Equilibrando-se em um governo que reúne apoiadores de diversas vertentes políticas, do União Brasil ao PSOL, o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio Geraldo Alckmin, ex-tucano e hoje no PSB, é uma voz moderada em Brasília.
Figura afável, de estilo rural – ele é de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, em São Paulo –, e conhecido como bom contador de histórias, Alckmin foi adversário do PT em seis eleições presidenciais e adversário direto de Lula em 2006. Hoje é admirado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e elogiado por seus aliados petistas.
Nos últimos meses, Alckmin tem recebido prefeitos e deputados nos finais de semana em seu gabinete em Brasília ou em outro lugar que adora frequentar: a padaria.
Na capital federal, seu preferido é o Hiper Pão, da Asa Sul. Em São Paulo, ele vai à padaria Vila Colmeia, no Morumbi, perto de sua casa, na zona sul de São Paulo. Outro local onde o vice também se reúne com políticos quando está na cidade é a sede do PSB, no Jardim Paulista.
O movimento tem levado políticos que conhecem Alckmin há muito tempo a especular que ele está em campanha para o Senado ou, quem sabe, tentando reconquistar o cargo de governador de São Paulo.
Há uma possível explicação para o intenso movimento: o vice-campeonato de Alckmin na chapa governista (nem se sabe neste momento se o presidente Lula será candidato à reeleição) não está garantido, pois também é cobiçado por outros partidos, como o MDB e o PSD. Alckmin, portanto, estaria buscando assegurar seu futuro político.
Mesmo que o cenário não esteja claro até o momento, Alckmin utiliza métodos políticos tradicionais para se reaproximar de representantes de suas bases, principalmente do interior de São Paulo, onde sempre teve muitos votos.
Caso opte por tentar novamente ser governador de São Paulo, desta vez poderá contar com o apoio do PT e de outros partidos historicamente aliados ao PT – algo inédito em sua trajetória política no estado.
Selfie com membros do PT
Além das reuniões e dos cafés nas padarias, Alckmin também foi a campo na campanha eleitoral deste ano. Na capital paulista, apoiou primeiro a candidata do seu partido, Tabata Amaral, que ficou em quarto lugar no primeiro turno. Depois, abraçou a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL), derrotado no segundo turno por Ricardo Nunes (MDB).
Antes da eleição, ele havia tentado convencer o apresentador José Luiz Datena, que disputou a eleição pelo PSDB e teve má votação, a ser vice de Tabata. Mas ele não teve sucesso.
Durante a campanha, Alckmin foi constantemente solicitado a gravar vídeos e posar para fotos ao lado de candidatos a prefeito e vereador do seu partido e até de outros partidos, de São Paulo e de outras partes do país. Em eventos, ele também é frequentemente parado por ativistas de esquerda para tirar selfies e vídeos de todos os tipos.
De adversário a aliado fiel
Alckmin foi visto com desconfiança pela comitiva de Lula quando o ex-vereador paulista Gabriel Chalita (PSB) e o atual ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) começaram a cogitar seu nome para ser o vice de Lula, por sugestão do marqueteiro Felipe Soutello. Não demorou muito para que a aliança até então incomum surgisse.
Eleito vice-presidente e elevado ao cargo de ministro, hoje Alckmin é visto até por alguns dos mais ferrenhos ativistas de esquerda dentro do PT como um fiel aliado de Lula. Durante a transição para o atual governo, seu trabalho foi muito elogiado.
De São Paulo, Alckmin trouxe alguns auxiliares e aliados a Brasília para acompanhá-lo. No ministério, seu secretário-executivo é o ex-procurador-geral de São Paulo Marcio Elias Rosa. Para chefiar o departamento trouxe o jovem Pedro Henrique Guerra, de 35 anos, formado em Direito.
O vice-presidente e o ministro ocupam outros cargos no governo. Por exemplo, ele nomeou dois aliados que trabalharam ao seu lado no PSDB para a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), órgão vinculado ao Ministério da Indústria e Comércio: os ex-deputados federais Silvio Torres e Floriano Pesaro. Pesaro é diretor de gestão corporativa e Torres é assessor da presidência da organização.
Na vice-presidência da República, Alckmin conta com a ajuda de um fiel escudeiro, o advogado Orlando Baptista Neto, que foi seu secretário.
Reposicionamento de imagem
Na rotina de um político que atua de olho nas pesquisas, além de reuniões frequentes com aliados regionais e reuniões rotineiras na padaria, ele também conta com a ajuda da esposa, Lu Alckmin, que também tem recebido representantes de entidades e participou de eventos sociais.
Em outra frente, a digital, ele busca se reposicionar e superar a fama de político insípido que lhe rendeu o apelido de “picolé de chuchu”: seu perfil no Instagram hoje está cheio de memes e outras piadas.
Quando questionado sobre seu futuro, Alckmin costuma responder que existem dois tipos de pessoas ansiosas: jornalistas e políticos. E ele diz que está focado no trabalho.
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