Otoni de Paula chama Bolsonaro de ‘bezerro de ouro…

Horas depois de participar, no Palácio do Planalto, de cerimônia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado federal Otoni de Paula (MDB) atirou no ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL), chamado por ele de “bezerro de ouro” . Anteriormente aliado precoce do bolsonarismo, o parlamentar também criticou a postura de lideranças evangélicas contra os eleitores do PT, antes de deixar claro: “Não sou nenhuma ponte entre o PT e a igreja, não sou uma ponte entre Lula e a igreja, mas Eu sou ponte de oração”, disse.

A declaração foi dada ao portal evangélico “O Fuxico Gospel”. Na entrevista, Otoni relembrou o embate público com a família Bolsonaro, desencadeado pela decisão de apoiar a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PSD), no lugar do candidato do PL, Alexandre Ramagem, na disputa pela prefeitura do Rio. reclamou de ter sido “esculpido” pelo senador Flávio Bolsonaro (PL), pelo seu partido e por Ramagem.

Otoni afirma que o grupo tirou suas condições de ser candidato no Rio. “Eles me fizeram tropeçar”, diz ele. “Eles queriam que eu estivesse com eles ‘porque Deus está com Bolsonaro e Capeta está com Lula’. Não sou criança nesse nível e não sou retardado mental para pensar que Deus está com Bolsonaro e o Diabo está com Lula, como se Deus e o Diabo não tivessem mais nada a ver com suas vidas”, completou.

Ao tratar da reaproximação com o presidente, o deputado considerou que “não haverá ponte” para estreitar os laços entre o PT e os evangélicos, questão que se revelou um dos principais entraves do partido nas últimas eleições. A ida de Otoni ao evento com Lula marcou até uma virada na trajetória do agora “ex-bolsonarista”. Em cerimônia restrita no Palácio do Planalto, o parlamentar rezou com o presidente e um grupo de fiéis evangélicos, todos vestidos com camisa amarela com os dizeres “Jesus transforma”.

Também estiveram presentes no evento integrantes da Esplanada, como o procurador-geral da União Jorge Messias, um dos interlocutores do governo junto aos evangélicos, e o ministro das Cidades, Jader Filho. A cerimônia marcou a sanção da lei que estabelece o Dia da Música Gospel para 9 de junho, um claro aceno do Planalto a esse segmento da população.

“Não sou ponte entre o PT e a igreja, não sou ponte entre Lula e a igreja, mas sou ponte de oração. Eu vou comprar essa luta. Aonde quer que eu vá, direi: rezem pelo Lula, rezem pelo governo. Não sou daqueles que esperam que o avião caia, só porque não gostam do piloto. Estou no avião”, afirmou Otoni na entrevista, em tom semelhante ao que usou no evento presidencial.

“O crente que não consegue orar a uma autoridade constituída por Deus é aquele que está possuído por demônios. Essa nação não é do Bolsonaro, não é do Lula, do PL ou do PT, mas de Jesus Cristo”, concluiu.

‘Bezerro de ouro’

Anteriormente um dos mais exaltados parlamentares bolsonaristas —Otoni chegou a ter seus perfis em redes sociais suspensos, investigado por incitação à violência contra instituições por ocasião do feriado de 7 de Setembro—, agora volta sua artilharia contra o ex-presidente. Ao falar sobre a relação da comunidade evangélica com Bolsonaro, ele fez uma espécie de autocrítica.

“O próprio governo Lula nunca me convidou para ser ponte e acho que nunca me convidaria. Mas eu gostaria de ser uma ponte. Você sabe para quê? Para tirar esse bezerro de ouro que construímos na igreja. Este bezerro de ouro que construímos. Construímos um culto a um ser humano, que não é Deus, não é divino. Ele é um político. A igreja do Senhor Jesus”, gritou, antes de citar o nome do ex-aliado.

“Um dia eu falei para Bolsonaro: ‘Presidente, vamos para Belém do Pará. A Assembleia de Deus mãe. Quando você chegar lá e as pessoas gritarem ‘mito’, não aceite’. E fui explicar para ele. A igreja tem um problema tão grande, um medo tão grande de compartilhar a glória que pertence ao Senhor Jesus. Eu expliquei para ele. Quando ele entra no templo, os gritos começam. Na rua tudo bem, mas na igreja do Senhor Jesus? E não estou culpando o Bolsonaro, porque ele é ignorante. Ele não é crente, conhece a salvação porque já lhe foi pregada”, acrescentou.

Em seguida, Otoni continuou falando sobre o ex-presidente, que, em suas palavras, “não aceitou Jesus, em todo o tempo que esteve conosco”.

“Quando digo que criamos um bezerro de ouro, criamos adoração. Quando um irmão nosso diz que vai votar no Lula… Alguns irmãos nossos pediram para votar no Lula lá atrás, mas eu nunca pedi, nunca votei. Eu sempre bati neles. E continuo fazendo as mesmas críticas. Agora, quando um dos nossos irmãos diz que vai votar no Lula, e a gente sobe no altar e fala: ‘Meu irmão, vê o que você quer, se você votar no Lula, a porta da igreja está aberta para você sair’ . É isso, irmão”, disse ele.