Pesquisa: é preciso fortalecer políticas de inclus…

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Dados sobre raça em Itamaraty são difusos, embora as estimativas dos últimos anos mostrem um crescimento significativo. Se em 2002 havia entre 1 e 2% de negros ingressando na carreira diplomática; hoje, o percentual é estimado entre 11 e 15% (os dados são baseados no portal Sou Gov, do Governo Federal). Embora haja crescimento, os números estão bastante distantes quando comparados aos dados populacionais do último censo. Mais de 55% são autodeclarados negros e pardos no Brasil, de acordo com o último censo de 2022.

Os números fazem parte de uma pesquisa encomendada pela Associação e Sindicato dos Diplomatas Brasileiros, ADB, liderada pelas pesquisadoras Karla Gobo e Fabia Berlatto, que conversaram com a coluna para esclarecer os resultados do trabalho. Apontam para o elitismo histórico da competição, cujo conteúdo, por exemplo, exige o domínio de uma língua estrangeira e conhecimentos gerais muito específicos, o que implica, na maioria dos casos, uma socialização que vem desde a infância.

O objetivo principal da pesquisa foi fazer um retrato da diplomacia brasileira e apontar as principais desigualdades, com o objetivo de desmistificar a carreira, diz Berlatto. Foram realizados inquéritos – questionários robustos, de forma a obter uma grande quantidade de informação. Alguns dados merecem atenção.

Para entender o quão significativa é a influência da educação familiar na carreira dos diplomatas, os pesquisadores classificaram a ocupação dos pais e das mães em baixa, média e alta. Berlatto e Gobo destacam que um ponto importante na ascensão social é a carreira das mães de diplomatas negros, que possuem maior escolaridade que as mães de diplomatas brancos, além de ocuparem cargos e salários com maior nível de qualificação e renda – corroborando uma tese em ciências sociais de que as mulheres com ensino superior são importantes para que os seus filhos possam fazer esta transição social. Os pais dos diplomatas brancos, no entanto, têm ensino superior em comparação com os dos diplomatas negros.

Dentre os dados, é possível observar que os negros que ingressam na carreira são, em sua maioria, oriundos de uma elite cultural e econômica. Muitos deles tiveram acesso ao ensino em instituições privadas, o que reforça a necessidade de ampliar o acesso dos alunos das escolas públicas a programas como o Bolsa-Prêmio Vocação. A iniciativa existe desde 2002 e faz parte do programa de ações afirmativas do Itamaraty. Entre 2002 e 2020, foram 18.406 inscritos no programa e 740 foram incluídos, dos quais 46 ingressaram na carreira (32 homens e 14 mulheres), um número pequeno para vinte anos de iniciativa. Quanto à reserva de cotas em vagas de diplomacia, de 2011 a 2015, 10% das vagas foram aplicadas na primeira fase do concurso. De 2015 a 2020, foi ampliado para as três fases do concurso com 20% das vagas destinadas aos cotistas.

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Um fato destacado por Gobo e Berlatto é a mentoria de Mônica de Menezes – em homenagem à primeira mulher negra a ingressar na diplomacia brasileira por meio de concurso. O trabalho de mentoria é organizado por diplomatas – portanto, não é uma medida institucional – e foi idealizado pela diplomata Rafaela Seixas, mulher e negra que ingressa no Itamaraty com ajuda do programa Bolsa-prêmio Vocação. O trabalho é voluntário e realizado por diplomatas que se dispõem a preparar candidatos negros para ingressar na carreira diplomática.

O estudo também examinou as disparidades regionais, mostrando que no Itamaraty predominam diplomatas do Sudeste, enquanto a representação de outras regiões, como Norte e Nordeste, ainda é baixa. Isso demonstra a importância de, além de focar nas questões raciais, considerar também a diversidade regional, para promover uma diplomacia mais inclusiva e representativa da pluralidade brasileira.

Os pesquisadores prestam atenção às iniciativas de ações afirmativas em outros países, que tendem a democratizar a carreira nos últimos anos. Eles ressaltam que a questão racial não é uma questão prioritária para todos os países, claro, mas uma demanda daqueles que têm em sua história a questão das pessoas escravizadas.

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Existem, no entanto, países onde a questão indígena é mais predominante. Um ponto abordado na pesquisa e universalmente reivindicado por diplomatas de todo o mundo é a questão de gênero, objeto do trabalho desenvolvido pelos pesquisadores do ADB Sindical. Os autores sugeriram que o fortalecimento dos programas de inclusão deveria ser uma prioridade nas políticas públicas para a inclusão de pessoas negras nas carreiras.

O resultado do trabalho será apresentado por meio de um artigo reflexivo sobre o perfil socioeconômico dos diplomatas negros no Brasil, no dia 27 de novembro, no evento ERIS Young Scholars Online Conference, organizado pela universidade francesa Sciences Po.

*Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutor em Ciência Política (UFPR-PR). Estudou História (PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É vice-editor do Journal of Sociology and Politics. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação Democrática e Legitimidade (INCT-ReDem). Contribua semanalmente para esta coluna



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