Na manhã deste sábado (1/11), um grupo de manifestantes foi à Praça da Liberdade, Centro-Sul de Belo Horizonte, para participar do ato “Ainda estamos aqui”, em memória dos mortos e desaparecidos após ação do Estado durante a ditadura militar brasileira. O movimento recebeu mensagens de solidariedade às famílias que perderam entes queridos, mas a repercussão também incluiu críticos, entre eles o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).
Em publicação feita por Estado de Minas No Instagram, o parlamentar Bolsonaro escreveu “Bando de atoa (sic)” nos comentários de um vídeo que retratava manifestantes caminhando pela avenida central da praça em um tapete vermelho enquanto carregavam imagens de pessoas vitimadas durante o período ditatorial entre 1964 e 1985.
O comentário do deputado é o que mais recebeu respostas na publicação, quase todas críticas à afirmação do parlamentar. A maioria das interações refuta Nikolas com base no princípio de que ele ocupa uma posição pública. Mensagens como: “à toa você é quem chupa a teta do estado e só sabe fazer bravata!”; “Não creio que nenhum destes tenha sido criado à custa do dízimo”; “a única pessoa que não recebe nada é você e ainda é pago pelo Estado brasileiro”; e “as pessoas que contam com o Estado para se mimarem em comentários numa página de jornal estão muito ocupadas”, fazem parte das reações.
O nome do ato é uma referência ao filme “Ainda estou aqui”, lançado no final do ano passado e baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. A obra conta a história da mãe da autora e tem como foco a reação de Eunice Paiva diante da prisão arbitrária e posterior desaparecimento do marido, o ex-deputado federal Rubens Paiva.
Eunice Paiva foi interpretada nos cinemas pela atriz Fernanda Torres. A atuação da brasileira no filme lhe rendeu reconhecimento internacional e lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Dramático no último domingo.
O evento na Praça da Liberdade foi convocado pelo Coletivo Alvorada e pelo Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro Minas). Segundo os organizadores, o objetivo era homenagear Fernanda Torres, Eunice Paiva e todos aqueles que sofreram com as mazelas do período ditatorial brasileiro.
Rubens Paiva, assim como outros parlamentares da época, teve seu mandato cassado pelos generais da ditadura. Uma vez fora dos corredores do poder, foi preso em 1971 e nunca mais regressou. Sua família nunca enterrou o corpo, situação que compartilham com centenas de outras casas em todo o país.
Segundo a Comissão Nacional da Verdade, a ditadura militar fez 434 vítimas, entre políticos mortos e desaparecidos. O número não inclui outras vítimas da violência sistemática do Estado, cujas práticas levaram à morte cerca de oito mil indígenas num período de pouco mais de duas décadas.
A reação de Nikolas Ferreira se junta ao coro de outros nomes da direita brasileira que reagiram de forma crítica ao sucesso do filme. Jair Bolsonaro (PL), principal líder do setor, entrou na internet para atacar a obra.
O ex-presidente, assim como seus seguidores, coleciona frases endossando a ditadura militar brasileira, incluindo seus líderes mais identificados com a linha dura do regime e a tortura praticada contra opositores. Durante sua gestão como deputado federal, o então parlamentar exibiu um cartaz na porta de seu gabinete com a inscrição “quem procura ossos é cachorro”, em ironia aos movimentos que lutavam pelo direito de enterrar familiares desaparecidos durante o mandato de deputado federal. regime.
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