Até poucos anos atrás não havia direita no Brasil. Havia esquerda, centro-esquerda e centro. E é isso.
A ditadura militar contaminou a palavra “direita”, o que fez com que políticos notoriamente de direita, como Maluf, Antônio Carlos Magalhães ou Ronaldo Caiado, se declarassem centristas. O grupo de políticos de direita mais famoso até hoje é conhecido como… Centrão.
Bolsonaro ganhou reconhecimento e chegou ao poder assumindo-se como de direita. Uma direita extrema e agressiva, que professava nostalgia da ditadura e homenageava o torturador. Políticos de direita que antes tinham vergonha de se declararem como tal aderiram sem qualquer escrúpulo.
Pode-se dizer – talvez com algum cinismo – que antes e acima da ideologia vem o voto: políticos sem votos não existem por definição. E é por isso que políticos convencionais de direita, como Ronaldo Caiado, Ratinho Jr., Ricardo Nunes e Tarcísio de Freitas, que sempre jogaram dentro das regras democráticas, viram-se “forçados” a juntar-se a Bolsonaro. Mas, no fundo, não são contra a democracia.
Vamos.
Mas ser considerado um extremista é uma coisa, patrocinar um plano concreto para assassinar os seus oponentes é outra bem diferente.
Ficar perto de Bolsonaro de repente ficou muito, muito mais caro. Para a direita que quer ser vista como civilizada, este é o momento de desembarcar da canoa de Bolsonaro. Que está vazando e tornando a água cada vez mais rápida.
Ronaldo Caiado, que já estava rompido com Bolsonaro, está na posição mais confortável, disse apenas que “aguarda o fim do julgamento”. Ratinho Jr., Ricardo Nunes e o estreante Romeu Zema ficam calados —o que é o melhor que podem fazer.
Apenas Tarcísio de Freitas se pronunciou —e o fez para defender enfaticamente Bolsonaro:
“Há uma narrativa generalizada contra o presidente Jair Bolsonaro que carece de provas. Você tem que ser muito responsável com acusações graves como essa. O presidente respeitou os resultados eleitorais e a posse decorreu em plena normalidade e respeito pela democracia. Que a investigação em curso seja realizada a fim de trazer à luz a veracidade dos fatos.”
Ora, Tarcísio não nasceu ontem. Ele sabe que não é pura narrativa, que não faltam provas, que não há irresponsabilidade, que Bolsonaro tentou fraudar a eleição e só não deu golpe porque faltou o apoio das Forças Armadas. Esta é a verdade dos fatos.
A declaração equivocada (e lamentável) de Tarcísio voltará para assombrá-lo. E isso custará caro.
(Por Ricardo Rangel em 25/11/2024)
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