Para especialistas, oferecer informações de forma simples é desafio dos portais da administração pública – Notícias

Para especialistas, oferecer informações de forma simples é desafio dos portais da administração pública – Notícias


11/07/2024 – 14h59

Representantes do Tribunal de Contas da União (TCU), da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Câmara dos Deputados acreditam que é preciso oferecer informações de forma mais simples e clara aos cidadãos nos portais públicos.

Segundo o TCU, hoje 98% dos órgãos da administração pública já possuem portal de informações institucionais, mas o índice de transparência das páginas é de 57,92%.

Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Jorge Oliveira: os dados públicos devem estar acessíveis antes mesmo dos cidadãos os solicitarem

O assunto foi discutido nesta quinta-feira (11) no cciclo de debates na Câmara sobre portais de transparência da administração pública. O evento foi promovido pela Secretaria de Transparência da Câmara dos Deputadoso órgão que supervisiona a implementação de Lei de Acesso à Informação (LAI) na Câmara. Desde a publicação da norma em 2011, já foram mais de 486 mil atendimentos.

Secretário de Transparência da Câmara, deputado Bruno Ganem (Pode-SP) destacou que, quando os cidadãos passam a usar os portais de transparência, é garantido que os recursos públicos serão melhor utilizados. O parlamentar acrescentou que, por meio dessa ferramenta, é possível verificar se as escolhas dos gestores estão alinhadas aos interesses da sociedade.

O ministro do Tribunal de Contas da União Jorge Oliveira destacou que a população deve ter fácil acesso à informação pública. “É importante que a informação seja clara e simples para que os cidadãos possam compreender, opinar e responsabilizar a administração, em todas as esferas, para que execute da melhor forma as políticas públicas”, afirmou.

Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Bruno Ganem: portais de transparência permitem melhor gestão do dinheiro público

Segundo Jorge Oliveira, o O diagnóstico de transparência melhorou significativamente ao longo dos anos, e o TCU e outros tribunais de contas no Brasil têm sido grandes impulsionadores dessa política, auxiliando gestores e ministrando treinamentos. Segundo o ministro, diversas decisões judiciais determinam que órgãos da administração transmitam informações de interesse público nos portais. “Temos que ter transparência ativa, ou seja, os dados públicos devem estar acessíveis antes do cidadão os solicitar”, sublinhou.

A transparência passiva, por sua vez, seria tudo o que o cidadão teria a solicitar via LAI. Portanto, quanto menos solicitações de acesso à informação, melhor, pois isso significa que o portal é eficaz.

Nota de transparência
TCU participa de programa nacional de transparência pública, que diagnostica portais institucionais de todos os poderesnos níveis federal, estadual e municipal. Dados da última pesquisa do programa, do ano passado, mostram que o índice de transparência dos portais públicos brasileiros é de 57,92%.

Auditor de Controle Externo do TCU, Klauss de Oliveira avalia que o índice é baixo. “É uma nota de 5,8, portanto abaixo da média, que é 7. O número cai um pouco por causa dos municípios, a maioria das entidades analisadas são municipais, tanto o Executivo quanto as assembleias municipais”, disse, acrescentando que as notas maiores são do governo federal.

Segundo o auditor, mais de 98% das entidades analisadas já possuem portal com informações, dando concretude à Lei de Acesso à Informação. No entanto, embora a informação esteja disponível, é necessário fazer progressos para que a informação seja clara e completa. “Isso significa que ainda há muito trabalho a ser feito.”

Área de orçamento
Coordenador de Frente Parlamentar de Fiscalização, Integridade e Transparência, a deputada Adriana Ventura (Novo-SP) acredita que os principais desafios de transparência estão na área orçamentária. Ela cita como exemplo a destinação de emendas orçamentárias às comissões da Câmara.

Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Adriana Ventura exigiu mais transparência nos dados orçamentais

“Há bilhões e bilhões de reais que estão atualmente em comissões desta Câmara que não sabemos quem indicou, como saiu o dinheiro, por que foi para a cidade A, e não para a cidade B. Não há absolutamente nenhum critério técnico, não, não há indicação, isso não está em nenhum portal”, afirmou. “Só na Comissão de Saúde tivemos R$ 6 bilhões (quase todos empenhado) e não sabemos para onde foi”, acrescentou.

Foco da câmera
Analista legislativo na Coordenação de Relacionamento, Inteligência e Participação da Câmara (Corip), Patrícia Roedel informou que o portal da Câmara tem 44 milhões de acessos por ano, mas grande parte desses acessos é na área de notícias, enquetes e transmissões ao vivo, e não na área de gastos, e isso é levado em consideração conta ao alocar recursos.

“Não se vai investir recursos humanos e financeiros em transparência ativa para algo que é pouco exigido. Estamos trabalhando para melhorar a usabilidade e o gerenciamento dessas peças tão demandadas”, comentou.

A Câmara dos Deputados e o Senado desenvolveram um índice para medir a transparência dos portais legislativos em termos de informações sobre a atividade legislativa, atividade administrativa, atendimento ao cliente e usabilidade. Em todas as categorias foi analisado se a linguagem estava clara. Ao desenvolver esse índice, constatou-se que 74% dos acessos ao portal da Câmara são feitos via celular, sendo necessário adequar as informações para isso.

Para Patrícia Roedel, os gestores devem definir programas para a adoção de uma linguagem simples, mas o maior desafio para que isso ocorra é cultural.

Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Otávio Neves: é preciso tornar a informação útil ao cidadão

Presidente da União dos Legisladores e dos Legislativos Estaduais, o deputado estadual Sérgio Aguiar citou dados da organização Transparência Brasil, segundo os quais apenas quatro assembleias legislativas (e assembleias similares) possuem bons portais de transparência – o do Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais e Ceará, de um total de 27.

Informação útil
Diretor de Transparência da CGU, Otávio Neves disse que a informação pública não deve apenas ser publicada, mas também tornada útil ao cidadão. Ele dá um exemplo: “São destinados R$ 600 milhões para vacinação, por exemplo, mas quais são as informações sobre a cobertura vacinal? Quais vacinas estão sendo dadas, quais não estão sendo aplicadas, quais regiões estão sem cobertura?”, questionou. “Precisamos ter acesso a informações além do dinheiro”, ressaltou ela.

Otávio Neves observou que a transparência tem, por outro lado, limites, e as informações ligadas a questões de segurança pública, por exemplo, não podem ser públicas, assim como as informações que tenham sigilo fiscal e telemático. Além disso, os dados pessoais devem ser protegidos.

Relatório – Lara Haje
Montagem – Marcelo Oliveira



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