BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (19/12) o texto-base da PEC (proposta de emenda à Constituição) que faz parte do pacote de contenção de custos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nó primeiro turno de votaçãoo placar foi de 344 a 154, ampla margem em relação ao mínimo de 308 votos necessários para uma emenda constitucional. No segundo turno, a vantagem ficou ainda maior: 348 a 146.
A proposta segue agora para o Senado Federal, que marcou sessão para esta quinta-feira para apreciar as medidas do pacote. Se aprovado, o texto é promulgado pelo Congresso Nacional (as emendas constitucionais não estão sujeitas a sanção ou veto do Presidente da República).
A aprovação ocorreu após momentos de preocupação de aliados do governo. Na manhã desta quinta-feira, os líderes reconheceram que ainda não havia votos necessários para aprovação. Momentos antes de o resultado ser anunciado, os líderes partidários ainda admitiam o receio de que o quórum não fosse alcançado.
Durante o processo de votação, foi possível ver o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), diretamente da Mesa Diretora fazendo ligações – indício de que houve uma operação para tentar garantir os votos necessários. Os comandos de bancada também entraram em campo para mobilizar os seus líderes. O governo ativou a sua tropa de ministros para reforçar a coordenação.
Desde quarta-feira (18/12) havia temor entre líderes governistas e até mesmo de centro de que o Executivo não teria o apoio necessário para garantir a aprovação da PEC do pacote. A votação teve que ser adiada devido ao risco de derrota.
Diante desse cenário, Lira publicou nesta quinta-feira um ato da Mesa Diretora para permitir que deputados que estivessem fora de Brasília votassem remotamente e alertou que quem não votasse teria desconto no salário (o chamado “efeito administrativo” ).
O Palácio do Planalto também negociou com o Congresso Nacional a liberação de emendas extras para serem distribuídas, em 2025, aos deputados e senadores que votarem a favor do pacote.
No início da tarde, Lira se reuniu rapidamente com lideranças partidárias para saber quantos votos cada grupo conseguiria entregar. Segundo um participante do encontro, mesmo em clima de insegurança, os dirigentes prometeram entregar os votos necessários e mobilizar suas bancadas.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse, logo após a votação, que o cenário desafiador foi convertido em um placar frouxo com “foco na articulação política” e na ação governamental. “O que vimos hoje foi isso, uma ligação mais firme e objetiva com os dirigentes”, disse.
O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), favorito para suceder Lira no comando da Câmara a partir de fevereiro de 2025, disse que não houve erro de articulação política. “Acho que precisava haver um trabalho mais próximo do governo e dos líderes, para que os deputados entendessem a importância de votar o pacote a tempo de ainda poderem tomar uma decisão antes do recesso”, afirmou.
“A agenda económica é uma prioridade, sobretudo tendo em conta a situação que vimos evoluir esta semana”, afirmou. A cotação do dólar subiu nos últimos dias e chegou a R$ 6,30 no pregão desta quinta-feira.
Desidratação de medidas
Apesar do andamento da proposta, a Câmara deu luz verde a um texto desidratado. O governo Lula sofreu um revés na tentativa de impor um comando mais forte para eliminar brechas que permitem supersalários na administração pública.
A PEC enviada pelo governo previa uma lei complementar para tratar de recursos que poderiam ficar fora do teto salarial, atualmente em R$ 44 mil mensais na esfera federal.
O relator do texto na Câmara, deputado Moisés Rodrigues (União Brasil-CE), enfraqueceu o dispositivo. Ele previu que a regulamentação será realizada por lei ordinária – o que exige um quórum menor e pode ser um alvo fácil para flexibilidade. O instrumento também pode ser contornado por resoluções do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que têm status de lei ordinária.
No diagnóstico preliminar do Executivo, o texto mantém as brechas utilizadas atualmente para aumentar salários com babados, especialmente no Judiciário.
Há também um artigo para criar uma disposição transitória. Até a promulgação da lei ordinária, as “parcelas de remuneração previstas na legislação” não serão incluídas no teto remuneratório. Na opinião de um membro do Governo, isto significa que, até a lei ser aprovada, “tudo permanece como está”.
Desde o envio da PEC, membros do Judiciário lançaram uma ofensiva no Congresso para enfraquecer as medidas. Eles pressionaram por uma norma transitória e pela flexibilização do texto para lei ordinária, justamente o que foi incorporado ao texto.
A PEC aprovada também altera os critérios de concessão do abono salarial (espécie de 14º salário pago aos trabalhadores com carteira assinada). O texto prevê que, para os trabalhadores que receberão o benefício em 2025, terão direito aqueles que receberam o equivalente a dois salários mínimos no ano base (no caso, 2023). O valor equivalente seria de R$ 2.640.
A partir de 2026, esse valor será corrigido pela inflação, até atingir patamar equivalente a 1,5 salário mínimo. A expectativa do governo é que isso ocorra após uma transição de dez anos. O governo projeta uma economia tímida no próximo ano, de apenas R$ 0,1 bilhão, mas o impacto acumulado até 2030 chegaria a R$ 18,1 bilhões.
O texto também permite que parte do complemento da União ao Fundeb (Fundo Nacional da Educação Básica) seja utilizado em ações de criação e manutenção de matrículas em tempo integral na educação básica. O alcance da medida, no entanto, foi reduzido.
O governo propôs uma parcela de 20%, o que renderia uma economia de R$ 10,3 bilhões entre 2025 e 2026, e de R$ 42,3 bilhões até 2030. O parecer reduz esse percentual para 10% e cita apenas o ano de 2025. Destaque apresentado pelo PSOL- A Rede Federação tentou suprimir este trecho, mas foi derrotada.
Pelo texto, a partir de 2026, pelo menos 4% de todo o Fundeb seriam destinados pelos estados e municípios para criar matrículas em tempo integral na educação básica. Antes da divulgação do texto, o relator disse nesta quarta que a mudança preservaria a expectativa de economia de R$ 10 bilhões entre 2025 e 2026, mas não esclareceu como isso aconteceria.
Após votação do texto-base, Lira chegou a um acordo para tentar agilizar as votações restantes. Ele acertou com os parlamentares a aprovação de um destaque do PL que buscava derrubar um artigo que tratava do BPC (Benefício de Prestação Continuada).
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O texto autorizava a dedução da renda familiar considerada nos critérios de acesso ao BPC apenas as parcelas expressamente previstas em lei, numa tentativa de preencher brechas exploradas principalmente em decisões judiciais para facilitar a concessão do benefício. O argumento de Lira para fechar o acordo é que essa mesma medida já consta do projeto de lei ordinário que trata de outras regras do BPC.
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