6 de setembro. Denúncias e declarações contra Almeida inundaram as telas e sua figura escorreu pelo ralo como água que vai sem saber onde iria parar. Poderia, diante de tudo o que vimos e ouvimos, inclusive os relatos ouvidos off the record pela coluna de Matheus Leitão, de ex-alunos do ex-ministro quando ele lecionava em uma faculdade em São Paulo. Um dia triste na história, em grande parte porque o tema dos Direitos Humanos, pasta até então detida por Silvio de Almeida, tem sido ao longo do tempo um tema difícil de abordar socialmente.

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A lista seria longa para falar de divinizações que são elevadas a um Olimpo imaginário, em grande parte porque são colocadas numa categoria política que não pode ser alterada. Da esquerda para a direita, na política ou no mundo cultural, arrisque-se a criticar e poderá acabar na lista dos eternos cancelamentos. Seja Lula ou Davi do BBB, Marçal ou Boulos. Tudo parece coberto por um manto sagrado que não pode ser tocado. Nada mais se trata de ideias, mas sim do espectro de que tudo é político e se você ousa tocar no assunto está jogando nas mãos do adversário. E, sim, do adversário, porque esse outro lado, sabe-se lá o que isso significa, passou a ser o lado do inimigo.

Uma pena porque o debate está empobrecido. É uma pena porque ao não possibilitar a discussão de determinados temas e pessoas, deixamos de colocar em evidência o que ou quem poderia ser escrutinado. E isso foi perdido, realmente perdido.

* Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutor em Ciência Política (UFPR-PR). Estudou História (PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem). Contribua para esta coluna semanalmente



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