11/06/2024 – 19:27
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Fabiana Martín, presidente do Parlamento do Mercosul
Parlamentares brasileiros e estrangeiros defenderam nesta quarta-feira (6) a implementação de leis de paridade de gênero para impulsionar o empoderamento político feminino.
Essa foi a principal linha de ação proposta pelos debatedores ao discutirem o tema “Mulheres no Poder: ampliando a representação feminina nos espaços de decisão”. O evento tratou da Carta de Alagoas, que prevê o aumento da participação das mulheres nas decisões políticas, o combate à crise climática e a promoção da igualdade econômica e produtiva.
O documento foi articulado no I Encontro de Mulheres Parlamentares do P20, em julho, em Maceió (AL), e estabelece recomendações que devem ser seguidas pelos Legislativos dos países membros do G20.
Para o Presidente do Parlamento Mercosul (Parlasul), Fabiana Martín, a principal expectativa é que o governo brasileiro, assim como outros países sul-americanos, reconheçam as políticas de empoderamento das mulheres como tema central do grupo, dada a sua importância para a emancipação feminina.
“Temos que desenvolver redes de apoio e solidariedade e visibilidade em reconhecimento ao triunfo de uma mulher ou de outra, ou seja, motivamo-nos destacando o trabalho realizado por estas mulheres que chegaram a estes espaços”, disse.
Ela destacou o resultado da lei de paridade de gênero na Argentina, que atualmente tem 45% dos assentos na Câmara dos Deputados ocupados por mulheres; no Uruguai, com 23% de participação feminina no parlamento; e no Brasil, que alcançou um aumento de 18% na representação na Câmara dos Deputados nas últimas eleições.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Blanca Margarita Ovelar de Duarte, senadora do Paraguai e presidente do ParlAmericas
Na mesma direção de defender as cotas de gênero para ampliar os espaços políticos, falou a presidente do ParlAmericas, Blanca Margarita Ovelar de Duarte. “Eu não seria senadora no meu país, o Paraguai, se não fossem as cotas de gênero e, no meu país, não chegamos nem a 20% de representação, enquanto na América Latina temos 35% de participação feminina nas legislaturas “, disse ela.
“A equidade e o acesso ao poder ainda é uma utopia e deve ser uma utopia dinâmica que nos leve a continuar a lutar, porque ainda temos um longo caminho a percorrer”, sublinhou o responsável da organização internacional que reúne os parlamentos do inter- Sistema americano.
A parlamentar portuguesa Patrícia Faro, por sua vez, disse que a aplicação da lei da paridade em 2019 levou o país a obter um nível de 40% de paridade nos cargos políticos. “Deve haver medidas especiais, mesmo que temporárias, e ações positivas que sirvam para promover a igualdade, e essas medidas não devem ser consideradas atos discriminatórios”, disse.
A presidente do parlamento angolano, Carolina Cerqueira, também defendeu a igualdade. Informou que o parlamento angolano é composto por 87 deputadas, com 39,5% de representação feminina. “É crucial aprovar leis de paridade que introduzam quotas de género em cargos de nomeação política e administrativa, tanto a nível local como na liderança de grandes empresas estatais estratégicas”, afirmou.
“É igualmente essencial estabelecer mecanismos robustos para a implementação destas regras”, acrescentou.
A parlamentar angolana citou as listas de rotação, chamadas listas zebra, que permitem a alternância de género em cargos públicos.
Políticas brasileiras
A Procuradora da Mulher da Câmara dos Deputados, deputada Soraya Santos (PL-RJ), destacou os resultados das políticas de igualdade de gênero nas últimas eleições municipais brasileiras.
“Nas eleições deste ano, embora a percentagem de autarcas eleitos tenha sido baixa, é de salientar que saíram cidades com menor densidade populacional e menores PIB e mudou-se para as grandes cidades, o que demonstra uma mudança qualitativa no eleitorado”, disse.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Soraya Santos, Advogada da Mulher na Câmara dos Deputados
Na mesma linha, a senadora professora Dorinha Seabra (União-TO), defendeu “ações tangíveis” para promover a diversidade no Parlamento. “No Senado, hoje a Câmara não tem nenhuma mulher em sua representação. Esse é o desafio que nós, brasileiros, temos que enfrentar, já que somos mais de 50% da população”, afirmou.
Outras medidas de equidade
No Canadá, as mulheres ocupam 55% dos assentos no Senado e 30,6% na Câmara. Não existem quotas para a representação das mulheres nos partidos políticos e os senadores são nomeados pelo governador-geral por recomendação do primeiro-ministro.
A presidente do Senado do Canadá, Rayonde Gagné, informou que o Congresso canadense adotou uma série de medidas para promover a igualdade de gênero, incluindo licença maternidade de 12 meses e a permissão para deputadas levarem seus filhos ao trabalho.
Mesmo assim, ela reconheceu que é preciso avançar. “Ainda existem obstáculos que podem impedir as mulheres de participar nestes órgãos de decisão, considerando entre outros aspectos a cultura parlamentar e a violência de género contra as mulheres na política”, notou.
Reportagem – Emanuelle Brasil
Montagem – Pierre Triboli
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